Advogado que escondeu Queiroz é íntimo dos Bolsonaro

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Foto: Bruno Santos – 23.jul.2019/Folhapress

Ele fala com o presidente da República, Jair Bolsonaro, até na madrugada de um domingo; frequenta o Palácio da Alvorada nos fins de semana; e costuma receber, em sua casa, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) para conversas que invadem as noites em Brasília.

Apelidado de “anjo” pela família do presidente, o criminalista Frederick Wassef tem pelo menos nove procurações para advogar em nome do clã Bolsonaro. São três de Bolsonaro, três de Flávio e outras três assinadas pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Sua relação com os Bolsonaro extrapola, porém, o campo jurídico. Amigo do presidente há seis anos, Wassef deixa marca de sua influência até na estrutura do governo, já que foi ele quem apresentou o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Fábio Wajngarten, ao então deputado Jair Bolsonaro.

Wassef orgulha-se de ter sido, em sua versão, o primeiro a incentivar a candidatura de Bolsonaro à Presidência. O criminalista, que tomou a iniciativa de se aproximar de Bolsonaro em 2014, declara amor ao presidente —segundo ele, um homem puro, até ingênuo.

Internado para o tratamento de um câncer, o advogado assistiu a um vídeo de Bolsonaro em favor do controle da natalidade e decidiu telefonar para o gabinete do deputado. À secretária insistiu para que fosse atendido. Os dois marcaram um encontro que aconteceria meses depois.

Defensor de porte de armas e admirador do modo de vida norte-americano, Wassef —à época casado com a empresária Cristina Boner— passou a conviver socialmente com o casal Bolsonaro, estreitando laços. De uma das empresas de Boner, Bolsonaro comprou uma Land Rover Freelander por declarados R$ 50 mil, conforme revelado pela revista Veja.

O advogado é, por exemplo, apontado como o responsável pela opção de Bolsonaro pelo Hospital Albert Eistein quando o então candidato foi esfaqueado em atividade de campanha em Juiz de Fora (MG), rejeitando oferta para que fosse transferido para o Hospital Sírio-Libanês.

Foi ele também quem ditou a estratégia jurídica de Flávio, vencendo uma queda de braço com o então presidente do PSL e também advogado Gustavo Bebianno, morto em março de 2020.

De temperamento forte e dedicação inflamada ao presidente e seu filho, Wassef já deixou mensagem dura repreendendo a iniciativa de uma advogada de Flávio e chegou a cercar na rua um renomado colunista.

Recentemente, ficou contrariado ao saber que Flávio jantara com um outro advogado, de quem teria ouvido sugestões para nova abordagem jurídica. Na defesa de Flávio, optou pelo enfrentamento ao sistema fluminense, acusando o Ministério Público de perseguição.

Sob sua orientação, Flávio não prestou depoimentos, apostando no sucesso da defesa em Brasília. Wassef faz críticas ácidas à política no Rio, que é domicílio eleitoral do presidente.

Mesmo com essa personalidade marcante, Wassef é frequentemente escalado como porta-voz do presidente. Por exemplo, para contestar ataques do ex-ministro Sergio Moro.

Foi assim no dia 27 de outubro, um domingo, quando a Folha revelou o áudio em que Fabrício Queiroz afirmava que o Ministério Público teria um “cometa para enterrar na gente”.

A pedido do presidente, que estava nos Emirados Árabes, Wassef deixou sua casa no interior paulista e foi de carro (uma Cherokee recém-saída da concessionária) até São Paulo para dar uma entrevista ao Fantástico, da TV Globo.

Naquela noite, repetiu não existir qualquer contato entre Flávio e Queiroz. “Meu cliente não fala com Fabrício Queiroz há mais de um ano. Nenhuma forma. Nem indireta, nem direta, nem por interposta pessoa. Eles não têm qualquer contato e comunicação entre si”, frisou.

Encerrada a missão, Wassef telefonou para Bolsonaro. Já era segunda-feira em Abu Dhabi. Essa fervorosa devoção rendeu a Wassef o apelido de anjo, justamente o nome da operação que culminou na prisão de Queiroz.

Abordado por jornalistas no aeroporto em Brasília nesta quinta-feira (18), Wassef não quis dar entrevista, disse que falaria depois e que estava atrasado para embarcar para o Rio. Wassef não usava máscara facial, de uso obrigatório no Distrito Federal para o combate ao coronavírus.

Folha De S. Paulo