Imprensa alemã detona Brasil de Bolsonaro

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Foto: A. Anholete/Getty Images

No Brasil, cresce a frustração. Alguns meses atrás, muito parecia ser promissor do ponto de vista econômico. Com a mudança de governo no início de 2019, o liberal Paulo Guedes assumiu o comando como ministro da economia. O “Chicago boy” queria curar o Brasil, uma cura que há muito se considera necessária nos círculos empresariais. Menos governo e burocracia, mais margem de manobra para o setor privado e uma abertura do comércio deveriam levar o Brasil de volta ao caminho de sucesso em que se encontrava até 2013. Essa foi uma das razões pelas quais o azarão nacionalista de direita Jair Bolsonaro venceu a eleição.

Os mercados reagiram positivamente, as bolsas de valores dispararam ‒ especialmente quando o governo aprovou uma reforma trabalhista e previdenciária no Congresso, e as previsões mostraram uma tendência de alta moderada, após anos de estagnação e recessão.

Então veio a pandemia. E com isso um recorde negativo após o outro: uma baixa histórica nas vendas no varejo em abril, um declínio sem precedentes na atividade industrial, um declínio recorde no setor de serviços, em maio a maior queda de preços desde o início do levantamento em 1980 e quase 5 milhões de empregos perdidos no primeiro trimestre. As previsões de crescimento estão sendo constantemente revisadas para baixo e antecipam atualmente um declínio médio na produção econômica de 6,5%. Os economistas falam de depressão e empobrecimento iminente.

A crise também afetou centenas de empresas alemãs, algumas das quais estão no Brasil há décadas. Em termos de investimentos da Alemanha fora da Europa, o país ocupa o segundo lugar atrás da China. As empresas alemãs prestam uma grande contribuição ao Produto Interno Bruto do Brasil. Nem todas foram atingidas igualmente pela pandemia. A indústria automobilística e seus fornecedores, por exemplo, tiveram que sofrer grandes cortes.

Apesar das perspectivas incertas no Brasil, cerca de metade de todos os membros da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha em São Paulo continua avaliando as perspectivas de negócios como boas ou satisfatórias, segundo uma pesquisa. Em particular empresários com longa experiência permanecem calmos. “Nós já conhecemos isso”, afirmou, por exemplo, Peter Rossbach, diretor financeiro da Faber-Castell no Brasil, sobre a crise política e a incerteza. “Não há uma agenda clara no momento. As reformas provavelmente serão difíceis.” No médio prazo, no entanto, ele disse permanecer otimista.

Manfredo Rübens, da BASF, e representantes de outras grandes empresas alemãs também enfatizam seu foco de longo prazo e apontam para investimentos nos últimos anos. É o conhecimento do potencial do Brasil que, com seus 210 milhões de habitantes, já é só pelo tamanho um mercado substancial que mantém vivo o otimismo. Mesmo que muita coisa dê errado, isso é suficiente para algum crescimento no Brasil. O país é comparável a um jogador de futebol que permanece um talento eterno e não consegue finalmente se tornar uma estrela.

Segundo decisão judicial, o presidente Jair Bolsonaro terá que usar máscara protetora em espaços públicos, meios de transporte e estabelecimentos comerciais em Brasília. Um descumprimento será punido com multa de 2 mil reais por dia, de acordo com relatos da mídia brasileira. O requisito da máscara também se aplica aos funcionários do serviço público.

A Justiça atendeu a um pedido de um advogado de Brasília em ação popular. De acordo com um decreto do governador Ibaneis Rocha, o uso de máscaras é obrigatório no Distrito Federal durante a pandemia de covid-19. “A conduta do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, mostra claro intuito em descumprir as regras impostas pelo governo do Distrito Federal”, diz trecho da decisão citado pelo portal G1.

No passado, o político populista de direita subestimou repetidamente o coronavírus e se recusou a adotar medidas de proteção. Bolsonaro apareceu sem máscara em várias ocasiões, atraindo multidões de pessoas e tirando selfies com apoiadores. No domingo da semana passada, o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi obrigado a pagar 2 mil reais por participar sem máscara de uma manifestação pró-governo em Brasília.

Várias empresas de investimentos apelam ao país para que respeite os regulamentos ambientais. Caso contrário, isso pode levar à retirada de investimentos das empresas.

Investidores da Noruega e de outros oito países pediram ao Brasil para parar o desmatamento na Região Amazônica e respeitar os direitos dos povos indígenas. O crescente desmatamento no Brasil está sendo acompanhado com grande preocupação, escreveu a gestora de fundos de investimentos Storebrand e outras 28 empresas em carta aberta publicada na terça-feira a várias embaixadas brasileiras.

O desmatamento, que aumentou nos últimos anos, e os relatos sobre o afrouxamento da proteção ambiental e dos direitos humanos criaram incertezas sobre as condições de investimento no Brasil, afirma a carta. As empresas também incluíram declarações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de que o Brasil deveria usar a pandemia de coronavírus para relaxar as regulamentações ambientais para a Região Amazônica. Na pior das hipóteses, os desenvolvimentos podem significar que investimentos sejam retirados de empresas ou áreas de negócios individuais, alertou a Storebrand.

As florestas tropicais desempenham um papel crucial na luta contra as mudanças climáticas, e a proteção da biodiversidade, afirmam as empresas na carta. Um projeto de lei que já foi levado ao Congresso brasileiro pode levar, caso seja aprovado, a uma ocupação ilegal ainda maior de áreas públicas e ao desmatamento. Isso não apenas colocaria em risco a sobrevivência da Amazônia e o cumprimento das metas climáticas de Paris, mas também minaria os direitos dos povos indígenas.

A carta é um passo incomum para investidores financeiros. Eles geralmente não se comunicam com governos ou autoridades, mas diretamente com as empresas nas quais investem.

Enquanto o número de pacientes infectados pelo novo coronavírus aumentou para mais de um milhão no Brasil, o governo do país afunda cada vez mais no caos. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou sua renúncia na quinta-feira. O ex-banqueiro de investimentos era considerado um linha-dura de direita no governo. Ele reclamou de uma “infiltração socialista” de seu ministério e cortou drasticamente as verbas para universidades públicas por considerá-las um reduto do comunismo.

A saída de Weintraub é provavelmente uma consequência da crescente pressão por parte do Judiciário brasileiro, que o está investigando por seus comentários racistas e envolvimento numa rede de fake news. Para o governo de Jair Bolsonaro, a saída de Weintraub é uma irritante perda. O ministro era particularmente popular entre os apoiadores de direita cada vez mais importantes. A renúncia é vista como uma derrota do governo na disputa com o Supremo Tribunal Federal.

Quase simultaneamente à renúncia de Weintraub, a polícia brasileira prendeu na quinta-feira Fabrício Queiroz, amigo da família Bolsonaro. O presidente e o ex-policial se conhecem desde os anos 1980. Mais recentemente, o ex-assessor, de 54 anos, trabalhou oficialmente como motorista do filho de Bolsonaro, Flávio. Não oficialmente consta que Queiroz ajudou o filho do presidente a desviar fundos públicos para suas próprias contas. O caso pode ter consequências desagradáveis para Jair Bolsonaro. Ele foi eleito para o cargo em 2018, principalmente por ser considerado um outsider por muitos brasileiros, sem estar envolvido na ampla cultura de corrupção na política, nepotismo e enriquecimento próprio.

DW