Tratamento público da covid19 custou R$ 2,5 bi

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Foto: Reprodução

A cadeia produtiva da saúde atravessa um momento único na sua história, tanto na esfera privada, quanto na pública e que atinge todos os agentes, do cliente que utiliza os serviços, passando pelos médicos, governo, indústria farmacêutica, operadoras de planos de saúde e instituições prestadoras de serviços.

Os resultados econômicos dos prestadores de serviços não são animadores, com queda expressiva de atendimento e receita, aliado à manutenção de seu custo fixo, que representa de 70% a 80% do custo total. A indústria da saúde diminuiu suas vendas e alguns hospitais têm dificuldades no pagamento de fornecedores. As operadoras de saúde suplementar estão com queda da sinistralidade de caixa, contabilizaram 66% em maio, segundo boletim covid-19 da ANS (Agência Nacional de Saúde), contra níveis anteriores próximos de 80%. As operadoras têm ciclo financeiro longo e os dados de sinistralidade de abril se referem às despesas assistenciais de fevereiro que ainda não refletem os impactos totais da pandemia na redução de atendimentos. Entretanto, o segundo semestre das operadoras apresenta incertezas determinadas pela expectativa de retomada dos procedimentos represados pela pandemia, aliado à queda de receita pelo aumento do desemprego determinado pela recessão. Do lado público, a situação não é diferente, a diminuição do PIB (Produto Interno Bruto) determina redução de recolhimento de impostos, associados aos gastos adicionais consumidos durante a pandemia. Enfim, a pandemia deve reduzir o mercado de saúde e agravar as dificuldades dos cidadãos, prestadores de serviço, operadoras e governo.

Se já não bastasse o cenário econômico de recessão da saúde, a pandemia que acometeu 1,1 milhão de brasileiros encontra-se ainda em sua fase ascendente, demandando mais recursos para tratamento que pode se prolongar até a chegada da vacina em futuro incerto. Há ainda a incerteza dos custos assistenciais hospitalares da nova doença, que aumenta as dificuldades de negociação entre comprador de serviços e hospitais na busca de um preço justo do serviço.

Mas afinal, qual é o custo do tratamento hospitalar de pacientes com o diagnóstico de covid-19, especificamente em utilização de leitos de internação?

Para tentar responder, a Planisa realizou estudo com doze hospitais que disponibilizaram unidades para atendimento do paciente covid-19, no período de abril a maio. A metodologia de custeio foi padronizada, a qual se considerou que todos os custos de produção fossem alocados ao custo da diária, incluindo custos diretos e indiretos, ou seja, todos os custos necessários para operação de um leito hospitalar, como custos com equipes médica e enfermagem, materiais, medicamentos, EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), serviços de apoio e administrativo, entre outros.

Algumas questões são importantes compreender, que justificam as variações de custos das diárias hospitalares, que são: complexidade, ocupação e pessoal. Em hospitais que atendem pacientes mais complexos, o custo unitário da diária é maior do que em hospitais que atendem casos mais simples. Neste caso, o consumo de medicamentos e materiais hospitalares são os principais responsáveis no aumento destes custos. Em hospitais com grande volume assistencial que atendem próximo de sua capacidade instalada, o custo unitário é menor do que em hospitais que têm baixo volume de produção. O custo fixo alto, normalmente presente nos hospitais, torna indispensável a utilização da capacidade instalada. Essa variável é a principal justificativa de custos unitários de diárias elevados nos hospitais; ao contrário do que imaginamos, temos muitos hospitais ociosos, principalmente os hospitais de pequeno porte, que representam a maioria dos hospitais brasileiros.

Ainda, em um país com as dimensões do Brasil, as variações salariais não são pequenas e os custos com pessoal, incluindo médicos, chegam a representar de 50% a 70% dos custos de um hospital, portanto, qualquer variação de salário e honorários médicos pode gerar impacto expressivo na composição do custo da diária.

Neste estudo, o custo médio de diária em unidade de internação não crítica com paciente covid-19 foi R$ 1.400, com taxa de ocupação média de 50%; enquanto em unidades de internação crítica adulto (UTI), o custo médio foi R$ 2.452, com taxa de ocupação média de 67%.

Outro estudo realizado pelo DRG Brasil com hospitais que atendem a 22% das vidas da saúde suplementar brasileira, envolvendo 3.988 internações de pacientes covid-19, mostra que estes pacientes apresentam o dobro da complexidade e criticidade clínica medida pelo DRG Brasil e permanência em UTI e hospitalar 30,5% maior que a média nacional das outras doenças clínicas. O consumo de recursos por dia de internação aumenta com a complexidade e criticidade clínica. Os pacientes covid-19 que usam UTI têm uma permanência hospitalar média de 14,8 dias, sendo oito dias na unidade de terapia intensiva e 6,8 dias em unidade de internação não crítica. Dos pacientes que se internam, 33,1% usaram UTI. Os pacientes que não usam UTI (66,9% dos casos) ficam 6,5 dias em instalações não críticas. Estes dados estão em consonância com a experiência de Wuhan, na China e Kaiser Permanente, na Califórnia.

Se o espectro clínico da doença no Brasil for semelhante ao de Wuhan, 14% dos infectados precisaram de hospital e 5% dos infectados precisaram de UTI. Se aplicarmos os estudos de Wuhan, da Planisa e do DRG Brasil para cada 1,1 milhão de infectados, teremos 154.000 internações, destes 99.000 usarão apenas leitos não críticos, consumindo 643.500 leitos/dia (R$ 900,9 milhões); 55.000 pacientes usarão UTI e consumirão cerca 440.000 leitos/dia de UTI (R$ 1,078 bilhão), além de 374.000 leitos/dia (R$ 523,6 milhões) em acomodações para reabilitação e na fase inicial da doença exclusivamente para estes pacientes de UTI.

O custo assistencial hospitalar direto da covid-19 para cada um 1,1 milhão de infectados é de cerca de R$ 2,503 bilhões. O custo econômico é mensurável, mas o sofrimento das vidas perdidas é incomensurável.

Estadão