Bancada da Bíblia quer controlar sucessão na Câmara

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Foto: Jorge William/Agência O Globo – 19/2/2020

Faltando sete meses para a eleição, já começa a se delinear o cenário para a sucessão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A Frente Parlamentar Evangélica formalizou o apoio ao primeiro vice-presidente da Casa, Marcos Pereira (Republicanos-SP), bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. Na mesma semana, o descolamento de DEM e MDB do bloco comandado pelo líder do PP, Arthur Lira (AL), desponta como outro movimento ligado ao embate sucessório, embora publicamente as lideranças das duas siglas neguem essa relação.

O presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), disse ao Valor que a bancada lançou a pré-candidatura de Marcos Pereira à direção da Casa em um jantar realizado no dia 22 de julho em um restaurante recém reaberto em Brasília, com a participação de 42 deputados.

“Nós dissemos a ele [Pereira] que, como ele é o primeiro vice-presidente da Câmara e do Congresso, vice-presidente da nossa frente parlamentar, ele nos honraria muito se fosse candidato a presidente da Casa”, disse Câmara. “É justo, ele tem legitimidade, é vice-presidente da Casa, e a diretoria [da frente] se manifestou favorável a que fizéssemos coro nessa caminhada.” Segundo ele, Pereira vai decidir sobre a candidatura no momento oportuno.

O jantar da bancada evangélica que lançou a pré-candidatura de Marcos Pereira coincidiu com a iniciativa de MDB e DEM, que anunciaram o desembarque do chamado “blocão” de Arthur Lira cinco dias depois. Embora Rodrigo Maia tenha rechaçado qualquer relação entre esse gesto e a disputa sucessória, nos bastidores o indicativo é de que as duas siglas estarão unidas em torno de um candidato apoiado pelo atual presidente. O próprio líder do MDB e presidente da sigla, Baleia Rossi (SP), é visto como possível postulante à cadeira de Maia, mas ele tem afirmado a interlocutores que não deseja concorrer.

O deputado Silas Câmara avalia que não deveria haver uma antecipação do pleito, que ainda está longe, tendo ainda uma pandemia e uma eleição municipal à frente. Mas ele pondera que há muito está em curso uma movimentação de bastidores sobre a corrida sucessória.

“Todo mundo sabe que existe uma mobilização em torno de alguns nomes”, observou. Câmara argumenta que essa antecipação seria errada somente se tentasse desmobilizar a atual Mesa Diretora, o que não está ocorrendo.

Câmara minimizou as articulações que indicam o líder do PP, Arthur Lira, como favorito do Palácio do Planalto à sucessão de Maia. Lira e Pereira têm perfis semelhantes: ambos são aliados do presidente Jair Bolsonaro, transitam com desenvoltura na Casa e são considerados articuladores experientes.

Lira, no entanto, tem mais exposição, enquanto Marcos Pereira é um habilidoso articulador dos bastidores.

O dirigente da bancada evangélica salientou que, na largada, Pereira começa a corrida com um time de pelo menos 104 votos: 34 votos da bancada do Republicanos, e pelo menos 70 apoiamentos da bancada evangélica. A frente parlamentar conta com 130 deputados e 14 senadores.

Silas Câmara faz a seguinte contabilidade: ele afirma que Arthur Lira, de um lado, contaria com cerca de 150 votos, enquanto o bloco de DEM, MDB e outros, liderados por Maia, teriam outros 150. Restariam 213 deputados, entre os independentes e a esquerda, a serem conquistados.

Ele acrescenta que a bancada tem compromisso com a pauta econômica, fundamental ao país neste momento, e lembra que Pereira foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio durante o governo Temer e, portanto, sabe da responsabilidade com essa agenda.

“Este ano é o ano do diálogo, estamos abertos a debater nossa representatividade, somos uma das bancadas mais fortes do Parlamento”, afirmou. “Esse jogo está zerado e perde quem se precipitar”, concluiu.

Valor Econômico