Abertura de igrejas está fazendo padres e pastores se contaminarem

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: IGO ESTRELA/METRÓPOLES

Desde o dia 3 de junho, o brasiliense pode frequentar cultos, missas e rituais de qualquer credo ou religião. Nessa data, eventos religiosos suspensos desde março por conta da pandemia do novo coronavírus foram liberados, por força de um decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB). Assim, templos de grande porte, com capacidade para mais de 200 pessoas, puderam voltar a receber os fiéis para cerimônias coletivas. Porém, casos de religiosos infectados com a doença começaram a ser registrados.

Segundo a Arquidiocese de Brasília, nos últimos 20 dias, foram confirmados 10 casos da Covid-19 entre padres da capital do país. Os dados foram atualizados na última quinta-feira (23/7).

A Igreja Católica de Brasília também registrou a morte de um de seus vigários no período. O padre João da Silva (foto abaixo) morreu vítima da doença na madrugada de quarta-feira (22/7). Ele estava internado em hospital de São José dos Campos (SP), onde recebia o tratamento contra o coronavírus, e teve complicações.

Na capital da República, João da Silva foi vigário nas igrejas de Nossa Senhora da Esperança, na Asa Norte; Nossa Senhora da Assunção, em Águas Claras; Imaculada Conceição, em Sobradinho; e São Pedro e São Paulo, em Taguatinga Norte. Atuou ainda como pároco na São Miguel Arcanjo, do Riacho Fundo I.

De acordo com a Arquidiocese, a maioria dos 10 religiosos infectados pela Covid-19 está assintomática. A doença foi descoberta porque eles foram orientados a fazer testes para detecção do coronavírus com frequência. A Arquidiocese informou também que, após o diagnóstico positivo, os religiosos ficam afastados para cuidar da saúde.

Já o Conselho de Pastores Evangélicos do DF (Copev-DF) informou não possuir um levantamento de casos entre os líderes evangélicos. O presidente da entidade, Josimar Francisco, disse que são poucos os infectados em Brasília.

“Temos mais informações como um todo, em nível nacional. Aqui no DF, não são muitos”, afirmou. A entidade conta com cerca de 3 mil integrantes, segundo Josimar.

“Nós, do Copev-DF, não registramos nenhuma morte de pastor. Sabemos de casos isolados, de familiares de membros de igrejas em Planaltina e também no Paranoá. Mas nada de gravíssimo que chegasse a assustar a gente”, acrescentou.

Ao Metrópoles, o padre Roberto Crispim, pároco da igreja Nossa Senhora da Paz, no Gama, confirmou o seu diagnóstico positivo para a Covid-19, na última segunda-feira (20/7). Ele também informou que outros três padres e amigos de outras paróquias, em Ceilândia, estão com a doença.

“Senti alguns sintomas no domingo e fui fazer o exame particular na segunda-feira. Deu Covid, fui ao hospital e comecei o tratamento. Estou me recuperando em casa”, detalhou.

O sacerdote já estava ministrando missas na Nossa Senhora da Paz desde a liberação dos espaços. “Não sabemos de nenhum outro membro da nossa igreja com coronavírus. Há três religiosos, em Ceilândia. Um deles está internado, intubado e teve que fazer diálise”, lamentou.

Crispim está afastado da arquidiocese e seguindo todos os protocolos. Ele classificou o vírus como perigoso. “A sensação de falta de ar e dor é horrível. Sinto muita falta de ar quando estou sentado. É um inimigo invisível que está se mostrando para muitas pessoas. Precisa ser levado a sério. Temos muitos casos e o vírus ainda está se espalhando. Ainda não há um controle”, afirmou o padre.

Ele lamentou a morte do amigo João da Silva. “Era uma pessoa muito boa, muito humano. Uma perda irreparável. Não queremos que outros colegas nos deixem. É preciso se cuidar. Só retornarei às atividades quando eu estiver completamente recuperado”, assegurou.

Pastor Lindomar Cirqueira, 57 anos, atua pela igreja Tabernáculo da Voz de Deus, em São Sebastião, Recanto das Emas e em Ceilândia. Ele conta que, no início de junho, sua esposa, Pedra Oliveira Cirqueira, 55, pegou o coronavírus. A mulher tinha sido diagnosticada com pancreatite na rede pública de saúde.

Ao ser encaminhada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), descobriu que estava com a Covid-19. Logo depois, ele, a filha caçula do casal e uma sobrinha também testaram positivo. Pedra não resistiu às complicações da doença e morreu.

“Nós conseguimos nos recuperar, mas ela não. A doença a atingiu no estágio mais avançado. Estávamos cumprindo a quarentena, tudo ocorreu após ela chegar ao hospital”, lamentou.

Para o pastor, ainda é cedo para flexibilizar o isolamento social. “Reforço a importância [das medidas de controle]. A doença é séria. O coronavírus mata e já atingiu mais de mil famílias no DF. Uma delas, é a minha. Tivemos todo o cuidado para não sermos infectados e, mesmo assim, não conseguimos evitar”, destacou. “A nossa igreja ainda está fazendo cultos on-line. Sou contra o relaxamento. Entendo que precisaria segurar mais para as pessoas se manterem seguras.”

Em reportagem publicada em 20 de abril, ainda impedidas de funcionar, o Metrópoles mostrou que igrejas evangélicas ignoravam a quarentena e abriam as portas no DF. Na Cidade Estrutural, os líderes religiosos desenvolveram mecanismos para evitar olhares curiosos e realizar celebrações sigilosas.

Já neste mês, em 13 de julho, o governador Ibaneis Rocha (MDB) sancionou lei de autoria do deputado Rodrigo Delmasso (Republicanos), que reconhece atividades religiosas como serviços essenciais para a população.

As normas para o funcionamento dos recintos foram publicadas no Diário Oficial do DF. Entre elas, a obrigatoriedade de os templos disponibilizarem, na entrada, produtos de higienização para mãos e calçados dos fiéis. E só quem está de máscara facial protetora pode adentrar nas igrejas.

Para que as cerimônias coletivas ocorram, deve ser mantido o afastamento mínimo de um metro e meio entre uma pessoa e outra, com demarcação específica nas cadeiras dos templos. Com isso, uma fileira de assentos precisa estar obstruída a cada uma com fiéis sentados. Idosos acima de 65 anos e crianças menores de 12 continuam proibidos de frequentar esses ambientes.

A fiscalização de descumprimento das regras será feita mediante denúncia da população. Quem vir templos lotados, com aglomeração de fiéis, deve denunciar pelos números 162 opção 2 ou 150. Se houver descumprimento das normas estabelecidas, o local pode ser interditado até o cumprimento das regras.

Metrópoles