Centrão puxou o tapete de general secretário de Bolsonaro

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Foto: Jorge William / Agência O Globo

A recente aproximação entre Jair Bolsonaro e caciques de partidos do centrão provocou um esvaziamento do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, segundo a avaliação de parlamentares. Como o presidente cortou intermediários na articulação política, tarefa de Ramos, o general que acaba de entrar para a reserva do Exército não detém mais a responsabilidade de administrar todas as demandas de políticos por cargos e verbas.

Bolsonaro hoje mantém relação próxima com Gilberto Kassab, presidente do PSD, e Ciro Nogueira, dirigente do PP, e já aceita conversar diretamente sobre as condições para que suas iniciativas andem no Congresso Nacional, atribuição que antes era delegada a Ramos.

Com a diminuição de relevância, também cessaram as reclamações de lideranças da Câmara e do Senado em relação a acordos que não seriam cumpridos pelo ministro. Queixas desse tipo eram constantes desde que ele assumiu o cargo, na metade do ano passado.

Segundo lideranças do Congresso ouvidas pelo GLOBO, o ministro é visto agora como alguém para atender o “baixo clero” em demandas por cargos de pouca importância, ou para administrar a distribuição de recursos para prefeituras da base eleitoral de deputados ou senadores em troca de apoio em votações.

Procurado pela reportagem, o ministro não se manifestou.

O esvaziamento das funções de Ramos também arrefeceu a pressão do Congresso por sua substituição. A relação mais pacífica coincide com o momento em que Bolsonaro “profissionalizou” sua articulação política, substituindo o inexperiente Major Vitor Hugo (PSL-GO) como líder de governo na Câmara por Ricardo Barros (PP-PR), ex-ministro de Michel Temer (MDB).

Ramos e Vitor Hugo, inclusive, se desentenderam algumas vezes em votações, sendo comuns situações em que o líder costurava um acordo de uma determinada maneira, e o chefe da Secretaria de Governo, de outra.

Na despedida do deputado da liderança, o ministro fez questão de agradecê-lo publicamente nas redes sociais pela “parceria no trabalho”, mas o deputado não o citou.

Interlocutores de Ramos destacam que o ministro tem relação próxima com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Na quinta-feira, quando a maioria da Casa manteve o veto presidencial que congelou salários de servidores, Maia se envolveu diretamente na articulação que levou ao resultado, após a derrota do governo no Senado. Na sexta, o presidente da Câmara disse que confia em Ramos e que a articulação política do governo melhorou com ele. Antes do general, a tarefa era de Onyx Lorenzoni, hoje titular da Cidadania, com quem Maia não teve relação.

Na véspera daquele que foi o primeiro grande teste de Ricardo Barros como líder, Ramos foi ao Twitter dizer que confiava na responsabilidade dos deputados para manter o veto. Com a vitória assegurada, o ministro fez questão de parabenizar os 316 deputados que votaram a favor do governo.

O Globo