Wassef segue fugindo de explicar Queiroz em sua casa

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Foto: Bruno Santos

“O objetivo disso é destruir minha imagem”. O advogado Frederick Wassef levou dois dias para comentar a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), encontrado em uma propriedade de Atibaia (SP) registrada no nome do jurista. Em uma sequência de entrevistas ao longo do fim de semana, Wassef apresentou informações desencontradas e desferiu críticas à cobertura do caso, mas não respondeu o que Queiroz fazia em sua casa.

Wassef tem relação próxima com a família Bolsonaro: advogado de Flávio, assumiu a defesa do senador no caso das rachadinhas, que inclui Queiroz, e alega também defender o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

No mesmo dia em que Queiroz foi encontrado em Atibaia, a advogada do presidente da República, Karina Kufa, divulgou uma nota desvinculando Wassef do mandatário. No texto, ela afirma que apenas o seu escritório responde por ações judiciais envolvendo Bolsonaro e que Wassef, além de não integrar o quadro de advogados, também não presta serviço em nenhuma ação envolvendo o presidente.

Ainda este mês, representando Jair Bolsonaro, Wassef contestou a Polícia Federal e o Ministério Público Federal no caso que investiga o atentado cometido por Adélio Bispo, em setembro de 2018.

O próprio advogado, nas entrevistas concedidas desde sábado, apontou a proximidade com a família Bolsonaro como algo explorado por terceiros para tentar prejudicar o presidente. “Conheço as forças que estão unidas para tentar fazer mal a mim e consequentemente atingir o presidente da República”, afirmou Wassef, neste sábado, à TV Globo.

Ainda sob a alegação de que estava sendo usado para prejudicar a família, o advogado declarou neste domingo, à CNN, que deixaria a defesa de Flávio no esquema das rachadinhas.

Há um mês, em entrevista ao UOL, ele chegou a declarar que Queiroz “poderia aparecer”. Um delegado da Polícia Civil de São Paulo disse à GloboNews que o ex-assessor estava na casa do advogado há cerca de um ano. O caseiro do imóvel declarou à CNN que Queiroz se encontrava no local “há poucos dias”. No dia da operação que prendeu o ex-assessor, a polícia informou que a residência onde ele foi encontrado era monitorada há dez dias.

Wassef diz que vai explicar situação, e alega estratégia
À Folha, também neste sábado, Wassef negou ter abrigado Queiroz e disse nunca ter telefonado para o ex-assessor ou trocado mensagens com alguém de sua família. “Isso é uma armação para incriminar o presidente”, declarou, acrescentando não ser o “Anjo” citado por Queiroz em mensagens —o apelido foi conferido ao advogado pela família Bolsonaro.

Mais tarde, em entrevista à CNN, Wassef manteve a retórica de que foi vítima de calúnia e armação e de que Queiroz não estava vivendo em sua casa. Pouco depois, à TV Globo, pela primeira vez citou a presença do ex-assessor na propriedade em seu nome, afirmando que o fato de estar no local não implicaria que ele estivesse vivendo lá.

“Vocês têm uma localização no dia que aconteceu [a operação policial] e eu vou poder explicar logo mais o porquê, e vou poder contar o todo, do A ao Z”, disse.

Na mesma entrevista, ele disse que não se manifestaria mais sobre o assunto pois isso incluía “estratégia de defesa” no caso de Flávio, e que uma fala sua explicando a presença de Queiroz em sua casa poderia infringir o sigilo profissional entre advogado e cliente.

Tentou, ainda, desassociar a família Bolsonaro dos acontecimentos: “Tanto o presidente Bolsonaro não sabia de nada do meu trabalho e não tem nenhuma responsabilidade, quanto o Flávio Bolsonaro não sabia de nada e não tem nenhuma responsabilidade”.

O advogado alegou novamente “sigilo profissional”, em entrevista à CNN no domingo, ao se recusar a explicar o que Queiroz fazia em sua casa. No entanto, ele apresentou novo discurso a respeito do ex-assessor: declarou que sabia que ele frequentava sua casa em Atibaia, de vez em quando, para realizar tratamentos de saúde em Bragança Paulista, cidade próxima.

Wassef voltou a dizer que tanto Bolsonaro quanto Flávio não tinham ciência da presença de Queiroz no local. Inclusive, acrescentou ter “omitido” deles a informação, embora também tenha dito que não escondia o ex-assessor.

“Nunca, jamais, o presidente Jair Bolsonaro soube ou teve conhecimento desses atos, desses fatos. Essa é minha inteira responsabilidade. Eu omiti essas informações do presidente da República e do senador Flávio Bolsonaro.”

Embora Wassef tenha repetido mais de uma vez que Queiroz não estava morando em sua casa, que não mantinha contato com ele e que não o escondia no local, a jornalista da TV Globo, Andréia Sadi, chegou a questionar como foi que o ex-assessor conseguiu entrar na casa do advogado.

“O senhor emprestou a casa para ele [Queiroz]?”, questionou Sadi, em entrevista por telefone exibida no “Jornal Nacional”.

“Não, porque eu não falei com o Queiroz, não tenho o telefone do Queiroz, eu nunca troquei mensagem com o Queiroz. O que eu posso dizer é o seguinte: sobre a pauta Queiroz, eu só vou poder falar até o ponto que eu posso falar, por uma questão de sigilo”, disse Wassef em resposta.

A repórter, então, questionou: “O Queiroz pulou o muro? Apareceu voando na casa do senhor? Ou foi levado por alguém?”.

O advogado não respondeu à pergunta: “Não vou poder avançar ainda hoje, mas eu vou falar tudo, com muito prazer, porque a verdade é uma coisa que você vai gostar de ouvir. Fica tranquila, tá?”.

Queiroz foi encontrado na casa, com parte dos móveis do lado de fora. No interior, havia uma mesa, documentos e um colchão. Para Wassef, a preocupação era o fato de terem encontrado documentos na casa, algo que, segundo ele, não era possível, por ser um local que iria passar por uma reforma.

“O que me preocupou: eu vi na imprensa, por todos esses dias, que quando prenderam o Queiroz foram encontrados [com ele] dois celulares, R$ 900 e um malote — não me recordo agora se foi um malote ou uma caixa com papéis e vários documentos. E isso me chamou a atenção por que: não tinha uma única caneta Bic na casa. Tinha só os móveis básicos e que, inclusive, muitos já estavam desmontados e, inclusive, para fora da casa porque ia ser pintada, reformada, uma série de serviços ia ser implementada [sic] na casa”, declarou o advogado.

Na entrevista à Folha, Wassef manteve a retórica: “Vi na TV que encontraram um malote. Isso foi plantado”.

A intimidade com a família Bolsonaro, segundo a colunista do UOL, Thaís Oyama, vai além das questões jurídicas. Wassef alega ter sido o primeiro a falar com Jair Bolsonaro sobre a possibilidade de se candidatar à Presidência da República.

“Eu tinha acesso à Lava Jato, sabia que iriam ser todos presos. Falei para ele: o senhor vai ficar sozinho e sem concorrência no mercado. Eu previ o futuro”, disse ele.

Quando o caso Queiroz veio à tona, em dezembro de 2018, Wassef assumiu a estratégia de defesa de Flávio e o convenceu a usar do foro privilegiado para levar o caso ao STF (Supremo Tribunal Federal). Como em julho o presidente do STF, Dias Toffoli, concedeu liminar suspendendo todas as investigações criminais que envolviam uso de dados do Coaf, o caso ficou travado por mais de quatro meses; a liminar foi um pedido feito pelo próprio Wassef.

A investigação só foi retomada em dezembro passado, após o plenário do STF derrubar a liminar.

Uol