Faz uma semana que Mulher de Queiroz “evaporou”

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Foto: Reprodução

Em conversas obtidas pelo Ministério Público do Rio e citadas no documento que embasou a prisão do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, a mulher dele, Márcia Oliveira de Aguiar, dizia que poderia fugir caso tivesse a prisão decretada. Os diálogos se deram em dezembro do ano passado. No dia 18, o que o casal temia aconteceu. Alvos de mandados de prisão preventiva, Queiroz foi detido, mas a mulher cumpriu o que planejava: fugiu.

O MP classifica Márcia como peça-chave na suposta tentativa de obstrução de Justiça por parte de Queiroz e de seus aliados. Além das conversas, que já denotavam preocupação com os desdobramentos do inquérito que apura suposta prática de ‘rachadinha’ no gabinete que o atual senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) comandava quando era deputado estadual, os promotores do Rio também apontam que ela recebeu, de origem desconhecida, R$ 174 mil em espécie durante o sumiço de Queiroz. O dinheiro teria bancado, por exemplo, as despesas hospitalares do ex-assessor do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro.

Para além do aspecto jurídico da fuga de Márcia, sabe-se que Queiroz vê na família o único alicerce que, uma vez destruído, poderia levá-lo a mudar de estratégia de defesa no inquérito, que corre há quase dois anos e está prestes a render uma primeira denúncia. Considerado um “um cara muito família”, como definem interlocutores, a eventual prisão da mulher ou mesmo da filha poderia balançá-lo a ponto de passar a cogitar uma delação premiada. Por enquanto, o advogado Paulo Emílio Catta Preta afirma que essa possibilidade está descartada.

Ao contrário de Nathália Queiroz, a filha mais velha do ex-assessor, Márcia é menos articulada e não tem atuação tão ativa na parte burocrática da investigação, como na conversa com advogados. Por outro lado, a última etapa do inquérito do MP mostra o poder que ela tinha como articuladora da vida que Queiroz levava em Atibaia enquanto o País perguntava onde ele estava.

A afirmação de que fugiria se tivesse mandado de prisão expedido e as anotações que apontam para o recebimento de R$ 174 mil em espécie não são os únicos fatos que indicam que Márcia, segundo o MP, participava da “complexa rotina de ocultação do paradeiro” do marido. Os promotores afirmam que o casal chegou a fornecer endereços falsos de onde moravam e poderiam ser encontrados em eventuais operações.

Ao acatar os pedidos do MP, o juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 27ª Vara Federal Criminal do Rio, endossou que “ambos estavam se escondendo, recebendo auxílio de terceiro” – e ressaltou a possibilidade de fugirem quando tivessem prisão decretada.

Quanto à tentativa de fugir de possíveis desdobramentos da investigação, o MP mostra que Márcia conversava frequentemente com o marido sobre as possibilidades aventadas. A ocasião em que admitiu que poderia se esconder em caso de prisão decretada, no final de novembro de 2019, se deu pouco antes de o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar que as apurações da Promotoria do Rio, paralisadas desde julho, voltassem à tona.

Naquele momento, a mulher achava “exagero” a ideia de levar toda a família de Queiroz para Atibaia, onde ele estava escondido, caso a defesa de Flávio Bolsonaro, representada por Frederick Wassef, perdesse a disputa no plenário da Corte. Logo depois, ela admitiu que concordaria com uma iniciativa como essa se eles fossem alvo de pedidos de prisão.

Márcia se apresenta como cabeleireira e designer de sobrancelhas, mas passou dez anos empregada no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, onde permaneceu como deputado estadual por 16 anos. De lá, teria repassado para o marido cerca de 40% do dinheiro recebido, o que é apontado como indício de que era uma funcionária ‘fantasma’. O montante transferido corresponde a R$ 445,5 mil.

Em 2008, um ano após começar o suposto trabalho na Alerj, Márcia foi à delegacia prestar queixa contra o marido. Acusou Queiroz de ter dado socos em sua cabeça, costela e braços. Chegou a pedir uma medida restritiva para que ele não pudesse chegar perto dela, mas acabou desistindo de fazer o exame de corpo de delito. O caso foi arquivado dois anos depois.

Na última terça-feira, 23, Márcia foi procurada em Belo Horizonte, em endereços ligados a Queiroz. Não foi encontrada. Na noite anterior, a defesa dela havia entrado com pedido de habeas corpus na Justiça do Rio. Alega que os fundamentos da prisão preventiva estão equivocados: não haveria justificativa plausível para torná-la presa por obstrução. O pedido está nas mãos da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, o mesmo que julga nesta quinta um HC de Flávio Bolsonaro.

A defesa do senador pede que o caso seja julgado pelo Órgão Especial do TJ-RJ e não pela pela 1ª instância, onde atua o juiz Flávio Itabaiana, titular da 27ª Vara Criminal da Capital, responsável pela prisão de Queiroz.

Estadão