Mulher de Queiroz e mãe de miliciano combinavam fuga

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Foto: Reprodução

Ao pedir a prisão de Fabrício Queiroz, o Ministério Público do Rio informou ao juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, que localizou mensagens nos celulares de Márcia Aguiar, mulher do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, e Queiroz que apontaram para “um plano de fuga organizado para toda a família do operador financeiro que contaria com a atuação do então foragido Adriano Magalhães da Costa Nóbrega”. Depois disso, Márcia foi a Minas Gerais encontrar pessoalmente Raimunda Magalhães Veras, a mãe de Adriano, ex-capitão do Bope e acusado de ser o líder do grupo miliciano Escritório do Crime no Rio. O policial foi morto durante uma operação na Bahia para capturá-lo em fevereiro.

Queiroz foi preso ontem em Atibaia, no interior de São Paulo, por determinação do TJ do Rio. Ele estava em um imóvel que funcionava como escritório de advocacia de Frederick Wassef. A operação da quinta-feira foi chamada de “Anjo”, em referência a Wassef. Márcia também teve prisão decretada e é considerada foragida pois não foi encontrada.

Um trecho do despacho do juiz Flávio Itabaiana se refere a um diálogo entre Queiroz e Márcia, no dia 2 de dezembro, que indica “que o advogado Luis Gustavo Botto Maia teria se reunido previamente com o ‘Anjo’ (codinome usado para se referir a Frederick Wassef) e com Fabrício Queiroz em Atibaia (SP) antes de seguir para a cidade Astolfo Dutra (MG), no dia seguinte”. Botto Maia é um advogado que atuava, até então, em causas eleitorais do senador Flávio Bolsonaro.

Nas mensagens desse dia, Queiroz diz a Márcia que “Gustavo (Botto Maia) falou que ela (Raimunda) pode voltar”. Para o MP, o advogado e o ex-assessor de Flávio, os dados mostram que eles orientaram Raimunda a ficar escondida depois do julgamento no STF que discutiu o compartilhamento de dados por meio de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Um deles instarou a investigação sobre Queiroz e Flávio depois de ser identificada a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão nas contas de Queiroz.

No dia seguinte, em 3 de dezembro de 2019, Botto Maia seguiu para Astolfo Dutra, em Minas Gerais, onde se reuniu, no dia seguinte, com Márcia de Oliveira Aguiar, mulher de Queiroz, e Raimunda Veras Magalhães, mãe de Adriano da Nóbrega. O encontro foi pedido por Raimunda nessa cidade.

“Amiga, o que você acha de vir aqui amanhã? Pessoalmente a gente resolve tudo. Você não acha?”, escreveu Raimunda para Márcia, antes do encontro.

Também fora arrecadas mensagens que mostram que Márcia ficou levando recados de Queiroz para Adriano por intermédio de Danielle Nóbrega. Em uma mensagem antes do encontro, Márcia escreve a Queiroz que “depois que ela (Danielle) falar com o amigo, ela vai entrar em contato comigo”.

O magistrado também registrou que Botto Maia “chegou à casa de Raimunda Veras Magalhães, em Minas Gerais, para acompanhar as comunicações com a esposa de Adriano Magalhães da Nóbrega”, que vem a ser Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, ex-funcionária de Flávio. Ela constou como assessora de Flávio durante dez anos entre 2008 e 2018.

O MP acredita que os “recados” entre os dois e a reunião foram momentos para a discussão de um plano de fuga para Queiroz e família.

“A análise do material apreendido demonstrou que os ora requeridos embaraçaram o regular andamento da investigação, com dinâmica estruturada, que envolveu atos de adulteração de provas, informações falsas nos autos, sonegação de endereços e paradeiros de investigados, além de possível envolvimento de Fabrício Queiroz com milicianos do Itanhangá e um plano de fuga organizado para toda a família do operador financeiro que contaria com a atuação do então foragido Adriano”, informaram os promotores do pedido de prisão de Queiroz.

As ações entre os investigados ocorreram dias antes dos investigadores do MP do Rio efetuarem buscas e apreensões em dezembro do ano passado. Já na operação desta quinta-feira, além de Queiroz e Márcia, Luiz Gustavo Botto Maia também foi alvo de busca e apreensão.

O Globo