Nos EUA, aumento de mortes por covid19 sucede maior contágio

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Foto: MARK FELIX / AFP/15-7-2020

Os Estados Unidos registraram um crescimento significativo das mortes por Covid-19 pela primeira vez desde abril, quando a pandemia ganhou força no país. Na última semana, o número de óbitos voltou a subir, minando a retórica do presidente Donald Trump de que o aumento recente de casos se devia apenas à ampliação da testagem, e não à aceleração da contaminação, e que isso se refletia no fato de os óbitos não estarem aumentando.

Desde o dia 1º de junho, a média semanal no número de novas mortes cresceu em 20 dos 50 estados americanos, segundo os dados do New York Times. A tendência é alimentada por estados do Sul e do Oeste americano que seguiram as pressões de Trump para retomar as atividades econômicas, mesmo sem cumprirem as diretrizes consideradas seguras para fazê-lo.

No Texas e no Arizona, onde a situação é mais grave, os novos óbitos aumentaram 319% e 307%, respectivamente, desde o início de junho. Na cidade de Nova York, epicentro da pandemia em abril e maio, as mortes caíram 64% no mesmo período, em meio à reabertura gradual e controlada das atividades, alvo de críticas de Trump e seus aliados.

Desde que governadores aliados a Trump começaram a afrouxar as restrições, em maio, os novos casos saíram de controle: na quinta, o país registrou 75,6 mil novos casos da doença, quebrando recorde pela 11ª vez no mês, segundo o New York Times. Segundo a contagem da Universidade Johns Hopkins, as novas infecções foram 68 mil, conforme os casos totais ultrapassam 3,5 milhões, com 138 mil mortes.

Até a semana passada, no entanto, as mortes não subiam na mesma proporção dos novos casos algo que Trump vinha usando para minimizar a crise, afirmando que os novos diagnósticos eram apenas uma consequência do aumento da testagem. Em um tuíte no dia 6 de junho, ele afirmou que a taxa de mortalidade americana era “praticamente a mais baixa do mundo”..

Segundo especialistas ouvidos pelo New York Times, no entanto, a aparente estabilização das mortes em um momento inicial foi justificada pelo crescimento dos contágio entre os mais jovens, que têm menos riscos de desenvolver casos graves, e pela ampliação da testagem, que facilita o diagnóstico em uma fase inicial da doença. Com isso, o intervalo entre a confirmação da infecção e o óbito seria maior que em março e em abril, quando havia falta de testes. Este hiato teria chegado ao fim na semana passada.

Apesar de uma estabilização aparente nos últimos dias, projeções mostram que o número de mortes deverá continuar a crescer. Alguns dos estados que veem os aumentos mais acentuados no número de mortes lidam também com a aceleração recorde de novas internações e de novos diagnósticos, sinal de que a subnotificação possivelmente também é significativa.

Segundo o epidemiologista-chefe dos EUA, Anthony Fauci, que se tornou nêmesis do governo apesar de fazer parte da força-tarefa da Casa Branca para a pandemia a previsão é que os novos casos diários cheguem a 100 mil caso o surto atual não seja controlado. Ainda assim, Trump pressiona para que todas as escolas sejam reabertas integralmente no início do novo ano letivo, entre agosto e setembro. Em um briefing para a imprensa, a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, disse que “a ciência não pode ficar no caminho da reabertura” das instituições de ensino:

— Quando ele [Trump] diz abertas, ele quer dizer abertas e cheias, com crianças podendo participar das aulas todos os dias. A ciência não pode ficar no caminho disso — disse McEnany, referindo-se a restrições anunciadas por diversas cidades, como classes reduzidas e aulas on-line e presenciais intercaladas.

 

Trump vem ameaçando não liberar auxílios emergenciais para os distritos escolares que não voltarem com as atividades presenciais na retomada do ano letivo, em setembro, e chegou a emitir uma ordem para revogar os vistos de universitários estrangeiros cujas aulas fossem exclusivamente por videoconferência no próximo semestre. A medida foi revogada após um processo movido pela Universidade Harvard e pelo MIT, que contou com o apoio de outras 59 instituições de ensino.

Tal qual a volta às aulas, as máscaras — que especialistas fundamentais para conter o contágio — também são alvo de uma disputa política no país. Buscando conter a pandemia, mais da metade dos estados anunciaram diretrizes que obrigam o seu uso, porém alas conservadoras argumentam que a obrigatoriedade do equipamento de proteção viola as liberdades individuais.

Aliado de Trump, o governador da Geórgia, Brian Kemp, anunciou nesta quinta que entrou na Justiça contra a cidade de Atlanta, onde o uso de máscaras é obrigatório. Segundo processo, a prefeita democrata da cidade, Keisha Lance Bottoms, “não tem autoridade legal para modificar, mudar ou ignorar” as ordens do governador, que dias antes suspendeu a obrigatoriedade do equipamento no estado.

Kemp defende que o uso de máscaras seja apenas “fortemente recomendado”.

O Globo