Aras se sente “constrangido” por Bolsonaro

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Foto: Marcos Corrêa/PR

O procurador-geral da República, Augusto Aras, disse a interlocutores que tem sentido incômodo com o presidente Jair Bolsonaro. A avaliação é que Bolsonaro e o advogado de sua família, Frederick Wassef, têm agido de forma a constranger o procurador-geral – responsável por acusar o presidente da República em eventuais crimes cometidos pelo chefe do Executivo. Está sob tutela da Procuradoria-Geral da República (PGR) inquérito em que se apura se Bolsonaro interferiu na Polícia Federal (PF), aberto com base em declarações do ex-ministro Sergio Moro.

Depois que a revista “Crusoé” divulgou reportagem afirmando que Aras teria recebido pedido de Bolsonaro para receber o advogado Frederick Wassef na sede da Procuradoria-Geral da República (PGR), no final do ano passado, Aras demonstrou surpresa e irritação com a notícia, conforme apurou a reportagem.

A integrantes de sua equipe, Aras foi categórico: garantiu que o presidente jamais lhe pediu para receber Wassef. É comum que o procurador-geral e os subprocuradores recebam advogados para tratar sobre causas nas quais os defensores têm procuração legal para atuar. Essas visitas têm de ser previamente agendadas na PGR.

Segundo a versão contada pelo procurador-geral a membros de sua equipe, Wassef fez contato com a PGR e informou a intenção de marcar uma reunião com Aras para tratar de questões da JBS, frigorífico da J&F. A rescisão dos acordos de colaboração dos executivos do grupo pode ser determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em julgamento sem data prevista para ocorrer. Em novembro de 2019, Aras se manifestou favoravelmente à rescisão.

Aras disse ter orientado sua chefia de gabinete a encaminhar o advogado ao então coordenador da “Operação Lava-Jato” na PGR, o subprocurador José Adonis Callou de Araújo Sá – que pediu dispensa da função em 23 de janeiro depois de se desentender com o procurador-geral.

Ainda conforme a versão que Aras relatou a seus comandados, José Adonis recebeu Wassef, mas interrompeu a conversa depois de ter perguntado ao criminalista se ele tinha procuração para atuar no caso e a resposta foi negativa. No passado, Wassef advogou para a JBS e recebeu honorários advocatícios que somaram R$ 9 milhões entre 2015 e 2020.

O incômodo de Aras com o presidente também resulta de uma visita surpresa. Na manhã de 25 de maio, ao fim de solenidade virtual para posse do subprocurador Carlos Alberto Vilhena, da qual Bolsonaro participou, Aras perguntou ao presidente se ele gostaria de dizer algo. Bolsonaro então pediu para ir à sede da PGR apertar a mão do novo subprocurador – a visita fora de protocolo durou 15 minutos e constrangeu Aras diante de pares e comandados.

A avaliação de pessoas próximas a Aras é que Bolsonaro parece querer colocar em xeque a autoridade e a independência do procurador-geral com demonstrações públicas de proximidade que não parecem republicanas.

A situação é agravada por um fato criado pelo próprio Bolsonaro, que nomeou Aras para o cargo por fora da tradicional lista tríplice de escolha para procurador-geral da República, elaborada há quase duas décadas pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). A gestão de Aras tem sido criticada na PGR e o órgão vive momento de conflagração.

Valor Econômico