Weintraub cria incidente diplomático com Israel

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Foto: Reprodução/Migalhas

O cônsul geral de Israel em São Paulo, Alon Lavi, repudiou as comparações feitas pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, entre as operações da Polícia Federal no inquérito das fake news e a Noite dos Cristais. A comparação foi feita por Weintraub em uma postagem nas redes sociais nesta quarta-feira, 27.

“O Holocausto, a maior tragédia da história moderna, onde 6 milhões de judeus, homens, mulheres, idosos e crianças foram sistematicamente assassinados pela barbárie nazista, é sem precedentes. Esse episódio jamais poderá ser comparado com qualquer realidade politica no mundo”, escreveu Lavi.

 

Além da mensagem, o cônsul ainda compartilhou publicações do Museu do Holocausto de Curitiba. Em uma série de tuítes, a instituição compartilhou materiais sobre o fato histórico ao qual se referiu o ministro. As publicações foram acompanhadas por uma arte com os dizeres “Não é apenas uma nota de repúdio”.

“Num contexto atual, em que o triste episódio da “Noite dos Cristais” tem sido utilizado como analogia inoportuna a operações realizadas por instituições democráticas autônomas, o Museu do Holocausto de Curitiba opta não apenas por repudiar, mas contribuir com o crescimento da nossa sociedade por meio do conhecimento histórico. Na total impossibilidade de dialogar com figuras e entidades que diariamente se recusam a compreender a essência do nazismo e insistem em utilizá-lo como recurso retórico para atacar seu espectro político “rival”, apresentamos conteúdos básicos em língua portuguesa, de fácil leitura e adequados para pessoas com qualquer grau de erudição ou de escolaridade”, escreveu o perfil oficial do museu no Twitter.

 

Entre ontem e hoje, o ministro da Educação fez pelo menos duas publicações em que comparou o cenário político da pandemia – e mais especificamente a operação da PF no inquérito das fake news – com o nazismo. Na quarta-feira, 27, o ministro escreveu que o dia da operação seria lembrado como “a Noite dos Cristais brasileira”.

 

Na manhã desta quinta-feira, 28, Weintraub publicou nas redes sociais uma foto de militares nazistas apontando armas para um grupo de judeus com uma mensagem comparando a cena ao Brasil atual.

“Primeiro, nos trancaram em casa. Depois, brasileiros honestos buscando trabalho foram algemados. Ontem, 29 famílias tiveram seus lares violados! Sob a mira de armas, pais viram suas crianças e mulheres assustadas terem computadores e celulares apreendidos! Qual o próximo passo?”, escreveu o ministro.

 

A Noite dos Cristais é como ficou conhecida a noite de 9 de novembro de 1938, quando sinagogas, lojas e residências judias foram atacadas por nazistas e cidadãos alemães. O episódio é considerado um marco no enrijecimento a perseguição do povo judeu pelo regime nazista.

A mensagem do ministro foi contestada pelo Comitê Judaico Americano, uma das principais organizações da comunidade judaica nos Estados Unidos, que pediu um basta no uso político do Holocausto por autoridades do governo Jair Bolsonaro.

“Chega! O reiterado uso político de termos referentes ao Holocausto por oficiais do governo brasileiro é profundamente ofensivo para a comunidade judaica e insulta as vítimas e os sobreviventes do terror nazista. Isso precisa parar imediatamente”, disse a associação pelo Twitter, em inglês, na quarta-feira.

 

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) também condenou a comparação de inquérito do STF à Noite dos Cristais feita por Weintraub. “Não há comparação possível entre a Noite dos Cristais, perpetrada pelos nazistas em 1938, e as ações decorrentes de decisão judicial no inquérito do STF, que investiga fake news no Brasil. A Noite dos Cristais, realizada por forças paramilitares nazistas e seus simpatizantes, resultou na morte de centenas de judeus inocentes, na destruição de mais de 250 sinagogas, na depredação de milhares de estabelecimentos comerciais judaicos e no encarceramento e deportação a campos de concentração”, disse a Conib.

“As ações do inquérito, por sua vez, se dão dentro do ordenamento jurídico, assegurado o direito de defesa, ao qual as vítimas do nazismo não tinham acesso. A comparação feita pelo ministro Abraham Weintraub é, portanto, totalmente descabida e inoportuna, minimizando de forma inaceitável aqueles terríveis acontecimentos, início da marcha nazista que culminou na morte de 6 milhões de judeus, além de outras minorias”, acrescentou a entidade no texto.

Estadão