Economia teve recuperação tênue em maio e junho

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Foto: Ronny Santos

Indicadores econômicos mais recentes confirmam a recuperação da atividade em maio e junho, mas com dados ainda negativos em relação ao período pré-crise e distantes do verificado antes da adoção de medidas de isolamento social para enfrentar a pandemia. Há também dúvidas sobre a intensidade da recuperação.

Nesta quinta-feira (2) foram divulgados vários dados para os dois últimos meses do segundo trimestre, entre eles, a produção industrial e índices que consideram vendas com cartões de bens e serviços.

Um novo indicador diário de atividade econômica elaborado pelo Itaú Unibanco mostra que a economia brasileira atingiu o fundo do poço no dia 28 de março e, três meses depois, havia recuperado praticamente metade das perdas verificadas em relação à primeira quinzena de março. O índice utiliza dados de gastos com cartões para estimar os resultados de bens e serviços e de consumo de energia para avalia o nível de produção.

Para o trimestre, as análises do banco apontam uma retração ligeiramente abaixo de 9%, resultado melhor que a projeção anterior de queda de quase 11%.

O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, afirma que os indicadores econômicos sugerem que o pior da atividade econômica ficou para trás, mas que há um risco de curto prazo, que é uma segunda onda da doença que afete a retomada da atividade, e um para o final do ano, que é o fim das medidas de compensação de perda de renda.

O Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), por sua vez, estima retrações da atividade de 13,4% em abril, 10,3% em maio e 7,8% em junho, na comparação anual, resultados que classifica como nada animadores. Na comparação mensal, as variações são positivas, mas a recuperação não alcança nem metade das perdas registradas em abril.

Um comitê ligado ao instituto, o Codace, anunciou nesta semana que o país entrou em sua décima recessão, considerando os últimos 40 anos, a mais intensa de todas, embora de duração mais reduzida que a última (2014-2016).

Uma prévia do indicador de atividade do Ibre aponta crescimento de 0,6% em maio, em comparação a abril. No trimestre encerrado em maio, a queda é de 10,1% em relação aos três meses anteriores e de 8,8% na comparação anual.

Um indicador da empresa Cielo, também com base no uso de cartões, mostra queda de 30% nas vendas do varejo em maio, após uma retração anual de quase 40% em abril.

“Os patamares do varejo em maio mostram recuperação quando comparados a abril, mês mais atingido pelas medidas de isolamento contra a pandemia da covid-19. O setor de supermercados e hipermercados apresentou a maior alta, enquanto os setores de móveis, eletro e lojas de departamento e vestuário apresentaram maiores recuperações”, afirma Gabriel Mariotto, diretor de Inteligência da Cielo.

Também em maio, a produção industrial cresceu 7% sobre abril. Na comparação anual, a queda é de 21,9% (27,3% em abril).

Segundo André Luiz Macedo, gerente da pesquisa do IBGE, o crescimento do mês é expressivo, mas, pelo patamar que tinha antes das perdas, o recuo ainda é mais significativo.

“Isso dá uma dimensão do tamanho do rombo, mesmo com esse avanço em maio. Existe um espaço importante a ser percorrido para zerar as perdas ocorridas no período da pandemia da Covid-19”, disse Macedo.

Ele também destacou que é cedo para falar em retomada. “Na medida que as empresas vão retomando e melhorando as atividades, claro que influencia uma melhora, mas temos que ver se crescimento permanece nos meses seguintes”, destacou.

De acordo com o IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a pouca amenização do quadro deve-se principalmente ao segmento de bens intermediários, considerado o núcleo do sistema industrial, por produzir insumos para as demais atividades.

Segundo o instituto, no caso da indústria, muito do quadro adverso também está relacionado com a contração do comércio internacional por causa da pandemia.

Para o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, uma recuperação consistente depende da evolução da doença nos grandes centros urbanos. “Parece que a gente está conseguindo, pelo menos no centro-sul do país, voltar a um certo grau de circulação sem que as condições de tratamento apresentem uma piora”, afirmou.

Outro desafio é que essa é uma recessão mais intensificada pela queda na produção do que da renda disponível, pois a injeção de recursos por causa do auxílio emergencial e a liberação extraordinária do FGTS, por exemplo, estão fazendo alguma diferença.

“O risco do ponto de vista de atividade é que não temos capacidade fiscal aparente de continuar pagando R$ 600 por mês para um contingente grande da população de forma indefinida no tempo. Em algum momento ele vai ser reduzido ou descontinuado. Isso é consequência das nossas dificuldades fiscais e apresenta um risco para a retomada da economia. Mas vejo isso como um tema mais para o último trimestre do ano. No curto prazo, o risco maior é uma segunda onda”, disse Mesquita.

Folha De S. Paulo