Embaixador do Brasil nos EUA diz a NYT que não vai ter golpe

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Foto: Reprodução/ O Globo

Em carta enviada ao jornal “The New York Times”, o encarregado de negócios da embaixada brasileira em Washington, Nestor Forster, negou que haja tentativa de golpe militar no Brasil. Na edição desta quarta-feira, o diário americano publicou uma matéria com o título “Ameaça de golpe abala Brasil em meio a aumento de mortes por Covid-19”.

“A ‘ameaça de ação militar’ mencionada no título da peça confunde e induz os leitores a erro. A matéria também extrapola as discordâncias e os atritos que são naturais em uma democracia vibrante e acaba pintando uma narrativa exagerada”, diz um trecho da carta.

No texto, o jornal afirma que as ameaças de golpe giram em torno do presidente Jair Bolsonaro. A publicação detalha o momento delicado que ele e seus aliados enfrentam, devido não apenas ao crescimento dos casos da doença, mas também à fuga de investimentos, ao risco de sua eleição ser anulada e ao fato de seus filhos e apoiadores do governo estarem sendo investigados.

O NYT cita, ainda, episódios em que alguns dos militares mais poderosos do país teriam ameaçado a democracia, como o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que afirmou em nota que a eventual apreensão do celular do presidente Jair Bolsonaro seria “inconcebível” e teria “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. O comentário se referia ao fato de o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR) três notícias-crime apresentadas por partidos políticos e parlamentares à Corte, pedindo, entre outras providências, a apreensão do celular do presidente.

Na carta, Forster argumenta que, na própria reportagem, nenhum líder ou analista político acredita na possibilidade de intervenção militar no país. Também afirma que não existe um único oficial militar de alta patente que seja a favor de uma intervenção.

O diplomata enfatiza que o Brasil extinguiu o regime militar há mais de 35 anos e estabeleceu uma democracia construída em bases sólidas de eleições livres e justas, separação de poderes, uma sociedade civil plural e engajada e uma imprensa livre. Nesse contexto, as Forças Armadas no Brasil, como nos Estados Unidos, trabalham para manter a Constituição e proteger as instituições democráticas, “nunca para atacá-las”.

Forster faz um apelo ao NYT, para que evite o que chamou de “politização da pandemia”. Segundo ele, o governo do presidente Jair Bolsonaro respondeu vigorosamente à crise, declarando-a uma “Situação de Calamidade Pública” em janeiro. Restringiu a entrada de estrangeiros, expandiu amplamente o orçamento do Ministério da Saúde e forneceu ajuda fiscal aos governos estaduais para compensar as perdas com cobrança de impostos e estimular investimentos em saúde.

Na correspondência, o diplomata menciona outras medidas tomadas pelo governo federal, como o apoio temporário à renda de famílias vulneráveis, a transferência de renda para trabalhadores informais e desempregados, apoio ao emprego e remuneração parcial para trabalhadores suspensos. Menciona, ainda, incentivos fiscais e linhas de crédito para empresas que protegerem o emprego.

“A resposta brasileira à pandemia está em linha com as melhores práticas das economias avançadas, como foi reconhecido por instituições como o Banco Mundial e o FMI”, afirma.

Na última segunda-feira, Nestor Forster enviou uma carta ao deputado democrata Richard Neil, presidente do Comitê de Assuntos Tributários, defendendo a realização de acordos econômicos entre EUA e Brasil. No início deste mês, Neil e outros 23 parlamentares democratas pediram ao governo americano que não negocie a ampliação de tratados com o governo brasileiro, sob o argumento de que o presidente Jair Bolsonaro não tem respeito, entre outras coisas, ao meio ambiente e aos direitos humanos. Forster rebateu cada uma das críticas e afirmou que os congressistas estão desinformados e têm uma visão deturpada sobre Bolsonaro.

O Globo