Bolsonaro não quer Pazuello na reserva

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Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo

O ministro interino da Saúde e general Eduardo Pazuello deve permanecer no governo em caráter provisório e sem deixar os quadros do Exército, embora haja pressões para que escolha entre passar à reserva ou deixar o posto.

Apesar da grande exposição e das críticas a que vem sendo submetido por comandar a pasta em meio à pandemia, Pazuello conta com o apoio de militares no Palácio do Planalto e auxiliares próximos do presidente Jair Bolsonaro para prosseguir no posto sem abrir mão de sua carreira.

Na visão de fontes ouvidas pelo Valor, a situação de Pazuello é diferente da do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. Responsável pela articulação política do governo, Ramos anunciou no fim de junho que anteciparia sua ida à reserva remunerada. À época, já havia nos bastidores manifestações de incômodo da caserna com a situação do ministro, um dos artífices da aproximação do Centrão com o governo Bolsonaro.

“Ramos está em uma função em que é difícil imaginar um militar. Articulação política não é o nosso forte, exige determinadas qualidades que não são muito comuns para nós”, diz um militar graduado, referindo-se ao varejo da política e da negociação com o Congresso.

Para essa fonte, Ramos consegue desempenhar o papel por certas características pessoais: é simpático, expansivo e tem experiência como assessor parlamentar.

A situação de Pazuello, no entanto, é distinta. Na visão de militares, o general recebeu do presidente a missão de comandar o Ministério da Saúde durante a pandemia. A avaliação é que, com sua experiência em logística, ele conseguiu gerenciar essa questão a ponto de quase não haver relatos de falta de material hospitalar ou equipamentos de proteção nos hospitais brasileiros.

Militares dentro e fora do governo Bolsonaro reconhecem que não é o ideal ter um general da ativa no posto de ministro da Saúde. Porém comparam o combate ao coronavírus a uma guerra e acreditam que, nesse contexto, não é descabido o comando de um militar.

Também atribuem as pressões ao desconhecimento da lei brasileira, que estipula que o militar que exerce uma função civil sai da Força e fica como agregado. Após dois anos nessa condição, passa à reserva “ex officio”, ou seja, automaticamente.

Além disso, ressaltam o caráter interino com que comanda o ministério. “A missão dele é comandar o ministério na pandemia. Ninguém vai telefonar para o Pazuello para dizer que o filho está com febre. Ele vai passar o telefone para alguém”, diz uma fonte.

As pressões pela saída de Pazuello aumentaram após o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticar a presença de militares em postos chave do Ministério da Saúde. Ele afirmou que o Exército está se associando a um “genocídio”, ao se referir à estratégia de “tirar o protagonismo do governo federal” para “atribuir responsabilidade a Estados e municípios”.

A fala gerou uma forte reação de militares no governo e dos comandantes militares. Em uma nota conjunta, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e os chefes das Três Forças repudiaram a declaração. Azevedo chegou a dizer que entraria com uma representação contra Gilmar Mendes junto à Procuradoria-Geral da República (PGR), por conta da declaração.

Ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão foi questionado por repórteres no Planalto sobre se Mendes deveria se desculpar.

“É do foro íntimo dele. Se ele tiver grandeza moral, ele fará isso, corrige o que falou”, respondeu.

A declaração é mais enfática do que as dadas anteriormente por Mourão, que é general da reserva, sobre o tema.

Os jornalistas questionaram, então, se o fato de Pazuello ser um oficial da ativa é razão de desgaste para as Forças Armadas.

“O ministro Pazuello assumiu o Ministério da Saúde numa situação complicada, ele está sob uma pressão. E obviamente existe toda essa questão preconceituosa em torno do cara é general, o cara é não sei o quê. Situação difícil para qualquer um”, respondeu Mourão. “Qualquer um que assumisse o Ministério da Saúde no momento que ele assumiu teria os mesmos problemas.”

Ele ponderou, no entanto, que o general não dever permanecer por muito tempo no cargo.

“Olha, o Pazuello ainda tem mais uns dois anos na ativa. Acredito que o presidente não vá mantê-lo mais por muito tempo como ministro. Acredito. Não sei se essa é a decisão dele”, afirmou.

Valor Econômico