Bolsonarismo se paramenta com símbolos de morte

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Os cumprimentos militares e as citações bíblicas não são os únicos gestos simbólicos explorados pelo presidente Jair Bolsonaro para reforçar sua narrativa de um governo comprometido com a ordem pública e com os valores tradicionais.

Em pequenas peças e acessórios do vestuário, como máscaras de proteção contra o novo coronavírus, integrantes da atual gestão também tentam, de forma quase subliminar, defender bandeiras e pregar ideologias.

O presidente da república Jair Bolsonaro (PSL) com sua pulseira evangélica – Eduardo Anizelli – 1º.jan.2019/Folhapress
Os artefatos vão desde uma pulseira evangélica, um esforço para salientar a aliança do governo com a denominação religiosa, até uma gravata com estampa de fuzis, referência à defesa da flexibilização do porte de armas no país.

Um das peças causou polêmica na última semana, não exatamente pelo seu significado, mas por sua imagem não ser apropriada para o momento em que o país contabiliza mais de 40 mil mortes pela Covid-19.

Em entrevista à imprensa, para explicar a metodologia para divulgação do número de óbitos pela doença, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco Filho, adornava o paletó com um broche de um crânio perfurado por uma faca.

O apetrecho era uma referência à carreira do coronel da reserva, que integrou as forças especiais do Exército, unidades que usam a imagem da caveira como símbolo. O artefato, reconhecem auxiliares presidenciais, não era o mais adequado, no entanto, para a ocasião.

Também para reforçar a identidade militarista do atual governo, que tem militares à frente de 10 dos 23 ministérios, o presidente tem feito questão de exibir emblemas em máscaras de proteção.

Nas ocasiões em que ele vestiu o acessório de saúde, o que não foi frequente desde o início da crise sanitária, ele optou por máscaras com os símbolos das Forças Armadas e do Corpo de Bombeiros.

Na escolha de suas gravatas, o presidente também costuma passar recados. No Dia da Bandeira, por exemplo, ostentou um acessório com as cores do símbolo nacional, uma defesa do patriotismo.

No mês seguinte à reunião ministerial na qual pregou que a população deveria ser armada, ele apareceu em público com uma gravata com estampas de fuzis. Os filhos do presidente também já exibiram prendedores de gravata em formato da arma de fogo.

No braço, desde a cerimônia de posse, em janeiro do ano passado, Bolsonaro mantém uma pulseira com um versículo da Bíblia. O acessório foi um presente do apóstolo César Augusto, da Igreja Fonte da Vida.

O uso do objeto, que destaca trecho do livro do Apocalipse, tem como objetivo prestigiar as igrejas evangélicas, um dos pilares de sustentação da gestão atual. O ministro da Economia, Paulo Guedes, já apareceu com uma pulseira igual.

O acessório foi dado ao presidente durante sua internação no Hospital Albert Einstein, em 2018, quando ele se recuperava de facada que sofreu durante um evento de campanha em Juiz de Fora (MG).

Para reforçar seu alinhamento internacional, Bolsonaro também faz questão de posar ao lado das bandeiras dos Estados Unidos e de Israel em protestos a favor do seu governo, um esforço para refutar a crítica de que sua administração ampliou o isolamento político do Brasil.

Folha de SP