Maia vê Moro “fortíssimo” em 2022

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Foto: Reprodução

Ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro “virou político” e tem muita chance de chegar ao segundo turno da eleição presidencial caso seja candidato em 2022. A avaliação é do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), feita ontem em longa entrevista à Globonews.

“Virou político, né?”, disse Maia, esclarecendo que não considerava a mudança necessariamente ruim. “Acho bom que ele venha para o debate político, dá legitimidade ao que ele defende. Acho que ele fez uma boa gestão [no ministério]”. Indo mais longe, Maia afirmou que Moro desponta como uma dos favoritos na corrida presidencial. “Acho que se for candidato [a presidente], é fortíssimo, tem muita chance de chegar ao segundo turno”.

A fala contrastou com críticas do presidente da Câmara à atuação de várias alas da Justiça. Procuradores da Operação Lava-Jato, apontou, não querem estar sob qualquer controle e prestar contas de seu trabalho. O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) “tem pouca eficiência”. “O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pune muito mais juízes do que o CNMP seus procuradores”.

Em um tom mais conciliador, Maia afirmou que a relação com o governo do presidente Jair Bolsonaro melhorou nas últimas semanas. “Ainda não é de harmonia”, ponderou, mas disse que cabe ao presidente promover um pacto entre todos os poderes, incluindo governos estaduais e municipais, para uma atuação integrada e que supere divergências no enfrentamento da pandemia da covid-19.

“Deveríamos fazer uma reunião, sentar à mesa com todos dispostos a abrir mão de parte do que acreditam. Precisamos estar unidos, só uma pessoa tem legitimidade para isso, o presidente, que tem mandato até 2022 e deve coordenar essa conversa”.

Para ele, a versão “paz e amor” de Bolsonaro nas últimas semanas é fruto da compreensão do presidente de que precisa dialogar para encontrar soluções para a crise; “Bolsonaro chegou [à Presidência] desconfiando demais da política. Nunca tinha sido líder de partido, presidido uma comissão. Talvez ele tenha visto que as coisas não acontecem como ele imagina, com conspirações, que ele foi vendo que não é dessa forma. Fico com a tese que o presidente entendeu que, sem um bom diálogo, as coisas não vão andar”. Maia atestou que sua relação com o presidente “hoje é boa. Sou muito transparente, falo o que acredito de forma aberta”.

O presidente da Câmara afirmou que é fundamental também que Bolsonaro afaste do entorno do governo “lunáticos” que interferem nos rumos da gestão. “Tem a questão dos apoios dos movimentos mais radicais, que o levaram a este caminho. Essas redes querem viralizar o ódio para manter sua influência sobre o presidente”.

Questionado sobre quem seriam os lunáticos, exemplificou citando o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub. Maia foi mais longe e aconselhou o Banco Mundial a rejeitar a indicação do ex-ministro para uma diretoria do órgão. “Espero que os lunáticos deixem de ser relevantes. Um deles está nos Estados Unidos. O Banco Mundial não merece esse tipo de política. Tivemos um dano de um ano e meio na Educação”. Mirando outro bolsonarista, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, Maia afirmou que a equipe econômica foi alertada das perdas que o país vem tendo e poderá ter por conta da gestão da Pasta.

Não há qualquer chance, enquanto Maia estiver no comando da Casa, de se aprovar um novo imposto nos moldes da antiga CPMF, garantiu. “Sou radicalmente contra CPMF ou um imposto disfarçado. Até 1º de fevereiro, enquanto eu for presidente, não contem com a presidência da Câmara, não será pautada criação de imposto”.

Para Maia, “a aprovação de uma reforma tributária é prioridade” para que o país tenha condições de futuramente retomar o crescimento, bem como uma reforma administrativa que privilegie a meritocracia no serviço público. “Prioridade número um para Brasil voltar a ser competitivo é a reforma tributária. Precisamos retomar esse debate nesta semana. Impacto de médio e longo prazo, ganho de captação de investimentos”.

Questionado sobre o Renda Brasil, programa de distribuição de renda com o qual o governo pretende substituir o Bolsa Família, Maia disse que ele não ataca a questão mais importante, que é promover a mobilidade social das famílias. “Renda Brasil é mais do mesmo, unificar o que já existe, aumentar o valor. Precisamos ir além da transferência de renda, ter uma variável que estimule a mobilidade social das famílias”. Neste ponto, e lembrando os efeitos da pandemia, Maia previu que o desemprego no Brasil pode chegar a 17% da população economicamente ativa.

Maia previu ainda que a Câmara fará esta semana as discussões finais para regulamentar a criação do novo Fundo Nacional da Educação Básica (Fundeb). “Texto melhorou muito, está muito bom. Temos mais uma semana de debate e depois devemos votar. Essa matéria é fundamental”.

Valor Econômico