Trumpistas não conseguem ver derrota no horizonte

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Foto: Leah Millis/Reuters

As cerca de 6.200 pessoas que compareceram ao comício eleitoral do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Tulsa, no estado de Oklahoma, no sábado 20, reviveram um dos momentos mais marcantes da campanha de 2016. Em coro, puxado pela comentarista conservadora Kimberly Guilfoyle, eles gritaram palavras de ordem contra a ex-candidata democrata Hillary Clinton: “lock her up” (prenda-a). A cena esdrúxula, que despreza o fato de o adversário de Trump esse ano ser Joe Biden, tem sua razão de ser: as lembranças da corrida eleitoral que levaram o republicano à Casa Branca trazem diversos motivos para que os apoiadores do presidente acreditem na reeleição.

Há quatro anos, Trump era um azarão. Quase todos analistas políticos e institutos de pesquisa davam como certa a vitória de Hillary. Em junho de 2016, o site de estatísticas Real Clear Politics estimava, com base em uma média de diversas pesquisas eleitorais, que a candidata democrata estava cerca de 7 pontos à frente de Trump no voto popular. Além disso, considerando o colégio eleitoral — sistema que define a presidência americana com base nas votações por estado —, o mesmo instituto apontava que Hillary teria mais chance de conquistar a maioria dos delegados. O resto, como se sabe hoje, é história. Trump não só se elegeu, como também foi à forra, criticando a imprensa, as elites e, claro, a arrogância de Hillary.

Se aconteceu uma vez, é compreensível que Trump e seus apoiadores apostem novamente no mesmo fenômeno. O problema é que, agora, a realidade é outra. Biden não apenas está a quase dez pontos percentuais à frente de Trump — ou seja, uma vantagem superior em três pontos percentuais àquela que Clinton tinha —, mas também se posiciona melhor do que a ex-candidata democrata nas previsões dos resultados no colégio eleitoral.

As pesquisas compiladas pelo Real Clear Politics estimam que Biden conquistaria 222 delegados, enquanto Trump garantiria apenas 125 delegados, quase 40 a menos do que em novembro de 2016. Pelas regras eleitorais americanas, é preciso conquistar 270 delegados para se eleger presidente.

Outros fatores complicam ainda mais a vida de Trump: os americanos estão menos indecisos em relação à eleição, Biden sofre de menos rejeição do que Clinton e os índices de aprovação do governo atual estão em queda. O site de estatísticas Five Thirty Eight calcula que a popularidade do presidente caiu de 45,8% para 41% desde o início de abril, enquanto a rejeição subiu de 50% para 55,2%, motivada principalmente pela onda de protestos anti-racismo no país, pela crise econômica, e pela gestão da pandemia de Covid-19.

Diante de tudo isso, por que afinal os republicanos ainda estão confiantes na reeleição do presidente? Três fatores ajudam a explicar o fenômeno:

‘Maioria silenciosa’
“A ‘maioria silenciosa’ está mais forte do que nunca antes”, gritou Trump no comício de Tulsa, em referência ao apelido que dá à sua base, que se considera, como costuma descrever o presidente desde 2016, “esquecida pelo establishment”.

Essa ideia leva o eleitorado de Trump a desacreditar qualquer fonte de informação desfavorável ao presidente. Os alvos principais são a emissora de televisão CNN, o jornal The Washington Post e o New York Times. Recentemente, até mesmo a conservadora Fox News se juntou ao time dos desafetos de Trump, depois de noticiar os protestos anti-racismo, a pandemia da Covid-19 ou outras crises políticas.

Segundo um artigo da revista New York Magazine de junho, a estratégia de reeleição de Trump e seu comportamento na presidência têm sido “muito orientado à mobilização de sua base ao ponto de algumas vezes não realizar nenhum esforço sério para identificar ou persuadir os eleitores indecisos, muito menos os democratas”. Para os adversários de Trump, tirá-lo do poder parece ser mais importante do que eleger Joe Biden e o presidente busca usar isso ao seu favor mobilizando sua própria massa.

Dentre os 11 comícios eleitorais que o presidente organizou em 2020, quatro ocorreram em estados onde a maioria da população votou pelo candidato do Partido Republicano nas últimas duas eleições presidenciais.

Outros dois comícios que já estão planejados pela campanha de Trump, dentre eles um que está previstos para esta terça-feira, 23, serão realizados em estados onde os Republicanos levaram a melhor nas últimas quatro corridas eleitorais. Engajar a própria base se tornou fundamental para o presidente, mas pode não ser suficiente para garantir mais quatro anos na Casa Branca.

Como um populista, Trump é reconhecido por propor soluções simples para problemas complexos. Ao acreditar nas propostas do presidente, independentemente do quão efetivas elas sejam, a base de Trump sente maior necessidade de um líder como ele, à medida em que a situação econômica e social do país piora. É como se somente um governante assim pudesse mudar a realidade do país, não importa quão absurdas sejam suas propostas.

O comício de Tulsa revelou um exemplo claro disso. Durante seu discurso, o republicano defendeu que as autoridades de saúde dos Estados Unidos realizassem menos testes de confirmação da Covid-19 para, assim, abaixar o número de casos confirmados. E o público aplaudiu.

Mesmo soando fantasiosa, a postura dos eleitores de Trump têm uma última – e nada desprezível – justificativa: caso perca, o presidente americano já deu mostras de que deve contestar o resultado das eleições. Para quem o apóia, fazer barulho é tão ou mais importante do que votar.

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