Brasil tem muito mais doentes que curados de covid19

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Foto: RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES

A taxa de pessoas em tratamento contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, é 14% maior do que o percentual de todos os pacientes curados desde o início da pandemia no Brasil, em 28 de fevereiro.

Atualmente, segundo dados do governo federal atualizados na última sexta-feira (12/06) com base em informações das secretarias de Saúde, o país tem 365.063 brasileiros curados da Covid-19 — 44% do total de adoecimentos (828.810).

Médicos e enfermeiros combatem o vírus em 421.919 pacientes que estão em acompanhamento nas mais diversas fases da infecção, dos internados com gravidade àqueles isolados em casa — 56 mil a mais em relação ao número de curados. De todas as pessoas contaminadas, 5% morreram (41.828).

O índice mostra como a doença tem evoluído a níveis preocupantes no país. O total de curados virou, na última semana, motivo de crise no Ministério da Saúde. A pasta fez mudanças no método de contagem de mortos e de adoecimentos. Dentro desse novo formato, o índice de curados seria evidenciado.

No novo portal criado para divulgar os dados diários da pandemia, o site Covid-19 no Brasil dá destaque aos casos de pacientes recuperados. Em segundo plano, aparecem os números totais registrados e, então, a quantidade de falecimentos decorrentes da doença.

Para especialistas, trabalhar o número de recuperados como principal índice é arriscado. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), uma das mais renomadas entidades em relação ao controle da pandemia no território nacional, avalia o novo modelo com receio.

O infectologista Leonardo Weissmann, consultor da SBI, lembra que o Brasil tem subnotificação de casos confirmados, de óbitos e de recuperados, em diferentes proporções.

“A maioria dos pacientes de Covid-19 tem manifestações leves e moderadas. Há também aqueles com infecção pelo novo coronavírus e que não apresentam sintomas. Grande parte dessas pessoas não procuram serviços de saúde e, com isso, os casos não são notificados, nem como infectados nem como recuperados”, pondera.

A infectologista Joana D’arc Gonçalves, mestre em medicina tropical pela Universidade de Brasília (UnB), explica que apontar a cura depende de diversos exames clínicos e laboratoriais.

“Para saber se a pessoa se curou, temos testes sorológicos que vão medir a imunidade. São as imunoglobulinas ‘IGM’ e ‘IGG’. A IGM aparece na fase aguda da doença, quando o paciente apresenta sinais. A IGG é identificada quando o organismo já reconhece o vírus e produz certa imunidade”, detalha.

Como a ciência ainda não tem respostas para todos os questionamentos, especialistas recomendam, como método intermediário, a cautela. “A gente não sabe se esses anticorpos são suficientes para proteger e se serão duradouros”, frisa Joana D’arc Gonçalves. E completa: “O vírus H1N1, por exemplo, todos os anos muda um pouco e tem uma nova vacina. A gente não tem certeza se a imunidade será protetora e duradoura no caso do novo coronavírus”.

Segundo o Ministério da Saúde, o número de pessoas curadas “tem crescido dia após dia devido aos esforços governamentais, junto a estados e municípios, para preparar a estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS)”.

“O objetivo é fortalecer a rede de atendimento com recursos humanos (médicos e profissionais de saúde), aporte de recursos, envio de insumos, medicamentos, testes diagnósticos e habilitação de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) exclusivos para atender casos graves e gravíssimos, melhorando a capacidade de atendimento e resposta às demandas da população”, destaca o órgão, em nota.

A pasta defende que o novo modelo de apresentação dos dados “reforça o compromisso do Ministério da Saúde com a total transparência perante a sociedade, buscando sempre alinhamento e pactuação com estados e municípios na tomada de decisões para cuidar da saúde de toda a população”.

Metrópoles