Aproximação do PSL com Bolsonaro ameaça Joice

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Foto: IGO ESTRELA/METRÓPOLES

Atentativa de aparar as arestas com o PSL por parte do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deixou em polvorosa deputados e senadores do partido, e provocou rápidas mudanças de posição. O deputado Delegado Waldir (GO), ex-líder do partido na Câmara e que em outubro do ano passado prometeu “implodir o presidente” com a divulgação de áudios, hoje é um dos que adota uma postura de volta ao diálogo.

“O PSL nunca deixou de ser base do Bolsonaro”, argumenta o deputado, ressaltando que “em 90% das pautas, o partido tem votado com o governo”. “O PSL não mudou nada, quem mudou foi o presidente da República”, alegou, em entrevista ao Metrópoles.

A avaliação contrasta com a posição externada pelo próprio presidente do partido, Luciano Bivar (PE), que apontou que o PSL “nunca” será cooptado pelo presidente Jair Bolsonaro em troca de cargos e que atuará na Câmara “com independência”.

Delegado Waldir demonstra disposição para a reaproximação e aponta que é uma postura acompanhada por vários parlamentares da ala não bolsonarista da legenda. Isso coloca em posição de isolamento a ex-líder Joice Hasselmann (SP) e o senador Major Olímpio, que ameaçou deixar o partido caso o presidente Luciano Bivar aceite levar a legenda para uma reconciliação com Bolsonaro.

“Não tem jeito de agradar todo mundo. Isso não quer dizer que eu vou frequentar o Palácio do Planalto, mas a democracia subentende convivência, não submissão. O PSL não será submisso. Respeito a posição da Joice e do Major Olímpio, mas eu acho que em nenhum momento a gente não deve conversar”, ponderou.

“Você acha que seria ético, moral, o presidente Bivar recusar uma ligação do presidente da República? Nós fazemos política. Então, eu acho que é uma arte, e nessa arte existe a democracia. Se o presidente ligou para o presidente Bivar, aparenta para mim que ele foi humilde, percebeu que errou e está tentando se redimir”, defendeu

O embaraço dos membros do PSL começou com uma ligação de Bolsonaro para Bivar. Os dois estavam rompidos desde o ano passado, após uma crise que culminou com a saída do presidente da legenda pela qual foi eleito. No telefonema, os dois teriam inclusive marcado um encontro, que não ocorreu porque o presidente acabou diagnosticado com o coronavírus e iniciou há uma semana um período de isolamento.

“Na verdade o que existe até o o momento é só essa ligação, que foi há duas semanas”, conta o deputado Waldir. “O presidente Bolsonaro ligou para o Luciano Bivar. Só teve uma ligação. Eles trocaram amenidades. Não tem nada mais além disso. O que acontece é que hoje, o PSL, independentemente da divisão que teve, apoia as pautas do governo em 90%. Fomos eleitos no mesmo perfil ideológico e boa parte das mesmas bandeiras”, sustenta.

“Nós só nos afastamos de um grupo bolsonarista, porque não defendemos fim do Congresso, o fim do STF (Supremo Tribunal Federal). Essas pautas malucas não fazem parte da nossa defesa. O PSL continua defendendo aquelas pautas do início, como prisão a partir do julgamento em segunda instância, fim do foro privilegiado, a questão do juiz de garantias, continuamos defendendo a Lava Jato, continuamos defendendo o Moro (Sergio Moro, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública)”, explicou.

O deputado, no entanto, não acredita que o presidente voltaria a se aliar ao partido. “O presidente não filia-se mais ao PSL. Os dois filhos deles já se filiaram ao Republicanos, tem um filho dele que é do PSL, o Eduardo. Não saiu porque não existe janela partidária. Volta do presidente ao PSL eu acredito que não vai ocorrer”, declarou.

O parlamentar avaliou que há cerca de um mês o presidente se colocou em uma posição “acuada”. Isso ocorreu a partir do momento em que as investigações começaram a chegar em seus filhos, principalmente o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), investigado em um suposto esquema de rachadinha que teria vigorado em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Outro fator que teria influenciado a mudança de comportamento de Bolsonaro teria sido a prisão de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, considerado operador financeiro do esquema de desvios de verbas públicas na Alerj.

“Ele está acuado”, avalia o deputado. Mesmo assim, ele acredita que o PSL só avaliaria votar a favor de eventual impeachment de Bolsonaro na Câmara se houvesse uma denúncia robusta apresentada pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.

“Nós teríamos que verificar as provas. Se elas são substanciais. Se não tiver essa denuncia do procurador, dificilmente terá um processo de impeachment na Câmara. Mais um presidente impedido é muito ruim para a democracia”, sustenta.

Delegado Waldir reconhece que a ruptura com o presidente no passado foi traumática. “O que aconteceu foi que houve um sangramento. Houve uma cisão dolorida. Não posso falar pelo presidente, mas se ele pegou o telefone e ligou para o presidente Luciano Bivar ele há de ter os motivos dele. Mas ele entendeu que o modelo que ele adotou lá trás está falido. Ao tentar montar um grupo de apoio com as bancadas, da bala ou do agro, ele viu que falhou. O ministro Onyx Lorenzoni falhou na Casa Civil e ele viu que foi para o buraco”, avaliou o parlamentar.

Sobre a busca de Bolsonaro pelo Centrão, Delegado Waldir avalia que é um acerto. “Agora ele viu que não tinha outra ferramenta para avançar em pautas que o governo necessita. Ele faz bem em trazer o Centrão e tentar trazer a base do PSL. Mas essa base já vota com ele”, argumentou.

Para o deputado, Bolsonaro adotou um discurso falso ao apoiar manifestações que pediam o fechamento do Congresso e do STF, com o objetivo de “enganar a base”.

“Como se tem visto há mais de 30 dias, Bolsoanro não ataca mais o STF, não ataca mais o Congresso. Porque, na verdade, era mais um grande equívoco. Ao atacar o Congresso ele estava atacando os próprios filhos, um que é senador e outro que é deputado federal. O povo dele que estava fazendo esses ataques estava esquecendo disso. Quem sustenta o governo do presidente é boa parte do Senado e da Câmara”, observou.

“Na verdade, ele fazia um grande teatro. Era um mero discurso para enganar a base”, enfatizou.

Metrópoles