Benedita será candidata a prefeita do Rio

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Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

O Partido dos Trabalhadores (PT) escalou a deputada federal Benedita da Silva, de 78 anos, para liderar a chapa do partido na eleição municipal do Rio de Janeiro este ano. A parlamentar já havia aceitado figurar como candidata à vice-prefeita junto com Marcelo Freixo, do PSOL, que desistiu do pleito no mês passado diante da resistência à formação de uma coalização de partidos de esquerda contra a reeleição do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). Diante do movimento de Freixo, Benedita ainda busca a formação de uma aliança, mas já foi convencida por aliados a concorrer pelo cargo.

Em entrevista ao GLOBO, Benedita diz ainda que o PSOL cometeu um “equívoco” ao deixar que Freixo, seu colega na Câmara dos Deputados, se afastasse da disputa. Ainda não havia consenso em relação a ele entre as fileiras da sigla. Ela também sustenta que o cenário em torno de sua pré-candidatura ainda é indefinido, devido ao anúncio recente, mas abre discussão sobre possíveis companheiros de empreitada, na qual vê como seu objetivo final impedir que Crivella se reeleja com um eventual apoio do presidente Jair Bolsonaro.

Como o PT se decidiu pela candidatura da senhora?

Nós temos que mudar essa cidade e só vamos fazer isso juntos. Antes, estávamos prontos para fechar com o Freixo, que desistiu. Nós estávamos trabalhando a unidade da oposição. Não é possível que a gente vai deixar que o Bolsonaro nade de braçada na cidade do Rio de Janeiro. Não é possível que vamos repetir os mesmos cenários, ainda mais com o possível apoio do Bolsonaro ao Crivella. Precisamos unir nossas forças e não podemos ficar de fora. Me coloquei à disposição do PT, mas continuo dialogando.

De que maneira a senhora entendeu a desistência do Freixo?

Eu e o Freixo conversamos muito sobre a responsabilidade da oposição e da esquerda com tudo o que está acontecendo no governo Bolsonaro. E aqui (no Rio), o que está acontecendo são réplicas. Por isso, o PT, que a princípio defendia uma candidatura própria, foi se convencendo que separado não iria a lugar nenhum e começou a conversar com outros partidos, incluindo o PSOL. Acho que o PSOL cometeu um equívoco em permitir que o Freixo saísse da disputa na cidade.

Não foi somente dentro do PSOL que houve resistência a uma coalização em torno do Freixo. Outros partidos de esquerda também pretendem lançar candidaturas próprias. A senhora também considera esse desejo um equívoco?

Cometeremos um grande equívoco se a oposição não se sentar para conversar e fazer essa caminhada junto nessa cidade e nesse estado de Bolsonaro. A gente resolve 2022 lá na frente. Ainda tenho esperança (de uma coalização). Todos os partidos partidos têm o direito de lançar suas candidaturas. Ninguém vai poder dizer que o PT não quis compor.

Ainda há chance de o PSOL compor a chapa da senhora, sugerindo um nome para vice?

Por enquanto, há especulações. Eu soube que poderia ser o pastor Henrique (Vieira), que eu conheço e me dou muito bem.Ele é ator, professor, pastor e é muito aberto. Depois, me deram a notícia de que pode ser a Mônica (Francisco, deputada estadual) como candidata. Não nos procuraram e ainda não procurei ninguém. Estamos abertos para conversar com todos.

O PT é bastante criticado na própria esquerda pela forma como busca suas alianças, quase sempre liderando chapas. A sigla não se contradiz ao criticar quem resiste à coalização?

Nós saímos em várias frentes pelo Brasil afora. No momento eleitoral, cada partido faz a sua conta. Como mudou o sistema e não temos mais a dinâmica de coligações proporcionais, isso trouxe uma preocupação para os partidos. Por um outro lado, nós estamos com o PSOL em vários lugares, com eles na cabeça da chapa e nós como vices. O mesmo acontece com o PCdoB. Mas o PT também tem seus interesses e quer ter representação também. Nós já tínhamos, lá atrás, decidido ter candidaturas próprias nas capitais, mas isso já não acontecerá em todas. Como é o caso da Manuela D’Ávila (PCdoB), em Porto Alegre, onde ela terá um vice do PT. Também há lugares do Nordeste com chapas assim. Estamos fazendo nossa parte.

Ao mesmo tempo em que a senhora insiste na criação da frente contra Crivella, o ex-presidente Lula tem mostrado que não quer aderir a manifestos suprapartidários contra Bolsonaro. O que a senhora pensa sobre o assunto?

O Lula sempre nos orientou a formar essa frente. Tanto que ele conversou com (Flávio) Dino e (Guilherme) Boulos e tantos quanto quiseram conversar. Depois que ele saiu (da prisão, em novembro do ano passado), correu muitos lugares buscando conversar e unir. O PT está em várias frentes: Povo Sem Medo, Brasil Popular, Sistema Único da Assistência Social, entre outras. Mas também precisamos ter cabeça (de chapa) para podermos defender o programa do partido. Estamos trabalhando lado a lado com partidos da oposição. E não temos nenhum problema de estar com o centro e outras forças políticas, desde que a gente derrote o Bolsonaro. Quando o Lula falou sobre isso, falou do ponto de vista dele, de quem passou por tudo isso. Ele jamais orientou que o partido não fizesse alianças. A única coisa que ele coloca, e que as pessoas deturpam, é que ninguém vai isolar o PT, porque o partido, além de ser o maior, tem buscado a unidade. Para nós, o ponto central agora, é o “Fora, Bolsonaro”. Estamos fazendo isso em defesa da democracia, porque estamos vivendo com um ditador.

O PT defende que o candidato do partido à Presidência em 2018, Fernando Haddad, foi alvo de uma campanha de notícias falsas naquele ano. A senhora estaria preparada para enfrentar questões como essa ao disputar a Prefeitura do Rio?

Infelizmente, com “bolsomito” ou sem, a política está se tornando muito perversa. Se você tem alguma coisa contra alguém, fica guardando para soltar. Se não tem, inventa uma fake news. Mas estamos na briga para isso. Por isso, precisamos ter um exército de pessoas do bem ao nosso lado. Mas eu não tenho medo, não. A minha vida é um livre aberto. Eu já sei tudo o que vão falar, porque isso se repete a cada eleição. Se eu não estivesse madura para isso, poderia cair fora. Mas não importo mais com a minha vida. Uma pessoa que tem 78 anos se importa com a vida dos outros. A minha família é esse povo pobre e negro que está morrendo aí. É com ela que todos nós temos compromisso, independentemente da cor da nossa pele. (A campanha) Pode ser muito desgastante, mas vale à pena. Porque eu não concordo com nada disso que está acontecendo. Não concordo.

Com o que a senhora não concorda?

Bolsonaro está criando um exército de gente raivosa e a gente não pode deixar que isso aconteça com a juventude do nosso país, independentemente de classe social ou etnia. Especialmente sobre a população negra, vejo uma política de mortes em curso. Meu Deus, estão matando demais. Nos Estados Unidos, eles foram para a rua. Houve solidariedade. Mas aqui a gente tem pouca. Todo dia acontece o mesmo que aconteceu nos EUA. E ainda querem armar as pessoas. Querem acabar com o pobre e o negro. Se a maioria da população que morre e é mais vulnerável é negra, o país deveria olhar com mais cuidado para nós. Precisamos conviver com essa pluralidade. Por que a bala perdida encontra somente os corpos negros? Sempre. Não quero que encontre o corpo branco, mas só encontra o negro. E aí vem uma política de armamento? Essas pessoas (negras) não têm arma. Querem viver, estudar e ter comida na mesa. Até isso parece pedir muito.

Especificamente sobre o Rio de Janeiro, que cenário a senhora acha que poderia encontrar no pós-pandemia da Covid-19, caso fosse eleita?

Uma cidade caótica, em todos os sentidos das políticas públicas municipais. O Poder Executivo da cidade não dialoga com o do estado. Vou procurar as forças do Rio e retomar a conversa com os demais partidos para buscar um projeto para a cidade que seja comum e viável. (Precisamos) Olhar para os retrocessos que ela teve com o governo do Crivella. Devemos retomar a cidade com a esperança de tirar as pessoas da rua, para onde elas voltaram. O coronavírus, quando chegou ao Rio, foi me pegando logo de cara. Foram embora minha irmã e o filho dela. Perdi os dois em um mês. Foi chocante para mim e estou muito atenta a minha família. Mas eu não sei olhar para a cidade e ver as coisas acontecendo. Não sei abrir mão da minha história, que é vitoriosa. Foi por isso que o PT me convenceu.

O Globo