Bolsonaro vive num mundo imaginário

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução/ Internet

Na série de tuítes postada na noite de terça-feira o presidente Jair Bolsonaro mostra uma preocupante alienação da realidade. Ele disse que após ser eleito “iniciou a escalada rumo à liberdade”, como se até então o Brasil estivesse em regime autoritário. Na visão que demonstrou ter, o Brasil era socialista e ele é que adotou a economia de mercado e foi o único a fazer reformas.

Enfim, como todos sabem a ditadura acabou em 1985 e a partir de 1988 vivemos sob a democracia constitucional. Desde então, o país sempre teve economia de mercado e todos os governos fizeram reformas, inclusive a administração Lula, que fez a reforma da Previdência do setor público. Que esse tipo de mentira seja defendido em campanha, o país já estava acostumado, mas Bolsonaro reiteradamente delira na frente de todos. Insiste em dizer que um militante de esquerda tentou matá-lo, quando todas as investigações mostram que ele foi infelizmente atacado e ferido, mas por um louco. E não um adversário político.

A análise do presidente não corresponde aos fatos. É tão despregada da realidade que assusta. Bolsonaro disse que não pode “assistir calado enquanto direitos são violados e ideias são perseguidas”. Não há ideia sendo perseguida. O que está sendo investigado são atos que ameaçam as instituições. Lançar rojões em cima do STF não é uma ideia. Defender a ditadura não é uma posição com a qual a democracia pode conviver. A esses grupos que ameaçam as instituições o governo frequentemente presta solidariedade. O presidente comparece a manifestações deles. Ao invés de fazer um desagravo ao STF, que vem sendo atacado, a nota mostra, mais uma vez, que Bolsonaro está ao lado daqueles manifestantes. Ele diz que tomará as “medidas legais possíveis”.

No primeiro parágrafo, o presidente escreve que está ao lado da democracia e da Constituição. “Não houve, até agora, nenhuma medida que demonstre qualquer tipo de apreço nosso ao autoritarismo, muito pelo contrário.” Na semana passada, ele editou a MP que atropelava a autonomia das universidades federais, que previa a indicação de reitores pelo ministro da Educação nesse período de pandemia. Essa é a demonstração mais recente. O presidente também mostra seu apreço pelo autoritarismo ao participar de atos que pediam intervenção militar e o fechamento do Congresso e do Supremo.

Bolsonaro diz que está “ampliando o direito de defesa” do cidadão, que na sua visão é aumentar o acesso a armas de fogo. Ele também falou sobre a queda nos índices de criminalidade, mas não cita que o recuo começou no governo de Michel Temer.

O presidente não tirou “o Estado das costas de quem produz”, como escreveu. Esse foi um slogan de campanha que não virou realidade. Ele supervaloriza a chamada MP da Liberdade Econômica, que apenas reduziu um pouco a burocracia no país.

No texto, o presidente diz que o que “os adversários” apontam como autoritarismo do seu governo e dos seus apoiadores “não passam de posicionamentos alinhados aos valores do nosso povo”, que na maioria é conservador, na opinião dele. Não é essa a discussão. O autoritarismo do governo é criticado quando se propõe um avanço sobre as regras da democracia, como o equilíbrio entre os poderes.

A mensagem fala de “abusos presenciados por todos nas últimas semanas”, sem especificar quais. Se nesse ponto o presidente fala de decisões judiciais que divergem do que ele pensa, na realidade não é abuso. O STF está agindo dentro da lei e da Constituição.

No fim ele informa que “não vai assistir calado” os direitos sendo violados, por isso avisa que tomará medidas legais para “proteger a Constituição e a liberdade dos brasileiros”. Vamos aguardar para saber quais são as “medidas legais”, porque ao descrever o que acontece no país o presidente mostrou uma total distorção da realidade.

 

O Globo