Vítima de Bolsonaro, jornalista ganha prêmio internacional

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Foto: Reinaldo Canato/Folhapress

A repórter Patrícia Campos Mello, da Folha, ganhou o prêmio Maria Moors Cabot, da Universidade de jornalismo de Columbia (EUA), por sua carreira como repórter e pelo seu trabalho investigativo. Outros três profissionais também foram premiados.

“Em uma época em que os jornalistas estão cada vez mais sob ataque por causa de seu trabalho, o apoio global à imprensa livre e ao fluxo livre de informações nunca foi tão importante”, disse o presidente da Columbia, Lee C. Bollinger.

Em 2018, reportagem da Folha mostrou que uma rede de empresas bancavam pacotes de disparos em massa de mensagens pelo WhatsApp durante a campanha eleitoral. Algumas delas recorreram ao uso fraudulento de nome e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.

“O prêmio é um reconhecimento para todos os jornalistas brasileiros, em especial as mulheres jornalistas, que continuam fazendo seu trabalho, mesmo em um ambiente de intimidação à imprensa. E o nosso trabalho é investigar e fiscalizar ações de todos os governos”, afirmou Patricia Campos Mello.

Patricia é formada em jornalismo pela USP e mestre em Business and Economic Reporting pela NYU. Esteve diversas vezes na Síria, Iraque, Turquia, Líbia, Líbano e Quênia fazendo reportagens sobre os refugiados e a guerra. Foi também a única repórter brasileira que, em 2014 e 2015, cobriu a epidemia de ebola em Serra Leoa.

É autora de “Lua de Mel em Kobane”, publicado pela Companhia das Letras em 2017. Recebeu diversos prêmios, como o Prêmio de jornalismo digital Rei da Espanha, em 2018, e o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa, concedido em 2019 pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

Patrícia idealizou o projeto “Um Mundo de Muros”, vencedor do Grande Prêmio Petrobras de Jornalismo, o principal do país, publicado de junho a setembro de 2017 pela Folha.

A reportagem retrata que o muro que separa pobres de viajantes rumo ao litoral paulista se ergue, afinal, sobre o mesmo preconceito que separa refugiados somalis de quenianos.

A ideia de Patrícia e do repórter-fotográfico Lalo de Almeida consumiu oito meses de trabalho deles e de outros 20 repórteres de texto e imagem, editores, programadores, infografistas e técnicos.

Patrícia foi correspondente em Washington do jornal O Estado de S. Paulo e atualmente é repórter especial e colunista da Folha.

Também da Folha, Otavio Frias Filho, diretor de Redação (1957-2018), Clóvis Rossi (1943-2019), Gilberto Dimenstein (1956-2020) e Alberto Dines (1932-2018) já receberam esse prêmio por seus trabalhos.

Também levaram o prêmio Ricardo Calderón Villegas, repórter investigativo da Colômbia, e os americanos Stephen Ferry e Carrie Kahn.

Villegas, com 25 anos de carreira, viu suas investigações pela revista Semana levarem à tona escândalos de corrupção que abalaram o país.

Em uma apuração recente, ele revelou que oficiais de inteligência do Exército estavam coletando ilegalmente informações sobre o paradeiro de fontes de notícias de jornalistas americanos e dezenas de repórteres colombianos.

Por seu trabalho, Calderón foi repetidamente assediado e recebeu sérias ameaças de morte. Em 2013, ele sobreviveu a uma tentativa de assassinato depois que assaltantes não identificados atiraram em seu carro fora de Bogotá.

Outro premiado foi o fotógrafo americano Stephen Ferry, com mais de três décadas de sua vida dedicadas a projetos com impacto que se tornaram modelos de fotojornalismo imersivo. Em 1993, ele documentou a exumação do massacre de El Mozote em uma floresta em Morazán, El Salvador, onde o batalhão Atlacatl, treinado nos EUA, matou mais de 800 civis.

As imagens de Ferry das evidências incontestáveis ​​reveladas pela Equipe Argentina de Antropologia Forense foram publicadas no The New Yorker e na primeira página do The New York Times. Em 2000, Ferry se mudou para a Colômbia para cobrir o conflito armado interno daquele país.

Já Carrie Kahn, da rádio NPR, dos Estados Unidos, relata histórias do México e do Caribe há quase três décadas no rádio. Ela foi a primeira jornalista da rede pública de rádio a chegar ao Haiti após o devastador terremoto em 2010, e voltou repetidamente ao país, expondo instituições beneficentes que não trabalhavam pelas vítimas como deveriam.

Como correspondente internacional da NPR no México, nos últimos oito anos, Kahn produziu reportagens sobre violência relacionada ao tráfico de drogas, turbulências política e a migração crescente.

Folha