Autor do impeachment de Dilma diz que nação esta farta de Bolsonaro

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Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo

A crise política brasileira é criada artificialmente pelo atual presidente Jair Bolsonaro (sem partida) e a nação está exausta. Esta é a avaliação do jurista Miguel Reale Jr, ex-ministro do Governo Fernando Henrique Cardoso e um dos autores do pedido de impeachment que culminou na destituição da presidente Dilma Rousseff em 2016 que participou hoje do UOL Debate.

Para Reale Jr, não existe motivos para o alarde feito por Bolsonaro e seus aliados em tom de ameaça. O debate foi conduzido pela colunista do UOL Thais Oyama e teve a presença também do jurista José Eduardo Cardozo,

“O que se vê é uma crise artificial. A nação está exausta, o que gerou reação da sociedade civil organizada. O que importa saber qual é o objetivo final. Não existe confronto entre poderes o que existe é um presidente que cria confronto artificial para justificar eventualmente soluções extraconstitucionais”, avaliou Miguel Reale Jr.

Questionado sobre a suposta intervenção de Jair Bolsonaro na PF (Polícia Federal), que veio à tona após a saída do ex-ministro Sergio Moro e se tornou objeto de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), José Eduardo Cardozo afirmou que o presidente tentou “sequestrar” a instituição.

“O presidente tem praticado atos desatinados. Agora o que nós temos assistido é uma ofensa, uma tentativa de capturar a Polícia Federal fazendo com que ela se transformasse num órgão que atuasse protegendo familiares e amigos, tentando obter informações sigilosas”, disse Cardozo.

O ex-ministro, que também foi advogado-geral da União no governo de Dilma, responsável pela defesa da presidente durante o processo de impeachment, disse que Bolsonaro possui uma “postura autoritária” que ele usa para criar crises institucionais com outros Poderes.

“O presidente não pode atentar contra a liberdade de atuação dos outros Poderes”, enfatizou Cardozo.

Citando as manifestações de cunho antidemocrático que o presidente participa desde o ano passado, o ex-ministro defendeu o impedimento de Bolsonaro com base em supostos crimes de responsabilidade.

“[Bolsonaro] comete crime de responsabilidade quando viola o estado democrático de direito ou quando propõe sua violação”. (José Eduardo Cardozo, jurista e ex-ministro do governo Dilma Rousseff)

Reale Jr. concordou com Cardozo. “Ele não só vai, como discursa dizendo que estava ali porque entendia que o caminho dos apoiadores estava certo. Bolsonaro torna sua essa manifestação, com ataque aos poderes Legislativo e Judiciário.”

Havia faixas pelo fechamento do STF. Portanto, está atuando em afronta grave aos Poderes. Esta seria a acusação mais grave que poderia ser feita como crime de responsabilidade. Além do mais sua conduta ao longo deste ano afronta o decoro, a compostura” (Miguel Reale Jr., jurista e ex-ministro do governo de FHC)

Na avaliação de Reale Jr., o presidente ter classificado os manifestantes contrários ao seu governo como “terroristas”, mostra que o presidente está com receio do aumento dos protestos. Esta ampliação poderia desembocar, diz o jurista, em um impedimento do presidente por conta da pressão popular.

“Houve uma pequena manifestação organizada por torcidas organizadas e o presidente já sai dizendo que são terroristas. Ele tem receio de que venha a ocorrer na [avenida] Paulista a reunião de todos estes que assinam os manifestos em prol de um impeachment do Bolsonaro. Ele tem medo que haja uma manifestação reunindo toda a sociedade civil que está se levantando contra ele”, disse

Na avaliação de Reale Jr, Bolsonaro “está se antecipando” com a atitude de chamar manifestantes de terroristas “para justificar um ato de lei e ordem ou justificar até mesmo uma intervenção”.

“Ele tem receio que tenha reuniões na rua que deem o substrato social e arrimo político para um pedido de impeachment”. (Miguel Reale Jr, jurista e ex-ministro do governo FHC)

Uol