Bolsonaro acena a radicais, mas mantém comedimento

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Foto: Agência Brasil

Recuperado da covid-19, o presidente Jair Bolsonaro manteve no fim de semana a postura de evitar conflitos com outros Poderes, mas fez dois acenos a aliados do chamado grupo “mais ideológico”: visitou a deputada Bia Kicis (PSL-DF), que ele destituiu do cargo de vice-líder do governo na Câmara sem dar aviso prévio, e protocolou ação no Supremo Tribunal Federal (STF) em que pede o desbloqueio de contas de apoiadores nas redes sociais.

A ação direta de inconstitucionalidade (ADI) foi protocolada pela Advocacia-Geral da União (AGU) e teve caráter técnico: questionou o descumprimento do princípio da liberdade de expressão com o argumento de que o bloqueio “priva o cidadão de que sua opinião possa chegar ao grande público, ecoando sua voz de modo abrangente”, o que, “nos dias atuais, […] é como privar o cidadão de falar”.

A ação ainda fez a ressalva de que a AGU não está defendendo a prática de ilícitos penais. “Ao contrário, o que se busca é que se faça cessar os ilícitos sem que seja imposta medida desproporcional ao exercício das liberdades pública”, afirma o documento.

Perfis de apoiadores do presidente Bolsonaro, que são investigados por suposta disseminação de “fake news”, foram bloqueados pelo Twitter e Facebook na última sexta-feira, por ordem do ministro do Alexandre de Moraes, relator do inquérito no STF. Os investigados negam o cometimento de qualquer crime e falam em censura por parte do Supremo.

Já Bolsonaro não deu declarações sobre a ação dessa vez e preferiu sinalizar apoio aos aliados com uma ação judicial, mas sem as antigas críticas diretas ao STF. A mudança de postura ocorre desde a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz, que levou o presidente a diminuir o tom de conflito com os outros Poderes.

Outro gesto de apoio ao grupo ideológico foi visitar a deputada Bia Kicis “de surpresa” no sábado, logo após se recuperar da covid-19. Dias antes, ele determinou a saída dela do cargo de vice-líder do governo por causa de um voto contra a prorrogação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) – o governo era contra a proposta, mas, após perceber que seria derrotado, decidiu apoia-la com o discurso de que não é só a esquerda que apoia a educação. Kicis, que se queixou de não ter recebido nem um telefonema, disse que a visita “simboliza os laços de amizade e alinhamento que nos unem e que seguem firmes”.

Valor Econômico