Bolsonarismo começa a “fritar” novo AGU

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Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

Quando descobriu que o advogado-geral da União, José Levi Mello do Amaral Júnior, havia sido número dois do Ministério da Justiça na gestão de Alexandre de Moraes (2016-2017), o presidente Jair Bolsonaro esbravejou. Ele reclamou de não ter sido avisado sobre o passado de Levi, promovido a AGU há 35 dias. Coube aos ministros André Mendonça (Justiça) e Jorge Oliveira (Secretaria Geral da Presidência) colocar panos quentes e garantir que ele era digno de confiança.

Levi entrou recentemente na mira de ataques da ala ideológica do governo. Interlocutores do presidente o consideram com “pouca experiência” para assumir o ministério responsável pela área jurídica do governo. Braço direito de Alexandre de Moraes no Ministério da Justiça, Levi chegou a assumir a pasta interinamente quando Moraes se licenciou após ser indicado para a cadeira no Supremo Tribunal Federal.

Hoje, Moraes é o relator do inquérito no Supremo que apura a propagação em massa de notícias falsas e ameaças a ministros do STF e virou um dos principais alvos de ataques provocados por militantes apoiadores do governo Bolsonaro. A atuação do ministro tanto na investigação do inquérito das fake news quanto ao barrar a nomeação de Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal incomodaram Bolsonaro.

Segundo interlocutores, o presidente tenta manter uma relação de confiança com Levi e tem conversas “tranquilas” com ele na frente de terceiros. Mas é ao ministro André Mendonça que Bolsonaro recorre quando quer tirar alguma dúvida em relação a questões jurídicas.

Na semana passada, quando decidiu entrar com habeas corpus no STF a favor do ministro da Educação, Abraham Weintraub, Bolsonaro pediu a Mendonça que assinasse o documento. O ato foi considerado um gesto político do Palácio do Planalto à Corte e evitou-se a assinatura da AGU para evitar dar contornos institucionais ao movimento. Mas o pedido via ministro da Justiça sofreu forte reação de juristas.

A postura pacífica de José Levi também é encarada por assessores de Bolsonaro como falta de posicionamento. Aliados do presidente se incomodam com a ausências de defesas públicas do ministro. A estratégia de não entrar com pedido de suspeição do ministro Celso de Mello no inquérito que apura a interferência de Bolsonaro na PF incomodam assessores de Bolsonaro é um ponto de questionamento.

Apesar da fritura de aliados, o apoio de André Mendonça, quem o sugeriu à cadeira de AGU, e de Jorge Oliveira segura Levi no cargo. A aliados, Bolsonaro já fez elogios a trabalhos técnicos do ministro e, segundo pessoas próximas ao presidente, ele não cogita a demissão.

O Globo