Como Trump tornou polícia americana mais violenta

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Foto: Reprodução

Após 15 dias de protestos em resposta à morte de George Floyd, em Minneapolis, os Estados Unidos voltaram a acordar em choque. Em Buffalo, no estado de Nova York, policiais jogaram Martin Gugino, de 75 anos, no chão, durante o início do toque de recolher imposto para conter novas manifestações. Ao cair, o idoso bateu a cabeça, e foi levado para o hospital em estado gravíssimo (assista abaixo). Deu novo impulso às manifestações, que aconteceram em todos os 50 estados no último fim de semana.

De início, a polícia havia dito que Gugino, um ativista dos direitos humanos conhecido em Buffalo, havia tropeçado. Mas uma série de vídeos comprovaram a agressão. O governador de Nova York, Andrew Cuomo, classificou o incidente como “totalmente injustificado e vergonhoso”, acrescentando: “Os policiais devem aplicar, e não abusar da lei”

As novas cenas de violência serviram para ampliar o clamor pela reforma nas forças de segurança. O tema é recorrente nos EUA. Desde 2015, houve ao menos oito casos documentados em que negros foram mortos por ações excessivas da polícia.

Não há como culpar o presidente Donald Trump pela desconfiança existente entre a população, sobretudo a parcela afrodescendente, e a polícia. Esse é problema construído ao longo de séculos de discriminação oficial. Um arbítrio que só foi encerrado em 1964, quando o então presidente Lyndon B. Johson assinou a lei que pôs fim à segregação racial.

Mas Trump fez sim o possível para escalar a violência.

 

Assim que assumiu o presidência, em 2017, Trump pôs fim às reformas em departamentos policiais empreendidas pelo antecessor, Barack Obama. Ao longo de seus dois mandatos, Obama realizou 25 investigações federais em sobre abuso de poder. Vinda da esfera máxima do poder, a medida ajudou a intimidar policiais racistas. Isso porque nos Estados Unidos as polícias respondem às prefeituras. Além disso, o governo Obama decretou intervenção em 14 departamentos para que seguissem às recomendações feitas pelo Departamento de Justiça.

Na época, defensores da reforma na segurança pública apontaram os decretos utilizados por Obama como a mais importante ferramenta legal para forçar mudanças em cidades que têm histórico de racismo e abuso de autoridade.

O ex-presidente utilizou os decretos para enquadrar distritos policiais de cidades notoriamente violentas. Em Miami, o Departamento de Justiça descobriu que a polícia local não investigava o envolvimento de policiais em tiroteios. Em Chicago, chegaram à conclusão que a polícia tinha comportamento abusivo e fazia o possível para encobrir denúncias.

Essa revisão dos procedimentos foi acelerada, sobretudo, após o assassinato de Michael Brown, de 18 anos, em Ferguson, Missouri, em 2014. Mesmo sem portar armas ou ter antecedentes criminais, Brown foi alvejado por guardas. Como ocorre agora com George Floyd, a indignação com a morte do jovem resultou em protestos de grande porte.

O projeto, entretanto, foi abruptamente encerrado por Trump. O presidente americano ordenou que seu então procurador-geral, Jeff Sessions, acabasse com a supervisão imposta pelo Departamento de Justiça. Segundo Trump, essas investigações “minaram o respeito pelos policiais e criam a impressão de que eles não estavam fazendo seu trabalho”. Em seguida, emendou: “vamos acabar com a guerra à polícia”.

“O controle e a responsabilidade local são necessários para uma segurança eficaz. Não é responsabilidade do governo federal gerenciar a aplicação da lei estaduais ou municipais”, disse Sessions, ao justificar a decisão.

Durante discurso para policiais de Long Island, região metropolitana de Nova York, dois anos atrás, Trump deixou ainda mais clara sua opção belicosa. “Quando você vir um desses bandidos sendo jogados dentro do camburão, não seja gentil”, completou.

À época, as declarações foram amplamente rebatidas por representantes de direitos humanos. “Inocente até que se prove culpado? Nosso presidente prefere não se preocupar com isso, expandindo o papel do policial para que seja também juiz, júri e carrasco”, rebateu à época Jeffery Robinson, diretor da American Civil Liberties, entidade que luta pelos direitos civis.

A estratégia de Trump de se colocar como guardião do cidadão de bem (se ele for branco, ele é claro) não é nova.

Quando Martin Luther King foi assassinado, em 1968, Ronald Reagan, então governador da Califórnia, culpou o ativista por sua própria morte. “Uma grande tragédia começa quando deixamos de nos comprometer com a lei”.

No mesmo ano, o republicano e conservador Richard Nixon venceu as eleições presidenciais com a promessa de restaurar a ordem, após protestos contra o racismo sacudirem o país.

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