Trump quer que governadores “prendam e dominem manifestantes”

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Foto: Jonathan Ernst / REUTERS

Em uma reunião por videoconferência na manhã desta segunda-feira, o presidente Donald Trump instou governadores americanos a “dominarem” e prenderem os manifestantes que tomam as ruas do país há sete dias. Os comentários do presidente seguem a linha que ele vem adotando de não buscar apaziguar as manifestações nos Estados Unidos, que pedem justiça pelo assassinato de George Floyd, um homem negro, por um policial branco em Minneapolis, no estado de Minnesota, em 25 de maio.

Vocês precisam dominar [a situação]. Se não dominarem, estarão perdendo o seu tempo. Eles vão atropelá-los. Vocês vão parecer um bando de idiotas — disse o presidente aos governadores, segundo um áudio obtido pela CBS News. — Vocês devem prender e julgar as pessoas e elas devem ser presas por longos períodos.

Em uma semana, as manifestações já deixaram ao menos seis mortos e se espalham por ao menos 140 cidades. Ao todo, 21 estados já pediram a intervenção da Guarda Nacional — a primeira vez em que tantos líderes locais emitiram a ordem simultaneamente desde 1968, após as manifestações que se seguiram ao assassinato de Martin Luther King

Referindo-se aos protestos em Minneapolis, onde uma delegacia foi incendiada na noite de quinta, Trump disse que “o mundo inteiro estava rindo” da cidade, onde Floyd foi assassinado dias antes. Ele foi sufocado pelo policial Derek Chauvin enquanto outros três policiais assistiam. Os protestos pela sua morte rapidamente se transformaram em um movimento contra o racismo estrutural e a violência policial nos EUA.

Durante a reunião, o presidente comentou os episódios de violência vistos nesta madrugada em Washington, a poucos metros da Casa Branca, que ficou às escuras durante as manifestações. Ele alertou que a presença policial na capital será intensificada nesta segunda. Em paralelo, a prefeita da cidade, Muriel Bowser, anunciou um toque de recolher a partir das 19h (21h, horário de Brasília).

— Washington esteve sob um controle muito bom, mas nós teremos muito mais controle — disse o presidente, que no sábado afirmou que manifestantes teriam sido recebidos com “cães cruéis” e “armas ameaçadoras” caso a cerca da Casa Branca tivesse sido violada. . — Nós vamos deslocar milhares de pessoas. Nós vamos reprimi-los com muita, muita força.

O presidente voltou ainda a culpar a “extrema esquerda” pelos protestos, afirmando que é “um movimento que, se não for contido, vai ficar pior e pior”, e defendeu que os estados criem leis para proibir que bandeiras dos EUA sejam incendiadas. Uma legislação sobre o assunto chegou a ser implementada em 1968, durante a Guerra do Vietnã, e 48 estados adotaram medidas similares. Todas elas, no entanto, foram derrubadas pela Suprema Corte, que as considerou inconstitucionais por limitarem a liberdade de expressão.

Aos governadores, Trump disse ainda que episódios de violência como o atual já aconteceram antes no país, mas só são bem-sucedidos quando se está em posição de “fraqueza”:

— Eu tenho um amigo que mora em Los Angeles. Eles dizem que todas as vitrines estão destruídas. É uma pena. Não pareceu tão ruim para mim. Talvez fosse a claridade, eu não sei. Mas em Los Angeles, as vitrines desapareceram. Filadélfia está uma bagunça. O que aconteceu lá foi horrível — disse Trump, referindo-se a violência nas duas cidades, onde foram registrados saques e confrontos entre policiais e manifestantes, a quem chamou de “escória”.

Cenário similar foi visto em Nova York, onde manifestantes e policiais entraram em confronto em Manhattan. Comentando a crise de segurança, o governador Andrew Cuomo, que se tornou algoz de Trump com seu pulso firme frente à pandemia de Covid-19, defendeu uma reforma policial, fazendo um apelo para que o uso de força excessiva pela polícia seja proibido, tal qual a aplicação da tática de imobilização que envolve chaves de braço.

Segundo o governador, demonstrar ira não é suficiente, mas os manifestantes deveriam elaborar também uma agenda de reformas. Ele demonstrou preocupação com o comportamento da polícia, citando o vídeo que mostra uma viatura avançando contra os manifestantes em Manhattan, mas criticou aqueles que usam os protestos para depredar e vandalizar. Para Cuomo, isto será usado para deslegitimar os protestos e sua agenda progressista:

— Eles tentarão dizer que é uma questão de criminalidade, o que eu acredito ser uma perversão dos protestos — disse o governador, que afirmou ainda temer que os atos desencadeiem uma nova onda da pandemia de Covid-19 no estado.

O Globo