Partidos buscam estratégia para atrair eleitores

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Foto: RODOLFO BUHRER / Reuters

A pandemia do novo coronavírus vai mudar a forma e o conteúdo da campanha deste ano, independentemente da data em que ela aconteça. Estrategistas tentam se adaptar às mudanças e pontuam que, na balança da corrida eleitoral deste ano, descem os comícios, a distribuição de santinhos e os cabos eleitorais, e sobem as reuniões com pequenos grupos usando máscara — desde que respeitando as orientações sanitárias —, redes sociais e debates na TV.

Os arranjos eleitorais também ficaram dissipados em meio à pandemia. E são dois os motivos principais: a política via videoconferência ou telefone não substitui a conversa olho no olho. Sem diálogo, não há acerto. Segundo, porque há, entre os articuladores, a leitura de que fazer os acordos e trabalhar a candidatura durante a crise pode ser ruim para a imagem do postulante — pode soar como indiferença ao cenário de caos da doença.

— É ruim, em meio a uma pandemia com tantos mortos, ficar discutindo eleição que nem sabemos para quando vai ser adiada — disse um dirigente partidário ao GLOBO.

Aliado do pré-candidato à prefeitura do Rio Eduardo Paes (DEM), o deputado federal Pedro Paulo, que integrou a equipe de Paes na disputa de 2018, avalia que a campanha em meio à pandemia pode sim causar alguma rejeição, mas nada além do esperado. A avaliação é que, com a crise da Covid-19, esteja latente na população o pensamento de que “se eu escolher mal, a minha vida piora”, podendo resultar em mais atenção às propostas.

— Sempre vamos ter rejeição. Mas, por outro lado, a gente não pode desprezar que, numa crise, as pessoas estão experimentando a piora das coisas. O eleitor vai estar assustado com o que está acontecendo com o Brasil. Acho que vai aumentar a conscientização de que uma boa liderança pode amenizar essas situações. Essa percepção do “se eu escolher mal a minha vida piora” vai estar mais forte — afirmou.

Entre as campanhas, a avaliação é a de que o investimento vai ser em redes sociais. Para Pedro Paulo, quem gastar pouco vai cometer um “equívoco”:

— O que vai fazer diferença são as videoconferências, a troca dos comícios por encontros remotos. Uma campanha gastava 80% com televisão e 20% com os demais. Quem gastar menos com digital do que com TV, por exemplo, estará cometendo um equívoco.

Pré-candidata a vice na chapa de Bandeira de Mello (Rede), Andrea Gouvêa Vieira vê com preocupação o afastamento das ruas na campanha. Em sua avaliação, o contato próximo com o eleitor ainda é diferencial na disputa. Por isso, uma das propostas em estudo pelo partido é, por exemplo, o envio dos santinhos e cartas ao eleitor pelo correio, numa tentativa de tornar a campanha um pouco mais pessoal. As conversas com pequenos grupos em espaço públicos, dependendo de autorizações e orientações da Saúde, também é uma possibilidade.

— Estamos acostumados a fazer campanha onde o espaço público tem função determinante. O eleitor gosta da presença do candidato. O maior problema do distanciamento é a impessoalidade — disse.

Para Rodrigo Bethlem, estrategista da campanha de reeleição do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), esse será um pleito mais frio e é preciso levar em consideração o medo da população de ir às ruas. Ele aposta nos debates:

— Vamos ter um peso muito grande nos debates, os do segundo turno, principalmente. Serão decisivos. São nesses momentos que os eleitores vão poder observar melhor os candidatos.

O que cairá mais em desuso são os santinhos. A queda na produção de material impresso é registrada desde 2014. Em 2018, ficou em 30%, segundo a Associação Brasileira da Indústria Gráfica. Neste ano pode chegar a 50%.

O Globo