Brasileira relata medo em Beirute

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Foto: Reprodução

Guia de turismo no Líbano, a brasileira Amanda Kaddissi relatou à CNN a sensação de incerteza vivida no país – que se agravou com a explosão que destruiu parte da capital Beirute nesta quarta-feira, causando a morte de mais de 70 pessoas e deixando centenas de feridos. As circunstâncias da explosão ainda estão em investigação, mas é considerado provável que a origem tenha sido um armazém de nitrato de amônio, composto gealmente utilizado como fertilizante e que tem potencial explosivo.

Contando sua experiência, Kaddissi aponta que o turismo do país vivia grande momento até março, mesmo em meio à crise econômica vivida pelo país. Desde então, porém, uma série de problemas se sucederam e, após as explosões, ela teme por um agravamento da crise.

“Até março deste ano eu pegava vários grupos de brasileiros para mostrar a capital, mas agora vemos essa situação de guerra, tudo destruído. Primeiro foi o novo coronavírus e desde então estamos sem trabalho”, conta Kaddissi. “Quando está tudo bem, até ficamos com receio, com a impressão de que algo ruim pode acontecer, por conta do histórico do país”, lamenta.

Kaddissi vive a cerca de 20 quilômetros de Beirute e estava fora da capital, com seu filho, quando a explosão que devastou parte da cidade ocorreu. Ela diz não ter conseguido dormir com os temores sobre o futuro do país.

“A gente pensa: dorme? Não dorme? Será que foi um acidente mesmo? Até agora não temos informações certas se isso foi um acidente mesmo ou não. O medo é de acontecer alguma coisa pior ou estourar uma guerra. Temos essa tensão de que a qualquer momento pode acontecer uma outra coisa e a incerteza do dia seguinte”, diz.

“A gente ouve falar de pessoas desaparecidas, que não se sabe em qual hospital estão. É como se fosse uma guerra mesmo. Passando várias guerras não temos certezas. Será que foi acidente mesmo ou estão escondendo algo?”, acrescenta a brasileira.

Ela acredita que a instabilidade política do país – com a expectativa de que nos próximos dias haja uma conclusão sobre as circunstâncias da morte do ex-premiê Rafik Hairi, ocorrida em 2005 – seja mais um ingrediente de tensão.

“A parte política é complexa e muitas coisas vão acontecer nesta semana. Depois de anos vão anunciar agora quem matou o Hariri e outros anúncios. A gente não sabe se há algo relacionado com isso ou não. E todos pensam: será que vai acontecer algo pior até o fim de semana?”, questiona.

A guia brasileira espera mais detalhes sobre o plano de estado de emergência antecipado por autoridades do país.

“Vamos ficar de luto por três dias e o país deve ser fechado por quinze dias, proibindo as pessoas de saírem nas ruas”, projeta. “Já se fala sobre o nitrato de amônio ser tóxico e quem vive em Beirute deve tentar sair da região”.

Kaddissi teme que o país não tenha estrutura para socorrer as vítimas e espera por ajuda internacional para uma reconstruação.

“A região onde aconteceu a explosão é o centro de Beirute, que já tinha sido reconstruído de outro atentado. Beirute é como se fosse uma águia, que renasce das cinzas, mas é triste ver sempre a capital destruída. Foi na parte principal da cidade, onde ficam os melhores hotéis, melhores restaurantes e a vida noturna. Para reconstruir, vai precisar de muita ajuda externa”, disse.

Segundo ela, a crise econômica já tornava a vida difícil no país nos últimos tempos, mesmo que segmentos como o turismo estivessem em momentos favoráveis.

“A vida já estava difícil pela crise econômica. Muita coisa é importada e o preço de tudo subiu muito com a devalorização da moeda, tivemos que cortar coisas básicas. E há o problema constante de falta de energia. Ficamos às vezes algumas horas do dia sem energia, sem internet”, contou.

“Ninguém está satisfeito com o governo. Mudou o governo, mas ninguém fez um plano novo para o Líbano sair dessa crise. Não confiamos muito nas explicações que estão dando”, acrescentou a brasileira, que questiona: “a população se pergunta se deve ficar nesse país. Vou continuar vivendo no Líbano? E, se algo acontecer, como será possível sair?”

CNN Brasil