Home office diminui venda de café no país

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Foto: Yorgos Karahalis / Bloomberg

Em um mundo de trabalho remoto, a passadinha na cafeteria para a dose diária de cafeína se tornou um ritual do passado já esquecido. E não importa o quanto da bebida as pessoas estejam tomando em casa, isso parece não compensar a queda na demanda.

O consumo global de café deve cair neste ano pela primeira vez desde 2011, prevê o Departamento de Agricultura dos EUA. Esse cenário é traçado mesmo com o aumento significativo nas vendas do grão em supermercados para o abastecimento das despensas durante a quarentena.

As paralisações em cafés e restaurantes, que respondem por cerca de 25% da demanda, foram esmagadoras. E pode levar um tempo até o retorno à normalidade pré-pandemia.

O desaparecimento da cultura do café está acontecendo em todos os grandes mercados. O pesquisador Marex Spectron estima que, globalmente, mais de 95% do mercado não-doméstico foi paralisado em algum momento durante a pandemia. Esta é mais uma dura consequência do coronavírus, que afastou tanto as pessoas que nem mais o simples prazer de um cafezinho é seguro.

Para a Notes, uma cadeia de cafés de Londres, as restrições na cidade estão reduzindo, mas a maioria dos seus dez cafés que fazem entregas para escritórios está fechada.

— Será um retorno lento para nós, já que muitos escritórios em Londres não reabrirão antes do fim do verão (no Hemisfério Norte), e alguns só devem reabrir no ano que vem — afirmou o cofundador da rede Robert Robinson.

Apesar do início da reabertura das economias, os consumidores parecem hesitar em sair para comer fora. E as cafeterias, que geralmente dependem do público das manhãs e dos fins de tarde, foram especialmente afetadas.

O Dunkin’ Brands Group perdeu a multidão que lotava seus restaurantes para o café da manhã, enquanto o Starbucks está reformulando seu modelo de negócios, criando um formato de loja para retirada, sem as mesas e cadeiras que tornaram a os restaurantes da rede um popular ponto de encontro.

— Se você sentir vontade de tomar um cappuccino, pedir por delivery não é a mesma coisa, pois existe todo o lado social do café — destacou Robinson.

A recuperação lenta na demanda por café pode ter efeitos devastadores para as cerca de 125 milhões de pessoas no mundo que dependem da colheita para subsistência. Os produtores já sofriam com uma crise prolongada provocada por anos de aumento na oferta, com a consequente queda nos preços.

O Citigroup prevê que os preços do café tipo arábica podem cair até 10% na segunda metade do ano, para cerca de US$ 0,90 a libra, se aproximando do custo de produção. Com esse cenário, a Organização Internacional do Café alerta para os riscos do aumento do trabalho infantil, por causa do avanço da pobreza nas regiões produtoras.

No Brasil, a Suplicy Cafés Especiais, uma grande rede de cafeterias, foi forçada a adiar pagamentos a agricultores por remessas já entregues. E os novos pedidos serão retomados gradualmente, seguindo a retomada dos negócios, afirmou o diretor executivo Felipe Braga.

A Suplicy opera 25 lojas, a maioria delas foi fechada por restrições provocadas pela Covid em meados de março. Algumas reabriram recentemente, em meio ao abrandamento das restrições, mas fecharam novamente pela falta de clientes.

— Alguns dos nossos franqueados já nos alertaram que irão fechar permanentemente — afirmou Braga.

Alguns lojistas estão adotando medidas ousadas para manterem seus negócios. Max Crowley, dono de duas cafeterias da rede Bandit em Nova York que continuam “em pause” por causa dos escritórios fechados, abriu uma franquia em Hamptons, um enclave em Southampton que recebeu muitos novaiorquinos que fugiram da pandemia.

— O movimento em Manhattan ainda está muito baixo. Em Hamptons está em alta. Isso faz sentido para nós, é para onde muitos de nossos clientes vão — disse Crowley.

Na Ásia, o mercado para o café que mais cresce, o consumo em restaurantes e cafeterias deve se recuperar no segundo semestre, com a reabertura econômica em muitos países da região, prevê Tan Heng Hong, analista na consultoria Mintel. Para o Departamento de Agricultura dos EUA, a recuperação global virá em 2021.

Mesmo assim, uma segunda onda de infecções pode interromper os planos de reabertura. O McDonald’s interrompeu a retomada dos serviços em seus restaurantes em todos os estados americanos, com a explosão do número de novas contaminações nas últimas semanas.

E a reabertura das lojas não garante a retomada dos negócios, pois os clientes ainda temem o contágio. O Starbucks já reabriu 95% das suas lojas nos EUA, mas as vendas em maio registraram queda de 43% frente a 2019.

Para piorar a situação, a pandemia provocou demissões e queda na renda das famílias, que tendem a reduzir suas despesas com refeições fora.

— Acreditamos que os consumidores devem diminuir os gastos e se voltar para o café instantâneo, que é mais barato, enquanto apertam os cintos em meio a perspectivas econômicas negativas — afirmou Taohai Lin, analista de varejo e consumo da Fitch Solutions. — Os consumidores devem continuar adotando a bebida caseira e o café instantâneo, tanto para evitar idas aos cafés, como por ser uma alternativa mais em conta.

O Globo