Bolsonaro agride verbalmente mulher que o questionou

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Foto: Adriano Machado/Reuters

O presidente Jair Bolsonaro mandou uma mulher se retirar da frente do Palácio da Alvorada, na manhã desta quarta-feira, 10, após ela o questionar sobre as mais de 38 mil mortes causadas pelo novo coronavírus no Brasil. “Cobre do seu governador. Sai daqui”, disse ele à mulher, que estava entre apoiadores do presidente. Bolsonaro voltou a minimizar a pandemia e afirmou que “as mortes estão havendo no mundo todo, não apenas pela covid”.

“Nós temos hoje 38 mil mortos por causa do covid. E, assim, não são 38 mil estatísticas, são 38 mil famílias que estão morrendo nesse momento, que estão chorando. O senhor, como chefe da Nação, eu votei no senhor, fiz campanha para o senhor, acho até que o senhor me conhece. E eu sinto que o senhor traiu a nossa população”, disse a mulher, que na hora não se identificou.

Em seguida, a mulher afirmou que a população está morrendo, mas Bolsonaro ficou em silêncio e se afastou dela, dando a palavra para outras pessoas. Diante da insistência, o presidente disse para a mulher parar de falar ou, então, sair do local. “Se você quiser falar, sai daqui, já foi ouvido. Cobre do seu governador. Sai daqui”, declarou o presidente mais uma vez. A mulher, no entanto, permaneceu no local, uma área cercada em que os apoiadores costumam aguardar a saída do presidente da residência oficial.

A conversa do presidente no Alvorada foi transmitida ao vivo pelo canal de YouTube “Cafézinho com Pimenta”, do militar reformado Winston Lima, mas o vídeo foi retirado do ar pouco depois. Lima é um dos alvos do inquérito das fake news, no Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro também não transmitiu a interação com apoiadores em “live” no Facebook, como costuma fazer diariamente.

Após mandar a mulher do local, o presidente voltou a minimizar as mortes por coronavírus ao dizer que os óbitos acontecem no mundo todo, e não apenas pela covid-19. “Aquela figura falando abobrinha ali. Vem usar uma coisa séria, as mortes, para fazer demagogia aqui, todos nós respeitamos e temos compaixão pelo pessoal que perdeu um familiar, não importa a circunstância”, disse.

“Mortes estão havendo no mundo todo, não é apenas a covid. Agora, querer culpar a mim… Tem muita gente morrendo de fome, depressão, suicídio, uma política feita apenas de um lado”, disse Bolsonaro.

Esta não é a primeira vez que o presidente demonstra incômodo ao ser cobrado pelas mortes causadas pela doença no País. No fim de abril, ao ser questionado por um jornalista sobre o fato de o Brasil ter superado a China em número de vítimas, Bolsonaro respondeu com um “e daí?”. Antes disso, já havia dito não ser “coveiro” para comentar os óbitos.

Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem minimizado os efeitos da pandemia e, por diversas vezes, chegou a tratá-la como “gripezinha”. Ele também é crítico a medidas de isolamento social, considerada por organismos de saúde a maneira mais eficaz de se evitar a propagação do vírus.

Estadão