Isolamento baixo em MG fez explodir a pandemia

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Foto: Gledston Tavares/Frame Photo/Estadão Conteúdo

Se desde o começo da pandemia de Covid-19 havia um sentimento truncado de bonança no estado de Minas Gerais (MG), no mês de julho chegou a tempestade.

A situação de MG vem se complicando a olhos vistos e isso pode ser notado ao comparar os dados de nosso último artigo, “Minas Gerais: Subnotificação, baixa testagem e descoordenação entre Estado, municípios e União no enfrentamento à COVID-19”, publicado aqui no blog e derivado do dossiê “Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil”. Os primeiros dados foram coletados em 17 de junho de 2020 e os dados deste artigo foram coletados em 15 de julho de 2020.

Como se vê na tabela a seguir, há um quadruplicar de todas as medidas observadas sobre o avançado da Covid-19 em MG entre os meses de junho e julho de 2020. Em julho o número absoluto de casos em Minas Gerais triplicou em pouco mais de um mês, passando para 82.010 casos, fazendo com que MG avançasse 4 posições, de 12º para 8º, na listagem comparada dos estados brasileiros. O número de óbitos também seguiu a mesma tendência e triplicou, chegando a 1.752 mortes, levando MG de 13º para 10º na listagem de óbitos comparados entre estados brasileiros. Já são 371,5 casos por 100 mil habitantes e 8,0 mortes por 100 mil habitantes

Nos gráficos dispostos a seguir se pode visualizar melhor o avanço da contaminação em Minas Gerais. Desde março os casos de Covid-19 vêm trilhando uma curva ascendente, no entanto, foi em meados do mês de junho que a curva se tornou mais oblíqua. De fato, a cada cinco casos de Covid-19 em MG, quatro foram registrados no mês de junho

A comparação do registro de novos casos de contaminação diária por Covid-19 no gráfico abaixo também é relevante, já que indica que em MG não está, nem de longe, caminhando para a estabilidade no espalhamento da doença. A curva de contágio, como se pode observar, vem em uma crescente diária de casos. Dois marcos aqui são importantes, o primeiro no dia 3 de junho, data em que se registrou pela primeira vez o patamar de mais de 1000 pessoas contaminadas em único dia em MG e um segundo marco em 24 de junho, data em que o patamar de 1000 pessoas contaminadas por dia se fortaleceu e não mais decresceu[v], chegando em 26 de junho ao ápice de 6122 contaminados em um dia.

A curva de óbitos em MG também segue em forte crescimento, como aponta o gráfico abaixo. Sendo que ela ganha uma inclinação maior em meados de junho de 2020.

Em relação aos registros de morte por Covid-19 no estado fica visível no gráfico abaixo que os números vêm trilhando uma crescente. A média de mortes diárias por Covid-19 em MG no mês de maio foi de 6,1, em junho passa para 23,1 e nos 14 primeiros dias de julho já é de 51,64, com um pico de 90 óbitos de mineiros no dia 9 de julho de 2020.

Nessa toada a interiorização da doença no estado vem ocorrendo à passos largos, dos 853 municípios mineiros, 763 tem registros de pessoas contaminadas por Covid-19[vi], o que corresponde a 89,4% das cidades de MG. Além disso, 37,2% dos municípios, o que corresponde a 317 cidades, registraram mortes por Covid-19

Romeu Zema (Partido Novo), o governador de Minas, permaneceu até o dia 16 de junho alinhado com o presidente da república Jair Bolsonaro[ix] nas questões relativas ao enfrentamento do Covid-19 no Brasil.

Nos meses de março e abril, Zema se contrapôs ao Fórum de Governadores e não subscreveu cartas que cobravam respostas mais precisas da União em relação à pandemia de Covid-19. Também em abril o governador mineiro chegou a visitar o presidente da república para discutir a situação fiscal de Minas, a resultante dessa conversa, entre outras, foi a construção de um protocolo de reabertura dos municípios mineiros pelo governo estadual, o “Programa Minas Consciente”.

Contudo, a falsa sensação de calmaria vivida por MG, e insistentemente publicizada pelo governador mineiro, parece ter passado.

Diante de uma situação próxima ao colapso em Minas, em 17 de junho o governador mineiro reclamou da falta de coordenação nacional ao combate na COVID-19, declarou que fazia falta um protocolo único para todos os estados e municípios e colocou que as sucessivas trocas de ministros da saúde ao longo da pandemia prejudicaram as ações de combate ao Coronavírus[x].

Ao mesmo tempo Zema segue o ataque político ao prefeito da capital mineira. Alexandre Kalil (PSD), que tem se distanciado das sugestões da União e do governo estadual em relação à Covid-19, mantendo Belo Horizonte sob medidas mais rígidas durante a pandemia, tem sido criticado por Zema desde o início da pandemia por diversos motivos, se antes pela rigidez das medidas, agora por supostamente não abrir leitos de UTI suficientes.

Fato é que Zema, diante da situação de caos pandêmico sentida em Minas Gerais a partir de junho, vem tentando que a culpa política da situação que o estado começa a viver não recaia sobre si. Para isso o Governador tem tensionado a crítica aos inimigos, como Alexandre Kalil e aos aliados, como Jair Bolsonaro.

 Estadão