Afastamento de Witzel não resolve problemas de Bolsonaro

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Foto: Reprodução/ Mídia

O afastamento do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), do cargo, determinado na sexta-feira pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), deverá ser benéfico para a imagem do presidente Jair Bolsonaro apenas no curto prazo. Essa é a visão de políticos fluminenses ouvidos pelo Valor , que acreditam também que a operação “Tris in Idem” deve acelerar o processo de impeachment que Witzel já vinha enfrentando na Assembleia Legislativa.

O ex-deputado federal Chico Alencar (Psol) acredita que Bolsonaro deverá capitalizar apenas “momentaneamente” os efeitos do afastamento de Witzel. “Isso é muito frágil, muito passageiro. O Bolsonaro pode estar se achando vitorioso politicamente, mas as investigações sobre os esquemas dele só não prosperaram mais até agora porque ele encontrou modos e meios de se proteger”, disse.

Para Alencar, o afastamento do governador “é muito pouco para quem está acreditando que a derrocada do Witzel significa blindagem de investigações sobre os vínculos dele [Bolsonaro] com o que há de podre na política do Rio”.

O ex-deputado e ex-ministro Miro Teixeira (Rede) defendeu que haja um “rito sumaríssimo” das investigações envolvendo Witzel. Para o ex-deputado, caso se confirme a tese defendida por Witzel de que há perseguição política por parte de aliados do presidente Jair Bolsonaro, pode haver dano direto à imagem do presidente.

“Se houve condução política, como disse o governador, se isso foi induzido pelo presidente da República, repercutirá negativamente para ele. Se não foi, não chegará qualquer índice do presidente, porque aí tem ação do Ministério Público e do Poder Judiciário”, afirmou Miro, para quem “todo problema que Bolsonaro enfrenta é criado por aliados ou ex-aliados”. “Porém, é tão grave a decisão, que o ministro [Benedito Gonçalves, do STJ] tem que ter visto provas materiais incontestáveis.”.

O deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (em processo de desfiliação do PSDB, rumo ao Cidadania), acredita que o afastamento de Witzel fortalece o processo de impeachment contra o governador.

“Estava claro, desde a Operação Placebo, mas com a operação de hoje [sexta-feira] ficou ainda mais clara a hipótese de crime de responsabilidade. Fortalece mais do que nunca o pedido de impeachment”, afirma Luiz Paulo, um dos autores do pedido de impeachment do governador, que na própria sexta-feira teve seu andamento autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) depois de uma contestação da defesa de Witzel.

“O governador sempre trabalhou para postergar o processo do impeachment, mas o tempo fala contra ele, não a favor”, afirmou.

O parlamentar não crê que a Operação Tris in Idem, que cita o possível envolvimento de deputados estaduais em irregularidades, afetará o rito do processo. De acordo com o MPF, alguns deputados estaduais podem ter se beneficiado de dinheiro desviado de sobras dos duodécimos do Poder Legislativo. “[A operação] deriva de uma delação premiada, não houve pedido de prisão contra deputados estaduais”, defendeu. “Em alguns casos há apenas citações. Defendo que todo deputado tem que ser investigado, garantida a defesa ao contraditório. A melhor saída é investigação. Mas isso não prejudica andamento do parlamento, que tem 70 deputados”, argumentou.

Luiz Paulo discorda também de que há no Rio uma crise de sucessão, com o afastamento de Witzel, porque não há “fato concreto” contra o governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), André Ceciliano (PT), que foram alvos de busca e apreensão em suas residências. Já o deputado federal Pedro Paulo (DEM-RJ) acredita que o envolvimento do vice e governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), e de Ceciliano traz uma “crise de sucessão” para o governo fluminense.

“Isso faz pensar em novas eleições para o governo do Estado do Rio de Janeiro, para que saia daí alguém ungido pelas urnas para governar. O quadro é de ingovernabilidade, sem perspectiva de sucessão, isso é muito grave”, disse.

Para Pedro Paulo, mesmo que Witzel consiga reverter a decisão monocrática no STJ, ainda há o risco impeachment na Alerj. Com a linha sucessória desacreditada, pelas investigações, o deputado federal crê que o caminho para antecipação das eleições ou uma intervenção federal está aberto.

“Hoje temos uma crise na segurança pública crescendo nos últimos dias, um quadro econômico-fiscal de calamidade e mais uma calamidade na área da saúde pública, com índices de contaminação de covid-19 que são um dos piores do mundo. Não acredito que [uma intervenção] seja desejada pelo presidente [Jair Bolsonaro], porque tranca pauta de emendas constitucionais no Congresso, mas pode acabar entrando no raio”, comentou o parlamentar.

Valor Econômico