Em lágrimas, bolsonarista apaga vídeos contra STF

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Foto: Reprodução

Um dos youtubers alvo de busca e apreensão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em junho, em inquérito sobre a organização de atos antidemocráticos, Fernando Lisboa deletou 19 vídeos de seu canal entre quarta e quinta-feira.

Apoiador do presidente Jair Bolsonaro, Lisboa já apagou um total de 41 vídeos da plataforma digital. Em junho, sumiram outros 22 vídeos do canal de Lisboa. O levantamento foi feito a pedido do GLOBO pela empresa de análise de dados Novelo.

Ele é um dos youtubers citados em reportagem deste domingo do GLOBO com faturamento mais alto em seu canal. De acordo com a consultoria Qaest, baseado no número de visualizações, entre outros critérios, Lisboa fatura com o Youtube em torno de R$ 99 mil mensais.

Entre os vídeos apagados por Lisboa, há pelo menos sete que mencionam o STF e/ou os ministros da Corte. Um deles é intitulado como “Bolsonaro pode solicitar a destituição do STF”.

De acordo com o programador Guilherme Felitti, fundador da Novelo, Lisboa já promoveu 4 limpezas em seu canal, todas a partir do fim de maio, data que coincide com a primeira operação de busca e apreensão dentro do inquérito de fake news do Supremo.

— Desde junho, temos visto um processo de limpeza de vídeos dos canais de direita no YouTube Brasil. No caso do Lisboa, nota-se claramente um esforço calculado de tirar vídeos que possam representar perigos legais. Ainda existem vídeos no seu canal em tom belicoso contra o STF — afirma Felitti.

Procurado pelo GLOBO por um e-mail disponível em seu canal, Lisboa ainda não retornou os contatos da reportagem. Ao ser alvo de ação da PF em junho, o Youtuber fez um vídeo em que chorou e negou qualquer irregularidade.

De acordo com a Novelo, outro canais de direita no Youtube também passaram a remover conteúdo após as investigações do STF.

Um deles é o Terça Livre, do blogueiro Allan dos Santos, que, segundo a consultoria Quaest, fatura R$ 150 mil mensais na plataforma e retirou 272 vídeos em junho. Outro exemplo é o canal Giro de Notícias que removeu 148 vídeos no mês passado. Este último, de acordo com a Quaest, fatura cerca de R$ 14, 8 mil.

Silva é responsável por diferentes canais na internet acusados de propagar notícias falsas. Em 2017, o cantor Gilberto Gil conseguiu uma liminar na Justiça do Rio para que um dos sites de Silva, o Pensa Brasil, retirasse do ar uma publicação. O site havia publicado que Gil se referiu ao ex-ministro Sergio Moro como “juizinho fajuto”, ao comentar as investigações contra o ex-presidente Lula. A frase nunca foi dita.

Para o criminalista e doutor em direito penal e econômico pela USP, Conrado Gontijo, se a exclusão do conteúdo estiver sendo feita para prejudicar as investigações, o youtuber está passível de ser alvo de medidas cautelares da Justiça.

— Eu não chegaria ao ponto de dizer que é obstrução de Justiça e passível de prisão. Mas depende muito do que a pessoa busca ao apagar os vídeos. Se esses vídeos já forem de conhecimento do Supremo, a exclusão não vai mudar em nada a investigação. Agora, se objetivo for uma manobra para esconder algo, eventualmente, pode ensejar medidas contra essas pessoas para preservar provas — afirma Gontijo.

Maurício Stegemann Dieter, professor de criminologia da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, afirma que os Youtubers têm o direito de apagar o conteúdo, desde que a investigação do STF não ordene que as provas contidas naqueles vídeos específicos sejam preservadas.

— Em princípio, não vejo problema de apagar, se eles (youtubers) não têm ordem judicial para preservar o material. Pela lei, ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. É uma extensão lógica dessa garantia que eles não são obrigados a preservar conteúdo incriminatório que não tenha sido alvo de busca e apreensão ou que não tenha sido expressamente referido como de interesse público numa decisão judicial. Aquilo que o estado não acautela eles têm todo direito de eliminar e destruir. O poder judiciário não deve esperar e nem exigir de seus cidadãos uma atitude colaborativa — afirma o professor.

O Globo