Bolsonarismo recua de ataques a Moraes

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Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS

Em uma estratégia construída para evitar desgastar ainda mais sua relação com o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro fez gestos em direção ao ministro Alexandre de Moraes ao mesmo tempo que mantém discurso inflamado para seus apoiadores e o governo reitera ataques ao decano da Corte, Celso de Mello. O cálculo é que Moraes, integrante agora também do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pode criar problemas sucessivos para o governo, enquanto Mello está próximo de deixar a Corte, por fazer 75 anos em novembro.

Segundo interlocutores do presidente, a constatação de que Moraes terá a atribuição de julgar no TSE ações contra a chapa encabeçada por Bolsonaro motivaram a mudança no tom. O presidente encaminhou o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, para falar com o ministro anteontem e participou da sua posse virtual na corte eleitoral no mesmo dia.

Moraes vinha sendo um dos alvos do governo por sua atuação no comando do inquérito das fake news, que tem aliados do Planalto como alvo, e por ter barrado em decisão monocrática a posse de Alexandre Ramagem no comando da Polícia Federal (PF).

Mello, por sua vez, é alvo por esta à frente do inquérito que apura as acusações do ex-ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) de interferência política de Bolsonaro na PF. No fim de semana, um texto privado enviado pelo ministro comparando a situação política atual com a da Alemanha durante o nazismo acirrou ainda mais os ânimos.

Bolsonaro já pediu a seus apoiadores que não organizem atos no próximo domingo. Estas manifestações têm tido o STF como alvo. O presidente citou como justificativa o fato de protestos contra ele também serem convocados para o mesmo dia. E, dando fôlego a sua militância, atacou os adversários, classificando os movimentos que se denominam “antifascistas” como “terroristas” e “marginais”:

— Começou aqui com os antifas em campo. Um motivo no meu entender político, diferente. São marginais, no meu entender terroristas. E tem ameaçado domingo fazer movimentos pelo Brasil, em especial aqui no Distrito Federal — afirmou.

Em artigo no jornal “O Estado de S.Paulo”, o vice-presidente Hamilton Mourão fez eco a Bolsonaro na crítica aos manifestantes contrários ao governo e os chamou de “baderneiros”. Ele também criticou o ministro Celso de Mello pela comparação da atual gestão com o nazismo, a qual classificou como “intelectualmente desonesta”.

Em tom mais ameno, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, afirmou ontem em entrevista à Rádio Bandeirantes que Bolsonaro tem sido “reativo” e que o presidente nunca falou em ruptura institucional. Ramos disse ainda que sua geração de militares é “radicalmente” democrática.

— É ofensivo às Forças Armadas, em particular ao Exército Brasileiro, alguém dizer que vai haver ruptura e que vai haver golpe. Isso é ofensivo, não é aceitável. A minha geração é radicalmente democrática — disse o ministro, que já havia criticado Celso de Mello no início da semana.

Na próxima semana, o TSE vai julgar as primeiras ações contra a chapa de Bolsonaro e Mourão. Devem ser arquivadas duas representações que buscam a cassação com base em um ataque hacker a um grupo de Facebook chamado “Mulheres contra Bolsonaro”. O relator, ministro Og Fernanres, já votou pelo arquivamento dizendo não ser possível provar que os candidatos tinham conhecimento do ato.

Em discurso durante a posse do novo presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Eduardo Fernandes, o ministro Alexandre de Moraes ponderou que, mesmo com dificuldades atuais, o Judiciário demonstra “independência” e “altivez” e lamentou a disseminação de notícias falsas contra juízes.

— O Judiciário vem demonstrando independência e altivez com toda sorte de problema: poucos juízes, orçamento limitado, tendo que enfrentar noticias falsas, as chamadas fake news, que sempre rodearam o Judiciário. Com toda essa gama de dificuldades, o Judiciário brasileiro e Justiça Federal têm desempenhado seu papel de maneira magnífica — afirmou.

O Globo