Na TV, Barroso critica excesso de militares no governo

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Foto: Nathalie Bohm/ Divulgação

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso criticou nesta segunda-feira o grande número de militares em postos do governo federal. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Barroso afirmou que as “Forças Armadas não podem se identificar com o governo” e lembrou que o modelo havia sido adotado pelo ditador venezuelano Hugo Chavéz.

Ao ser questionado sobre a nota divulgada na última sexta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro em conjunto com o vice-presidente Hamilton Mourão e pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, o ministro do STF disse que não ver com tranquilidade “esse excesso de notas” divulgadas por militares porque isso não ocorreu em governos anteriores.

– Acho ruim e preocupante começar a povoar cargos no governo com militares. Isso é o que aconteceu na Venezuela. É a chavização, porque quando você multiplica militares eles começaram a se identificar com o governo e começam a se identificar com vantagens e privilégios. É um desastre e não pode acontecer.Barroso acredita que os ataques feitos por bolsonaristas à Venezuela são resultado, em parte, dessa semelhança de modelo.

– Foi isso que o Chavéz fez na Venezuela. Parte desse ódio à Venezuela é o que (o pai da psicanálise Sigmund) Freud identificaria como narcisismo da pequena diferença.
Para o ministro do STF, o vínculo entre os militares e o governo pode ser fatal em caso de eventual derrota eleitoral do governo.

– As Forças Armadas não podem se identificar com o governo porque numa democracia existe alternância de poder. Se as Forças Armadas são governo e o governo é derrotado nas urnas, as Forças Armadas são derrotadas e acabou. Evidentemente isso não pode acontecer.

Barroso evitou fazer críticas nominais ao presidente Jair Bolsonaro e afirmou que reservaria o seu juízo sobre o presidente caso venha a ser obrigado a julgá-lo um dia. Disse que a manifestação de abril na frente do quartel general do Exército, em Brasília, com pedidos de fechamento do Supremo e do Congresso “acenderam o sinal amarelo”, mas isentou o presidente, que participou do ato.

– Evidentemente, quem jurou respeitar e defender a constituição não pode defender fechamento do Congresso e do Supremo. Houve essas manifestações, mas nunca ouvi o presidente defender o fechamento do Congresso ou do Supremo.

Porém, Barroso se queixou de posições do governo, como a nota da última sexta-feira em que Bolsonaro, Mourão e o ministro Azevedo e Silva dizem que as Forças Armadas não“não cumprem ordens absurdas, como por exemplo a tomada de Poder.

– Todos nós que fazemos parte da geração que reconquistou a democracia, olhamos, não vou dizer preocupação, mas não é totalmente natural viver um tempo em que sai nota do ministro da Defesa, em que sai nota do clube militar, que sai nota de militares da reserva. Portanto, não quero fazer de conta que não aconteceu nada. Porque nada disso aconteceu no governo Fernando Henrique, nada disso aconteceu no governo do Lula, nada disso aconteceu no governo Dilma, nada disso aconteceu no governo Michel Temer.
Porém, Barroso descarta a possibilidade de um golpe.

– Não acho que haja um risco real de golpe, até porque não haveria uma causa, mas não vejo com tranquilidade esse excesso de notas vindo de toda a parte – completou.

Sobre os julgamentos da chapa Bolsonaro-Mourão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Barroso, que preside a corte atualmente, afirmou:

–No Tribunal, não há nenhum risco de o presidente ser perseguido, nem tampouco há nenhum risco de ele ser protegido. Nós faremos o que é certo dentro do direito.
Revelou ainda ter sido procurado por uma pessoa do governo, que ele não revelou o nome, para saber se o presidente deveria se preocupar com o julgamento.

– Só se tiver feito uma coisa errada, eu respondi.

O Globo