Secom encheu de dinheiro investigados por fake news

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Foto: Carlos Moura / STF

Uma planilha produzida pela Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República mostra que anúncios do governo federal já foram parar em pelo menos quatro canais da internet suspeitos de fazer apologia a atos antidemocráticos. Eles fazem parte de uma lista de 18 páginas das quais o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), quer mais detalhes. Ele determinou que as redes sociais forneçam relatórios sobre os pagamentos que já efetuaram a esses sites, a chamada “monetização”.

Ao todo, Moraes determinou que o Facebook repasse informações de 12 páginas, o Instagram de 11, e o Youtube de 13. Vários nomes se repetem nas três listas. Dos canais no Youtube citados por Moraes, três deles estão numa planilha elaborada pela própria Secom em resposta a um pedido feito por consultores legislativos que fizeram o relatório da CPI das Fakes News: Terça Livre, Vlog do Lisboa e Universo.

A tabela, com dezena de milhares de linhas, mostra os sites, canais no Youtube e aplicativos de celular que veicularam anúncios da reforma da previdência entre 6 de junho e 13 de julho do ano passado. A planilha tem ainda um outro canal, a Folha do Brasil, que é citado por Moraes. Nesse caso, porém, ele determinou que o Instagram, e não o Youtube, repasse informações sobre o perfil.

O objetivo da decisão de Moraes é saber se blogueiros e militantes bolsonaristas estão sendo remunerados por meio de publicações contrárias às instituições democráticas, o que pode tornar o crime mais grave. Essa diligência faz parte da operação autorizada por Moraes e deflagrada na terça-feira pela Polícia Federal (PF), que inclui quebra de sigilo bancário de 11 parlamentares e busca e apreensão contra apoiadores dos atos. As medidas foram solicitadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no inquérito aberto para investigar atos antidemocráticos.

Das quatro páginas citadas por Moraes que estão na planilha da Secom, duas delas – Terça Livre e Vlog do Lisboa – tiveram os responsáveis como alvos de busca e apreensão ontem.

Facebook, Youtube e Instagram possuem mecanismos próprios para remunerar usuários que tenham alto número de visualizações em suas contas ou atendam a outros critérios estabelecidos, o que é chamado de “mídia programática” e permite aos donos das páginas a “monetização” desses conteúdos. O inquérito sobre os atos antidemocráticos tem como um dos focos apurar o financiamento a essas manifestações e os braços financeiros do grupo.

O GLOBO analisou três planilhas da Secom na noite de terça-feira e, após cruzar os dados com a decisão de Moraes, chegou ao nome das quatro páginas. Em seguida, ligou para assessores de comunicação do órgão, mas não conseguiu contato. Questionamentos foram enviados também por e-mail.

Em reportagem publicada no fim de maio, O GLOBO mostrou que, entre junho e agosto de 2019, segundo uma base de dados da própria Secom, 390.714 anúncios do governo federal tiveram como destino 11 sites e canais que veiculam notícias falsas ou defendem medidas antidemocráticas. Na época, a Secom alegou que não direcionava as verbas para os veículos, embora seja possível impedir que determinado canal receba publicidade.

O Globo