Vai pra Cuba que eu também vou

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Foto: Alexandre Meneghini/Reuters

Reportagem da Folha sobre Cuba diz no título os problemas que a ilha comunista enfrenta com queda no turismo. Só lendo a matéria você fica sabendo que a excelência da medicina cubana domou a pandemia e só permitiu uns poucos casos de contágio. Com menos de cem mortes. Vai pra Cuba!

A boa infraestrutura médica de Cuba e as rápidas medidas tomadas pelo regime ditatorial têm sido apontadas como as razões para a redução do número de casos de coronavírus. Segundo as contas oficiais, o índice de novos diagnósticos por dia caiu de 40 em abril para 20.

Nesta semana, o governo anunciou novas regras para reduzir a contaminação: quarentena total em áreas muito movimentadas, como o centro histórico de Havana, e visitas médicas domiciliares nos lugares considerados focos de contágio.

Há ainda uma proposta de realizar testes em massa, com material fabricado na própria ilha.

“Cuba está realizando um trabalho muito bom, tem um sistema de saúde bem equipado, faz excelente propaganda de esclarecimento para que as pessoas fiquem em casa, e o fechamento da fronteira foi bem-sucedido, facilitado pelo fato de se tratar de uma ilha”, diz o representante da OMS (Organização Mundial da Saúde) em Cuba, o peruano José Moya.

Até a tarde de sexta-feira (15), o país registrava 1.830 casos e 79 mortes, segundo dados da universidade americana Johns Hopkins.

A eficiência na contenção da pandemia, porém, vem provocando a agudização de dois problemas cubanos: a redução do turismo e o desabastecimento.

A indústria do turismo já vinha em queda por conta da desaceleração econômica internacional e da competição com outros destinos no Caribe. Mas a quarentena fechou completamente aeroportos, hotéis e restaurantes em 11 de março, sem perspectiva de reabertura.

Isso significará a perda de uma receita importante, já que o turismo corresponde a 2,6% do PIB nacional (segundo números de 2018 do Banco Mundial) —mas esse índice chega a cerca de 10% considerando os efeitos indiretos.

Em 2019, essa indústria levou a Cuba 5 milhões de turistas e US$ 3 bilhões (R$ 17 bi), de acordo com os dados oficiais. Agora, cidades turísticas, como Varadero, estão praticamente vazias —todos os 52 hotéis locais estão de portas fechadas.

O problema do desabastecimento, que já existia devido ao embargo adotado pelos EUA em 1960, está agravado durante a pandemia porque Cuba não consegue receber produtos de nenhum país.

“Os problemas de Cuba na pandemia são os mesmos de antes da pandemia, só que agora mais graves”, diz à Folha o escritor Leonardo Padura, que está em quarentena em sua casa no bairro de Mantilla, em Havana.

“As pessoas estão muito preocupadas, principalmente as dos bairros mais humildes, que vivem na informalidade e, de repente, não têm mais receita, e, quando têm, não conseguem comprar o que precisam.”

Os mercados funcionam apenas no período da manhã, o que vem provocando grandes filas —que estão sendo organizadas pelo Exército.

As Forças Armadas também têm realizado intervenções quando há resistência de cubanos a serem levados aos hospitais e centros de saúde para quarentena obrigatória.

O regime decidiu isolar por duas semanas todos os considerados no grupos de risco, os que viajaram recentemente ou convivem com alguém que esteve em outro país, os idosos e os contatos de quem teve a Covid-19 diagnosticada.

Os turistas estrangeiros que estavam na ilha também foram colocados em quarentena.

Para o representante da OMS, a política de internações rigorosa e a testagem da população de risco foram eficientes. “Esse trabalho de prevenção não é possível em países com grande população. Mas aqui dá, porque os centros de saúde têm recursos para isso e não estão colapsados.”

Além da quarentena, mais ou menos rigorosa dependendo da região, o regime cubano também obriga o uso de máscaras.

Em Santiago de Cuba, há toque de recolher. Comércio e indústria foram fechados, e não há sistema de transporte público. Só é possível ir de um lugar a outro com veículo próprio, e há vigilância policial nas estradas —é preciso provar a necessidade de deslocamento.

O chefe de epidemiologia do Ministério de Saúde Pública, Francisco Durán, diz que a adoção da política de testes em massa visa “encontrar fácil os novos casos, estabelecer um sistema de rastreamento, necessário quando muitos contaminados não apresentam os sintomas da doença, como é característico no caso do coronavírus”.

Em um pronunciamento na semana passada, o ministro de Economia e Planificação, Alejandro Gil, tentou acalmar a população, pedindo um esforço extra para que a pandemia seja logo vencida. “Estamos trabalhando para entregar um plano de reabertura econômica do país”, disse ele, que não explicou como e quando isso vai acontecer.

Os esforços da ilha no combate à pandemia também foram exportados, como parte do aparato de propaganda do regime ditatorial: há 700 médicos e enfermeiros cubanos atuando em 61 países, segundo a chancelaria do país.

Depois de atuarem na Lombardia, epicentro do coronavírus na Itália, os profissionais cubanos foram chamados por outros mandatários, como o presidente francês, Emmanuel Macron, que requisitou reforço para atender a emergência na Guiana Francesa e nas ilhas de Martinica e Guadalupe.

“Uma coisa de que me orgulho em meu país são os médicos, que se dedicam, são bem preparados e não temem ir para a linha de frente. É certo que o governo os usa para fazer propaganda. Mas é um oportunismo que rende bons frutos”, diz Padura.

O escritor afirma que a presença dos médicos cubanos em outros países só vira um problema “quando as pessoas interpretam de modo ideológico, como ocorreu no Brasil durante o governo de Dilma Rousseff, onde se descontou sobre eles a rejeição dos antipetistas, e no de Bolsonaro, que os expulsou”.

O Mais Médicos foi criado em 2013, por meio de um convênio com a Organização Pan-Americana de Saúde, ligada à OMS, e trouxe cubanos para suprir a falta de interessados em vagas no interior do país. Entre brasileiros e cubanos, o programa chegou a preencher mais de 18 mil postos em 2016.

O programa foi criticado pelo presidente Jair Bolsonaro e substituído pelo Médicos pelo Brasil.

Folha