Indígena de 15 anos acusa Bolsonaro por mortes

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Foto: Valéria Maniero/RFI

Um adolescente indígena do Brasil chamou atenção nesta quarta-feira (1°) ao participar, via vídeoconferência, do encontro anual sobre os direitos das crianças do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Roger Ferreira Alegre, de 15 anos, da comunidade Amambaí, do povo Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, fez um discurso no painel sobre crianças e meio ambiente.

Falando em espanhol, o adolescente destacou as razões pelas quais é importante proteger o territorio indígena, fez críticas ao governo Bolsonaro e falou dos impactos do coronavírus na sua comunidade.

“O meio ambiente afeta diretamente os direitos de meninos e meninas. Para a infância indígena, a proteção do território é a forma de garantir nosso estilo de vida tradicional, sobrevivência, nosso desenvolvimento como ser humano e o exercício de todos os nossos direitos humanos. Infelizmente, no contexto guarani, há uma dívida histórica por parte do governo do Brasil em demarcar nosso território. O governo Bolsonaro paralisou o processo de demarcações no país. Como consequência, vivemos em uma situação de insegurança, com riscos à saúde, à alimentação, à integridade física e mental”, disse Roger, que discursou representando o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O adolescente também denunciou a situação vivida por meninos e meninas indígenas, assim como as condições precárias enfrentadas por eles no dia a dia. “Nossas crianças sofrem com taxas elevadas de desnutrição. Somos mais de 2 mil famílias – 60% crianças, sobrevivemos em barracas de lona sem acesso à água, saúde, educação, alimentação, em uma verdadeira crise humanitária”, afirmou.

Segundo ele, “no ano passado, 15 crianças entre 6 e 9 anos que tomavam café na escola indígena na aldeia Guyraroká foram cobertas por uma nuvem de agrotóxico, causando vários danos à saúde”.

A pandemia de Covid-19 atingiu a comunidade de Roger em cheio. No discurso feito na ONU, no mesmo dia em que um grupo de ONGs apresentou na Comissão de Direitos Humanos uma denúncia contra Bolsonaro, ele disse que faltam alimentos nos acampamentos e denunciou um foco de contaminação.

“Muitos dos nossos pais e familiares adultos foram contaminados trabalhando nas empresas frigoríficas da JBS”, disse.

Antes de dizer “muchas gracias” (obrigado), o adolescente afirmou que “a principal medida para proteger os direitos das crianças indígenas é garantir a demarcação dos nossos territórios”.

“O foco da sua fala é que a proteção dos povos indígenas, em especial as crianças, é baseada na proteção de seus territórios tradicionais, sem os quais, nem o meio ambiente nem seus direitos são protegidos”, acrescentou Paulo Lugon, representante do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

Rfi