É cedo para testar possíveis infectados por Bolsonaro

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Foto: Reprodução

Após a confirmação do diagnóstico positivo para Covid-19 do presidente Jair Bolsonaro na segunda (6), ministros e assessores que estiveram perto do presidente nos últimos dias se submeteram ao exame de PCR, que identifica fragmentos do vírus nas células, para saber se estavam infectados. Entretanto, existe uma vulnerabilidade nesse tipo de teste.

De acordo com o patologista Helio Magarinos Torres Filho, diretor médico do Laboratório Richet, “em indivíduos assintomáticos, ou pré-sintomáticos, o PCR tem uma sensibilidade de apenas 50%, bem menor do que os 90% para os que já apresentam sinais da doença, mesmo que leves”. Ele ressalta que, sendo um contato recente que despertou a preocupação dos ministros (alguns estiveram com Bolsonaro no último sábado em um evento com o embaixador dos EUA), existe a chance de o diagnóstico apresentar um “falso negativo”.

“O ideal é que repitam daqui a três dias ou se apresentarem sintomas”, recomendou.

Em entrevista a Época, o médico explicou como o PCR funciona e como este exame consegue detectar a Covid-19. Mencionou ainda que os laboratórios privados estão com estoques já estabilizados, mas ressaltou ser necessária a recomendação médica para a realização do exame.

Qual a eficácia do PCR e como ele funciona?

O PCR é o melhor teste para diagnosticar a Covid-19, pois ele identifica até pequenos fragmentos do vírus no corpo. Para pessoas com sintomas, a eficácia chega a 90%. Porém, sua atuação é mais limitada para indivíduos pré-sintomáticos, ou seja, que ainda não apresentaram sintomas, ou para os assintomáticos, que não tem sinais da doença. Neste caso, a eficácia cai para menos de 50%.

Em contato com uma pessoa diagnosticada ou com suspeita da doença, quando deve ser realizado o PCR?

O período ideal para realizar o exame é de 3 a 7 dias após o contato com a pessoa diagnosticada, ou com suspeita, ou se apresentar algum sintoma da doença, mesmo que leve. O resultado fica pronto entre 24h a 48h.

Os ministros e assessores se submeteram ao PCR logo que foi confirmado o diagnóstico do presidente. O ideal então teria sido esperar algum tempo antes de fazer o exame para saber se houve contaminação?

Sim ou com apresentação de sintomas. Como o contato com o presidente foi muito recente, o vírus pode ainda estar incubado. Para quem testou negativo, o ideal é que repitam se os sintomas aparecerem ou daqui a três dias. Ainda que o PCR tenha eficácia menor para assintomáticos, cerca de metade ainda é identificada, o que é importante para as medidas de isolamento, já que mesmo assintomáticos, eles estão transmitindo o vírus.

Como está a situação no laboratórios privados?

O estoque de testes PCR já está normalizado nos laboratórios privados do país, mas ele só pode ser realizado com recomendação pois é uma doença de notificação compulsória, os convênios exigem a justificativa médica (se teve contato com algum doente, se tem sintomas, etc) para cobrir o valor do exame.

Quais as precauções na hora de realizar o exame?

O ideal, por conta da pandemia, é que os laboratórios tenham o serviço de atendimento doméstico, para evitar o contato social. Há também opções drive-thru, que são boas soluções, ou atendimento com hora marcada, evitando conglomeração. E os laboratórios, claro, devem estar equipados com todas as medidas de segurança e higienização.

Além do PCR, há outros testes disponíveis para diagnóstico da Covid-19?

Há um teste rápido de antígeno lançado recentemente, que tem uma eficácia menor que o PCR, pois não identifica fragmentos tão pequenos assim do vírus. Ele é mais interessante para ser usado em políticas públicas de testagem em massa, pois mesmo não tendo uma alta eficácia, vai conseguir identificar uma boa parte dos portadores e, dessa forma, auxiliar nas medidas de prevenção. É um número que vai fazer diferença quando se pensa na população como um todo.

Qual a diferença entre o PCR e a sorologia na identificação do vírus?

A sorologia identifica os anticorpos produzidos pelo corpo ao ter contato com o vírus. Não é método ideal para diagnóstico. Isso porque a maioria das pessoas só vai começar a apresentar anticorpos 14 dias após a contaminação. Alguns nem desenvolvem um número identificável de anticorpos e outros só vão apresentar a resposta em ainda mais tempo. Nesse período, os assintomáticos estarão transmitindo a Covid-19.

Há um outro teste rápido, o “genexpert”. Como ele funciona?

É um teste de PCR cujo resultado sai em até 24h. Ele tem a mesma eficácia, porém, é mais usado em hospitais. É importante para situações como cirurgias e quando o médico precisa tomar decisões rápidas que podem fazer a diferença nas chances dos pacientes. No Brasil, os convênios não cobrem o custo desse teste, que é um pouco mais caro.

Época