Deputado acusa PSDB de “operação suicida”

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Foto: Thiago Lontra

Vice-governador do Rio na gestão Marcello Alencar nos anos 90, e deputado estadual no quinto mandato consecutivo, Luiz Paulo Corrêa da Rocha está de saída do PSDB, como revelou o colunista do GLOBO Lauro Jardim na segunda-feira. Líder do partido na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Luiz Paulo aguarda a homologação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de seu pedido de desfiliação por “mudança reiterada de programa partidário”, atribuída à cúpula nacional do PSDB e ao governador de São Paulo, João Doria.

A Justiça Eleitoral, que já havia dado sinal verde à desfiliação por justa casa em novembro passado, recebeu nesta semana uma manifestação de desistência do partido, abrindo caminho para a saída do deputado sem perda de mandato.

Em entrevista ao GLOBO, o Luiz Paulo criticou a intervenção do grupo de Doria no diretório estadual do PSDB, hoje comandado pelo empresário Paulo Marinho, pré-candidato à prefeitura do Rio. Para o deputado, Doria conduziu o PSDB a uma “operação suicida” ao tentar fazer do partido o herdeiro do bolsonarismo no Rio.

O governador João Doria apoiou Bolsonaro em 2018, mas depois rompeu com o presidente. Em que posição isso deixa o PSDB para as eleições municipais deste ano?

Quando o PSDB abraçou esse conceito do bolsonarismo, ele fez uma operação suicida. Por que esse eleitorado bolsonarista trocaria o Bolsonaro pelo Doria, ou pelo candidato do PSDB no Rio, em vez de votar em candidatos que o Bolsonaro por acaso venha a apoiar? Se você tem o original, por que vai votar na cópia? Quanto a mim, estou do lado oposto tanto do original quanto da cópia. Quero distância dessas concepções bolsonaristas, sou opositor a elas.

Mas a onda Bolsonaro ainda será um fator importante nesta eleição?

Acredito que o próprio Bolsonaro não vá se empenhar muito nesta eleição, por não ter partido. Esta eleição é dificílima, estamos em plena pandemia com prefeituras quebradas, salvo raras exceções. Acho que o eleitor vai procurar mais por um gestor e menos por aspectos ideológicos. Além disso, o fenômeno Bolsonaro elegeu o governador do Rio, e olha no que deu. Mesmo antes de sentar na cadeira do Palácio Guanabara, já era candidato à presidência. Não podia dar certo. A pandemia também maculou muito a imagem do governador, com as denúncias na área da Saúde. Isso tem seu impacto no eleitor.

A Justiça Eleitoral entendeu, ao aceitar seu pedido de desfiliação, que houve em maio de 2019 uma interferência indevida de Doria no diretório estadual, presidido à época pelo prefeito de Mesquita, Jorge Miranda, que estava ao seu lado. O próprio Miranda, hoje no PL, também passou a buscar apoio da família Bolsonaro… É um sintoma da perda de identidade do PSDB?

A intervenção é a culminância do meu pedido de desfiliação por desvio do programa partidário, mas não é a questão central para mim. Em 2018, Doria apoiou o Bolsonaro e não o (ex-governador de São Paulo, Geraldo) Alckmin. Depois, Doria começou a falar para a imprensa de um “novo PSDB” sem consultar ninguém do partido aqui no Rio. Com base nisso, entrei com justificação para sair sem perda de mandato. Ao colocar o Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro, como presidente do diretório no Rio, sinalizou que o partido se aproximaria das teses direitistas e conservadoras do PSL. Eu me filiei há 27 anos no partido da social-democracia. Não aceito autoritarismo.

A direção estadual do PSDB lhe comunicou que desistiria do recurso contra sua desfiliação, o que ocorreu na segunda-feira?

Até nisso o partido trocou os pés pelas mãos. Comunicaram o TSE que estavam desistindo do recurso e automaticamente me desfiliando, e para isso entregaram uma guia de desfiliação na Alerj para dizer que eu não falo mais em nome do partido. Só que essa guia não vale nada, porque eu só posso pedir efetivamente a desfiliação quando o TSE homologar a minha justificação. Eu nem queria que eles desistissem do recurso, queria ir até o fim nos trâmites judiciais. Mas também não tenho pressa.

Há uma debandada hoje no PSDB do Rio?

A vereadora Teresa Bergher saiu para o Cidadania, que é um partido com o qual eu também estou conversando. Os outros dois vereadores do PSDB também saíram (Felipe Michel e Professor Adalmir, ambos agora no PP). Sem mim, há dois deputados estaduais ainda no PSDB, mas a deputada Lucinha também deve sair. Eu tenho dito que o PSDB abraçou um projeto “zero a zero” no Rio: zero prefeito, zero vereador. É um partido que não faz convenção, em que tudo muda a toda a hora de acordo com a vontade do dono do partido. Isso não inspira confiança.

Com as divisões que existem hoje entre partidos na Alerj, e que deve ser acentuada pelas eleições municipais, há clima para impeachment do governador?

Primeiro ainda temos que votar o afastamento. Mas acho que há clima, sim. Tanto que o governador vem tentando barrar judicialmente. Apesar de haver discussões ideológicas por vezes muito extremadas na Alerj, os colegas têm debatido muito as questões do Rio, especialmente o regime de recuperação fiscal e a retomada econômica.

O Globo