Bolsonaro aprovou 3 aumentos para ex-mulher de seu advogado

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Foto: Gabriela Biló/Estadão

Em um período de 15 meses, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) aumentou em três ocasiões o maior contrato mantido com a empresa ligada à ex-mulher e sócia do advogado Frederick Wassef.

Ele foi defensor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) até a prisão de Fabrício Queiroz, ex-funcionário de seu gabinete do filho do presidente na Assembleia Legislativa do Rio. Segundo Bolsonaro, o defensor também foi seu advogado no caso Adélio Bispo. Flávio é investigado pelo Ministério Público, que o acusa de lavagem de dinheiro junto com Queiroz. Durante a Operação Anjo, o ex-assessor acabou preso num imóvel de Wassef em Atibaia (SP).

Os reajustes foram feitos em negócios da empresa Globalweb Outsourcing, ligada a Cristina Boner, ex-mulher de Wassef, com a Telebrás, estatal hoje vinculada ao Ministério das Comunicações.

Os três aumentos nos contratos elevaram o preço de R$ 116 milhões para R$ 124 milhões entre o começo do governo Bolsonaro e março deste ano. Alta de 7%.

O governo Bolsonaro reajustou o contrato com a empresa em três datas, sendo que em duas delas há um mês de diferença:

Fevereiro de 2019 – 4,8%
Fevereiro de 2020 – 0,3%
Março de 2020 – 1,9%
Antes de gestão Bolsonaro, o último reajuste havia sido feito em agosto de 2017, ainda no governo Michel Temer (MDB). A inflação acumulada entre esta alta e a última correção, em março deste ano, foi de 10,4%.

Ou seja, o reajuste total (7%) no contrato ficou abaixo da inflação no mesmo período.

A Globalweb e a Telebrás afirmam, porém, que por lei o contrato é reajustado com base no Índice de Serviços de Telecomunicações. Segundo as duas empresas, o aumento no contrato ficou abaixo desse índice.

A Globalweb é uma empresa de informática registrada em nome de uma filha de Cristina. De acordo com a empresa, o contrato é relativo à prestação de serviços de gerenciamento e operação de todos os equipamentos e tecnologias que compõem a rede da Telebrás. Isso inclui gerenciar serviços providos pela rede da empresa pública a seus clientes.

Conforme o UOL revelou, a Globalweb tem recebido milhões de reais durante a gestão de Bolsonaro. Em valores atualizados, os pagamentos já chegam a R$ 55 milhões.

Ao todo, a Globalweb tem R$ 239 milhões em contratos com o governo, a serem pagos pelos cofres públicos nos próximos anos.

Com a Telebrás, a empresa tem dois negócios. Um deles foi fechado na gestão de Michel Temer (2016-18); outro, na gestão Bolsonaro, por R$ 3,5 milhões.

Estatal pediu investigação à CGU
Em nota, a estatal afirmou que o aumento foi feito abaixo do índice permitido e que tem compromisso com a ética. Porém, após ser procurada pelo UOL, a Telebrás anunciou que irá reduzir o valor do contrato e que encaminhou os contratos para serem investigados pela Controladoria Geral da União (CGU).

“A redução do contrato está sendo processada pela Telebrás e a expectativa é a de que seja concretizada no mês de julho”, disse a assessoria.

A Telebrás reitera o seu compromisso com a ética e com os princípios legais que regem a administração da companhia”

Nota da Telebrás

Depois que a Globalweb ganhou o contrato, em 2017, uma concorrente exibiu documento da CGU para acusá-la de não poder participar da disputa. A empresa ligada a Cristina Boner tinha sócios de empresas punidas por serem “inidôneas” —entre elas, a própria filha da empresária. A Telebrás rejeitou o recurso. Procurada, a Controladoria não se manifestou.

Segundo dados fornecidos pela Telebrás e pela Globalweb, o contrato maior de operação da gerência de rede já rendeu R$ 16 milhões à empresa da ex de Wassef no governo Bolsonaro. Durante o governo Temer, foram R$ 13 milhões.

A assessoria da Globalweb disse que os pagamentos só são feitos à medida que os serviços são pedidos pela estatal. “Vale destacar que se trata de um contrato por demanda da Telebrás, à medida que ela conquista novos clientes e aumenta sua infraestrutura”, afirmou a empresa. “Não necessariamente o valor total previsto no contrato será consumido até o final.”

Wassef e Cristina Boner são sócios em um terreno em Santa Catarina. Eles têm negado interferência política nos contratos da Globalweb.

A casa de Cristina no Lago Sul, em Brasília, foi palco de uma entrevista que o senador Flávio Bolsonaro concedeu à TV Record em 18 de janeiro de 2019.

Uol