Bolsonaro não consegue formar base no Senado

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Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Após conseguir formar uma base aliada na Câmara, o governo de Jair Bolsonaro tem como uma de suas prioridades repetir a mesma operação no Senado. Porém, aliados no Congresso e fontes no Palácio do Planalto preveem dificuldades nessa tarefa.

Nos últimos meses, por meio sobretudo de distribuição de cargos e emendas, Bolsonaro conseguiu criar uma base na Câmara, abarcando sobretudo integrantes do chamado Centrão, como o ministro Fábio Faria, das Comunicações.

Também ampliou sua rede de interlocutores com o Parlamento, missão que cabe primordialmente ao ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo.

Agora, além de Faria, essa missão é compartilhada com o ex-deputado tucano Rogério Marinho, que deixou o cargo de Secretário de Previdência e Trabalho para assumir o Ministério do Desenvolvimento Regional. Faria e Marinho, com anos de experiência no Congresso, têm recebido parlamentares e auxiliado Ramos na interlocução, sempre com a preocupação de não se chocar com o general, um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro.

Na avaliação do Executivo, o obstáculo para conseguir uma base fixa no Senado, no entanto, continua sendo o perfil “mais alto” dos parlamentares na Casa. Fazer fidelizar os senadores é mais complexo porque eles não estariam abertos a compor com o governo apenas baseado no repasse de emendas e cargos de terceiro escalão.

Além disso, dois terços dos senadores só vão precisar pensar em eleição em 2026, uma vez que têm mandato de oito anos e foram eleitos em 2018. Apenas 27 dos 81 parlamentares da Casa terão os mandatos vencidos em 2022.

Outra razão para o cenário adverso é o perfil mais difuso do Centrão na Casa. Um exemplo é o senador Antonio Anastasia (PSD-MG), visto no Palácio como avesso a oferta de emendas e cargos.

Fontes no governo admitem problemas na articulação. No PL das “Fake News”, por exemplo, só os líderes Eduardo Gomes (TO) e Fernando Bezerra (PE) votaram com o governo dentro do MDB. O PSD deu 9 votos contra o governo, apesar da nomeação de Faria.

As conversas acontecem, inclusive, com a intermediação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), mas nem sempre surtem o efeito esperado.

Um sinal dessa dificuldade ficou evidente nesta semana, quando representantes do governo sondaram senadores para oferecer emendas, mais uma vez, mas sem pedir nada em troca.

A mais recente tentativa de aproximação do governo provocou críticas no Senado. Um dos parlamentares sondados foi o líder do PSL, Major Olímpio (PSL-SP), que confirma ter recebido proposta para receber aproximadamente R$ 30 milhões em emendas.

Ex-aliado de Bolsonaro, Olímpio enxergou nesse movimento uma “aproximação indevida” e decidiu rejeitar a proposta.

Outros senadores também confirmaram essa abordagem na última semana. “Não recebi oferta, mas soube das propostas”, disse, em caráter reservado, um parlamentar conhecido por ter uma postura mais independente.

O Valor apurou que essa verba seria originária do Ministério da Saúde e teria que ser destinada às ações de combate à covid-19.

Os senadores que confirmam a proposta também dizem que os integrantes do governo não pediram nada em troca, o que gerou diferentes interpretações. Alguns se surpreenderam quando questionados se a verba era vista como uma forma de aproximação para a formação da base aliada.

“Acho que está tendo um equívoco. Eu tinha entendido que essa verba era porque aprovamos um projeto que garantia R$ 2 bilhões para hospitais regionais e filantrópicos. Posso estar enganado”, disse um senador.

Outros parlamentares viram a sondagem com normalidade, mas rechaçaram qualquer chance de passar a votar com o governo.

“Todos os senadores tem pleitos. O papel do parlamentar é encaminhar pleitos solicitados por municípios de seus Estados. Cabe ao governo liberar ou não. Não acredito em troca de apoio por emendas pois o Senado já vem ajudando governo, aprovando materiais relevantes ao país”, disse um senador.

Nos últimos dias, uma das emendas foi anunciada pelo ex-senador Romero Jucá (MDB-RR), que trabalhou contra a eleição de Bolsonaro e acabou não eleito. Em uma rede social, ele anunciou a liberação de R$ 20 milhões para o combate ao coronavírus em Boa Vista, agradecendo Davi e Eduardo Braga (MDB-AM) pela “ajuda”. A situação irritou parlamentares de Roraima, que se sentiram traídos.

Valor Econômico