Procuradores da Lava Jato temem delação contra Moro

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Foto: / Alex Ferreira/Câmara dos Deputados

A força-tarefa da Operação Lava Jato afirmou, em nota divulgada nesta quarta-feira, que o advogado foragido Rodrigo Tacla Duran tentou “induzir em erro autoridades no Brasil e no exterior para alcançar impunidade” e alertou não ter conhecimento se a Procuradoria-Geral da República (PGR) possui informações necessárias para a negociação do acordo de colaboração, como detalhes sobre o patrimônio oculto de Tacla Duran e das investigações contra ele.

A nota da força-tarefa de Curitiba foi divulgada após reportagem do GLOBO desta quarta-feira revelar que o procurador-geral da República, Augusto Aras, iniciou tratativas de delação premiada com Tacla Duran, que teve uma proposta de acordo rejeitada em 2016 pelos procuradores da Lava-Jato sob suspeita de omissão de informações e blindagem do seu patrimônio no exterior. A proposta de colaboração de Tacla mira um amigo de Moro, o advogado Carlos Zucolotto, que é acusado por Tacla de ter cobrado US$ 5 milhões em troca de prometer a obtenção de benefícios na sua delação em negociação naquela época — delação que acabou sendo recusada pela força-tarefa.

Aras deixou de fora da negociação do acordo a força-tarefa da Lava-Jato de Curitiba. Na nota, a força-tarefa alerta para a necessidade de a PGR ter conhecimento das investigações contra Tacla Duran.

“Há diferentes linhas de investigação em curso relacionadas a Rodrigo Tacla Duran, algumas das quais já conduziram a quatro ações penais a que responde no Brasil, por lavagem de dinheiro de centenas de milhões de reais, amparadas em provas como extratos de contas no Brasil e no exterior, e-mails e declarações de executivos de diferentes empreiteiras”, diz a nota.

“A força-tarefa não tem conhecimento de que a procuradoria-geral tenha informações sobre as linhas de investigação e outros potenciais envolvidos nos crimes, fatos que o colaborador deve esclarecer por força de lei, nem sobre o patrimônio do réu, fator igualmente imprescindível na celebração informada desse tipo de acordo”, completa o texto.

Os procuradores também apontam problemas na credibilidade do advogado, por ter tentado enganar as autoridades brasileiras e estrangeiras.

“Há um corpo muito robusto de evidências, inclusive relacionadas a linhas de investigação em andamento, que demonstra que Rodrigo Tacla Duran buscou incessantemente induzir em erro autoridades no Brasil e no exterior para alcançar impunidade. Por exemplo, alegou perante a Interpol que seus pedidos de prisão e de extradição teriam sido revogados, quando isso não era verdade. Apresentou, ainda, contratos falsos para justificar operações de lavagem de dinheiro, mascarando operações ilícitas como se fossem serviços advocatícios ou transações legítimas, inclusive perante autoridades de outros países. Alegou perante autoridades brasileiras e estrangeiras, para tentar evitar sua responsabilização e a perda do produto de crime milionário que mantém no exterior, que teria trabalhado como advogado para empreiteiras como UTC e Odebrecht, o que foi amplamente comprovado falso”, diz a nota.

Prossegue a força-tarefa: “Além disso, escondeu fatos das autoridades quando tentou realizar acordo de colaboração premiada no passado. Tudo isso revela que Rodrigo Tacla Duran, além de ter praticado graves crimes, mentiu de modo contumaz para enganar autoridades e alcançar impunidade em relação aos crimes que cometeu”.

A nota aponta que as acusações feitas por Tacla Duran em relação a Zucolotto, que incluiriam a promessa de pretensos benefícios a serem obtidos perante a força-tarefa, são “falsas e fantasiosas” e já foram investigadas e arquivadas pela PGR.

“Além disso, Rodrigo Tacla Duran comprovadamente inventou histórias para atacar a credibilidade das autoridades, narrando falsamente, por exemplo, que os procuradores brasileiros teriam se recusado a colher seu depoimento na Espanha, quando foi ele quem informou expressamente às autoridades espanholas que exerceria seu direito ao silêncio, razão pela qual os procuradores não se deslocaram para a Espanha”, diz a nota dos procuradores.

O Globo