Vizinhos de Queiroz não sabiam que ele vivia ao lado

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Foto: Reprodução/Uol

Os vizinhos da casa onde foi preso o ex-servidor Fabrício Queiroz desconheciam quem morava no local e se disseram surpresos ao tomarem conhecimento do paradeiro do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Queiroz foi alvo de operação em conjunto dos Ministérios Públicos do Rio de Janeiro e de São Paulo, na manhã de hoje, e estava no imóvel que pertence a Frederick Wassef, advogado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de seu filho Flávio.

A casa onde Queiroz estava escondido fica localizada em uma rua tranquila de um bairro nobre de Atibaia, interior de São Paulo. Moradora do imóvel ao lado da propriedade, que fica na Rua das Figueiras, Alba Helena Dávila conta que só soube da presença de Queiroz ao reconhecer sua própria residência em fotos, quando viu a notícia ao acordar.

“Não tenho convivência com vizinhos. A gente só tinha um pouco de contato com o caseiro. Eu fiquei chocada, não poderia imaginar que ele estivesse aqui”, diz a psicóloga, que atendeu a porta para falar com jornalistas.

Apesar de não ter observado nenhuma movimentação do ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Alba lembra que já viu fumaça de churrasco na casa ao lado e que o filho de 14 anos contou a ela que teria visto Queiroz através do muro. Porém, ela disse que o filho só revelou o fato na manhã de hoje, quando a psicóloga mostrou a ele uma foto do ex-assessor. Alba não soube precisar quando o filho teria visto Queiroz e não permitiu entrevistas com o filho.

“Às vezes tinha churrasco e não era muita gente que tinha. A minha casa é a única que dá para ver a casa onde ele estava”, afirmou Alba sobre a residência de Wassef.

Embora a casa tenha uma placa com a inscrição Wassef & Sonnenburg Sociedade de Advogados, os vizinhos afirmam que não veem movimentação no local.

A rua das Figueiras é um lugar bastante calmo, arborizado e com amplas residências. Alba conta que, devido à pandemia do novo coronavírus, a movimentação de pessoas na rua é pequena, com os moradores entrando e saindo de suas casas nos carros.

Aline Pinheiro, organizadora de eventos, disse que viu uma discussão entre dois homens no portão da casa na quinta-feira da semana passada. Ela estava caminhando no fim da tarde e não conseguiu identificá-los pois estava escurecendo.

“A gente que mora aqui não vê movimentação, mas na semana passada me chamou atenção pois havia dois homens discutindo. Eles estavam alterados e gesticulavam”, disse Aline, que não ouviu o que eles falavam.

Moradora do bairro Jardim dos Pinheiros há dez anos, uma aposentada que se identificou apenas como Inês à reportagem do UOL disse que acordou hoje com o barulho dos helicópteros, no início da manhã. Ela, que costuma passear com o cachorro, disse que casa de Wassef estava sempre fechada e que ela não conhecia seus moradores.

“A gente não se comunica muito no bairro. Aqui você só vê alguns idosos passeando com cachorros ou pessoas caminhando de vez em quando”, afirma.

Também morador do bairro, Mauro Godoy relata que viu ontem dois helicópteros pretos sobrevoando o local. “Essa rua é bem tranquila, não tem movimentação. Mas ontem eu vi dois helicópteros por aqui”, afirmou ele, acrescentando: “Tive impressão de ter visto ele (Queiroz) na rua, de boné, mas não me toquei que era ele. Fiquei surpreso com a prisão”, diz, sem precisar quando teria visto o ex-assessor de Flávio Bolsonaro.

O delegado Osvaldo Nico Gonçalves, da Polícia Civil de São Paulo, participou da prisão nesta manhã e disse que o caseiro do imóvel de Atibaia informou que Queiroz estava na casa do advogado há cerca de um ano.

“O caseiro informou que estava no imóvel por volta de um ano”, afirmou Nico, que informou que o ex-servidor estava sozinho na casa quando os policiais chegaram para prendê-lo. A residência, ainda segundo a polícia, era monitorada há cerca de dez dias.

Já o caseiro, em entrevista à CNN Brasil, negou que Queiroz estivesse morando no mesmo terreno há muito tempo. “Tem pouco dias que está aí, quatro dias que veio ver um negócio de saúde. O rapaz aqui estava em tratamento de saúde, estava ficando aqui para se tratar de saúde, estava com câncer, essas coisas, câncer de próstata”, afirmou.

O caseiro estava em uma edícula que fica no mesmo imóvel. Ao chegarem no local, os policiais tocaram a campainha, mas como ninguém atendeu cortaram uma corrente e forçaram a entrada no imóvel, segundo Gonçalves.

“A reação dele [Queiroz] foi tranquila, não esboçou reação. Só falou que estava um pouco doente”, declarou o delegado.

Gonçalves afirmou ainda que foram apreendidos com Queiroz dois celulares, documentos e uma pequena quantia em dinheiro —o valor não foi revelado.

Em entrevista à jornalista Andreia Sadi, da GloboNews, em setembro do ano passado, o advogado de Flávio e Jair Bolsonaro (sem partido) disse não saber onde Queiroz estava. “Não sei, não sou advogado dele”, disse Wassef quando questionado sobre o paradeiro de Queiroz.

Ainda em 2019, o senador Flávio Bolsoaro também alegou não saber onde seu ex-assessor estava.

O ex-assessor Fabrício Queiroz passou a ser investigado em 2018 depois que um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) indicou movimentação financeira atípica dele, que é amigo do presidente desde 1984.

Policial reformado ele, que havia atuado como motorista e assessor do então deputado estadual, movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. O último salário de Queiroz na Alerj fora de R$ 8.517. Ele também recebeu transferências em sua conta de sete servidores que passaram pelo gabinete de Flávio.

As movimentações atípicas, que vieram à tona num braço da Operação Lava Jato, levaram à abertura de uma investigação pelo MP do Rio.

Uma das transações envolve um cheque de R$ 24 mil depositado na conta da hoje primeira-dama Michelle Bolsonaro. O presidente se limitou a dizer que o dinheiro era para ele, e não para a primeira-dama, e que se tratava da devolução de um empréstimo de R$ 40 mil que fizera a Queiroz. Alegou não ter documentos para provar o suposto favor.

Em entrevista ao SBT em 2019, Queiroz negou ser um “laranja” de Flávio. Segundo ele, parte da movimentação atípica de dinheiro vinha de negócios como a compra e venda de automóveis. “Sou um cara de negócios, eu faço dinheiro… Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro. Sempre fui assim”, afirmou na ocasião.

Uol