Torcidas organizadas fizeram eclodir atos contra governo

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Foto: André Penner/AP Photo

Movimentos populares decidiram engrossar as manifestações em defesa da democracia no próximo fim de semana, depois dos protestos organizados por torcidas de clubes de futebol e coletivos de torcedores realizados no domingo (31) em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Grupos da sociedade civil reclamam da falta de reação de partidos políticos contra o presidente da República e, por temerem um golpe de Jair Bolsonaro, resolveram sair às ruas em plena pandemia.

No próximo domingo (7), a frente Povo Sem Medo, com movimentos sociais como o MTST, participará de um ato em São Paulo, na avenida Paulista, contra o avanço do autoritarismo, junto com grupos de torcedores de diferentes equipes de futebol.

Líder do movimento de sem-tetos, Guilherme Boulos (Psol) disse que apesar do avanço da covid-19 no país, é preciso reagir nas ruas e fazer um contraponto aos apoiadores de Bolsonaro, que defendem a volta da ditadura militar, atacam o Supremo Tribunal Federal e pedem o fechamento do Congresso Nacional.

“A rua não é do bolsonarismo. A maioria [da população] precisa se traduzir nas ruas, mas com cuidado”, afirmou Boulos, defendendo as medidas de isolamento social. No ato, o MTST deve distribuir máscaras, álcool em gel e manter o distanciamento entre manifestantes.
Os movimentos populares querem atrair também a periferia para essas manifestações, em protesto contra as dificuldades econômicas e sociais que a população está passando com a pandemia.

O ato que uniu grupos de torcedores de diferentes times de futebol e torcidas organizadas rivais como Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos, no último domingo, e terminou com repressão da Polícia Militar, teve uma ampla repercussão e deve fazer com que grupos da sociedade civil contrários a Bolsonaro voltem às ruas.

As manifestações que estão sendo marcadas para São Paulo e Rio de Janeiro no próximo fim de semana — e que devem ganhar adesões em outras capitais— reforçam articulações da sociedade civil com manifestos em favor da democracia, depois de ataques de Bolsonaro às instituições.

Um dos fundadores da Gaviões da Fiel, o sociólogo e publicitário Chico Malfitani reclamou do marasmo da oposição em relação a Bolsonaro e disse que o ato das torcidas organizadas foi um estopim para novos protestos. “Foi como um fósforo num rastilho de pólvora”, afirmou. “Vamos para a rua. Não vamos deixar a rua para esses caras [bolsonaristas].”

“Vamos deixar como lição para a oposição que é preciso deixar de lado as picuinhas. Hoje, as forças de oposição não conseguem se entender. É preciso deixar as diferenças de lado e ver que os nossos inimigos são outros” , disse.
Em tom irônico, Malfitani afirmou que é mais fácil unir corintianos, palmeirenses e são-paulinos do que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Ciro Gomes (PDT). “Estamos dando exemplo para os partidos políticos, para os movimentos sociais que estão num imobilismo. É preciso formar um movimento e defender a democracia. É hora de deixar de lado o que nos separa e pensar no que nos une”, afirmou.

Com doze sócios da Gaviões da Fiel mortos em cerca de um mês e meio por covid-19, Malfitani disse que há um forte sentimento de revolta da maioria da população contra o governo, por falta de medidas no combate à crise sanitária. “A revolta está represada e uma hora vai explodir”, afirmou o sociólogo, membro do conselho da Gaviões da Fiel.

Um dos organizadores do ato de domingo passado, o estudante de história Danilo Pássaro, líder do movimento Somos Democracia, do Corinthians, disse que o protesto é uma resposta à escalada autoritária do governo Bolsonaro.

“Amadurecemos muito a ideia de ir para as ruas, diante dos riscos de contaminação e da importância do distanciamento social. Mas há uma ameaça de golpe, de uma ruptura democrática”, disse o estudante. “Teve uma repercussão ampla porque era um grito que estava preso na garganta. Teremos uma onda de protestos quando acabar a pandemia.”
Pássaro deve participar do ato no próximo domingo e articula a presença de outros grupos de torcedores no protesto contra o autoritarismo.

Integrante da Democracia Corinthiana, Leandro Bergamim disse que ainda não há uma articulação das torcidas organizadas para novas manifestações, mas afirmou que em outros atos devem ser mantidas as bandeiras de respeito à democracia, às instituições, à autonomia dos Três Poderes e do combate ao avanço do autoritarismo.

Valor Econômico