Partidos do Centrão ambicionam presidência da Câmara

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Foto: Cristiano Mariz/VEJA

Conhecido por negociar apoio ao presidente da vez em troca de cargos, verbas públicas e outras benesses, o chamado Centrão já colhe os frutos de sua aliança com Jair Bolsonaro. Formado por partidos que protagonizaram esquemas de corrupção, do mensalão ao petrolão, o grupo assumiu recentemente, entre outros, o comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), cujo orçamento é de 54 bilhões de reais neste ano, e da Secretaria de Mobilidade e Serviços Urbanos, para a qual indicou um advogado acusado de estelionato que, para se livrar de um processo na Justiça, aceitou devolver o dinheiro surrupiado de sua vítima. O rateio de postos estratégicos na administração pública ainda está longe de terminar, mas o Centrão já se lançou em outro projeto ambicioso: eleger um de seus quadros para substituir Rodrigo Maia (DEM) na presidência da Câmara, em votação marcada para fevereiro do ano que vem.

Se ainda estivesse em cena o Bolsonaro que pregava contra a velha política, as chances seriam pequenas. Mas, com o presidente recentemente convertido ao pragmatismo político, o Centrão passou a ter chances reais de conquistar o posto. A maior dificuldade, por enquanto, é definir quem será candidato na disputa. Hoje, há pelo menos quatro deputados do grupo interessados na sucessão de Rodrigo Maia. O favorito até aqui é Arthur Lira, líder do maior bloco parlamentar da Câmara, que reúne nove partidos e 220 deputados. Lira ganhou força ao se tornar o principal representante do Centrão nas negociações com o Palácio do Planalto. Nessas transações, ele tem garantido cargos não apenas para o seu partido, o PP, mas para legendas como o PTB e o PL, estrelas do escândalo do mensalão. Na prática, Lira se tornou peça-chave na formação de uma base bolsonarista na Câmara, superando em importância política até mesmo o líder do governo na Casa, Major Vitor Hugo (PSL). Fossem outros tempos, o currículo de Lira o tiraria do páreo, já que ele foi denunciado recentemente por corrupção passiva pela Procuradoria-Geral da República, como beneficiário de propina do petrolão.

Um de seus rivais está dentro do próprio PP. É o deputado Aguinaldo Ribeiro, que, tal qual Lira, figura como réu no Supremo Tribunal Federal (STF) em razão da Operação Lava-Jato. Ministro das Cidades no governo de Dilma Rousseff, Ribeiro espera contar com a ajuda do presidente do partido, senador Ciro Nogueira, e de Rodrigo Maia para viabilizar a própria candidatura. Uma de suas prioridades é conquistar o apoio dos deputados que rejeitam um alinhamento com Bolsonaro. Hoje, essa bandeira de independência é rechaçada pela ampla maioria da bancada do PP, que nunca se sentiu bem ao ficar distante dos encantos do poder. Outro integrante do Centrão que quer ser apadrinhado pelo presidente da República na disputa é o deputado Marcos Pereira, vice-­presidente da Câmara e beneficiário de 6 milhões de reais em propina, segundo a delação do empresário Joesley Batista. Mandachuva do Republicanos, legenda vinculada à Igreja Universal, Pereira aposta na força da bancada evangélica. Além dele, fala-se em pelo menos mais dois candidatos alternativos: Baleia Rossi (MDB) e a ministra da Agricultura, deputada Tereza Cristina (DEM), que faz um trabalho muito competente em sua pasta.

Como faltam oito meses para a eleição à presidência da Câmara, as movimentações ainda não produzem os típicos atritos públicos dessas disputas de poder. Nos corredores do Congresso, no entanto, vislumbra-se a possibilidade de reedição do que ocorreu quando da sucessão do petista João Paulo Cunha no comando da Casa. Naquela época, o PT rachou, e dois nomes do partido foram para a votação. Resultado: ganhou o azarão Severino Cavalcanti, do mesmo PP de Lira e Ribeiro. Severino superou, além dos dois petistas graúdos, um parceiro dele de baixo clero, o então deputado Jair Bolsonaro, que obteve só dois votos no pleito. A existência de tantos postulantes é sinal de que não há um nome francamente favorito e que a eleição está em aberto. Mas, se não quiser lidar com mais dois anos de Câmara independente, Bolsonaro não poderá errar na escolha de seu candidato. Acertar no nome e ganhar o apoio da Casa significa pavimentar a aprovação de projetos que serão fundamentais para a retomada econômica, o que facilitaria o caminho rumo a sua reeleição.

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