Ex-secretario da Saúde diz que maquiagem de dados mostra subdesenvolvimento

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Foto: JOSE DIAS / Divulgação

O ex-secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde Wanderson Oliveira criticou nesta segunda-feira a “maquiagem” dos dados sobre covid-19 no Brasil. Em mensagem enviada num grupo de Whatsapp, ele afirmou: “Quando vejo essa maquiagem nos dados, me recordo o quanto somos subdesenvolvidos.” E acrescentou: “transparência e informações completas e oportunas são fundamentais”.

Wanderson ficou no cargo nas gestões dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, entre janeiro de 2019 e maio de 2020. Ele chefiava a secretaria encarregada justamente de organizar os dados. No Whatsapp, também citou uma frase do epidemiologista Alexandre Langmuir (1910-1993), que trabalhou no Exército e no Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, e foi o criador do Serviço de Inteligência Epidemiológica: “A boa vigilância não garante necessariamente a tomada de decisões certas, mas reduz a chance de decisões erradas.”

Na quarta-feira, por determinação do presidente Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde passou a divulgar o balanço diário de casos e mortes provocadas pela doença por volta das 22h, e não mais em torno das 19h. Na sexta, a pasta também deixou de publicar o total de casos e mortes acumulados desde o começo da epidemia, limitando-se a informar os confirmados nas últimas 24 horas.

No domingo voltou a informar os totais, mas divulgou dois balanços com números bem diferentes.O primeiro apontava 685.427 casos e 37.312 mortes. O segundo, 691.758 e 36.455 respectivamente, ou seja, 6.331 casos a mais e 857 mortes a menos. As divergências ocorreram justamente quando as estatísticas oficiais têm sua credibilidade abalada. Em nota divulgada nesta segunda-feira, o Ministério da Saúde informou que “corrigiu duplicações e atualizou os dados”.

Informação publicada pelo jornal “Valor Econômico” nesta segunda-feira e confirmada pelo GLOBO mostra que houve pressão do Ministério da Saúde, comandada por militares alinhados a Bolsonaro, para que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também apurasse os números. A divulgação dos totais, que mostram o Brasil entre os países mais afetados pela doença e com números ainda crescentes, vem irritando Bolsonaro.

Ainda segundo a reportagem do “Valor Econômico”, os militares do ministério vêm pressionando os técnicos da pasta a maquiar os dados. Uma das mudanças, confirmadas pelo próprio Ministério da Saúde em nota, é que não serão divulgadas mais as os casos e óbitos confirmados nas últimas 24 horas, que podem incluir registros e mortes ocorridas em dias anteriores. O balanço vai mostrar agora o número de casos e óbitos ocorridos de fato no último dia, o que poderá dar a impressão de que a situação da epidemia não é tão grave.

De acordo com o “Valor Econômico”, a sugestão para mudar o cálculo foi feito pelo empresário Luciano Hang, dono da Havan e aliado de Bolsonaro. No fim do mês passado, Hang foi alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal (PF) por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele é investigado no inquérito aberto na Corte para investigas “fake news”.

No começo da tarde desta segunda-feira, o GLOBO mandou uma série de questionamentos ao Ministério da Saúde sobre a divulgação dos dados de covid-19, mas, até o momento, não houve retorno.

O Globo