Estudo aponta semelhanças entre Trump e Bolsonaro

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Foto: Reprodução

Autor da expressão “recessão democrática”, fenômeno que identifica como tendo se pronunciado em vários países a partir de 2006, o cientista político Larry Diamond, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está entre as “personalidades autoritárias” da política mundial, assim como o presidente americano Donald Trump. Em sua opinião, os dois se assemelham em “seus valores, no estilo, na retórica que tem implicações racistas, na glorificação de líderes autoritários de outros lugares ou na exaltação do passado marcado por algumas coisas horrorosas”, disse, numa referência à defesa da tortura durante a ditadura militar, feita por Bolsonaro. Diamond participou ontem do webinário promovido pela Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) e pela Fundação Fernando Henrique Cardoso (FFHC), sobre o tema “O desafio de revitalizar a democracia enquanto ainda é tempo”.

Para o pesquisador e professor, que já organizou ou co-editou mais de 40 livros sobre democracia, Bolsonaro teria barreiras maiores que as de Trump para levar à frente ambições autoritárias, dada a fragmentação partidária do Congresso Nacional. Em contraste, o risco do líder norte-americano para a democracia em seu país tornou-se muito maior ao conquistar o Partido Republicano, num sistema bipartidário. “De certa forma, Bolsonaro tem um obstáculo mais grave aqui e talvez esteja mais fraco. Trump assumiu o controle de um grande partido político e realmente o transformou. Bolsonaro não tem um partido principal, pegou algum apoio de outras legendas, mas não conta com posição de apoio político muito grande nesse sentido”, afirmou.

Diamond classificou como “chocante e muito triste” o fenômeno da tomada do Partido Republicano por Trump, a ponto de levar importantes correligionários a declararem apoio à candidatura do adversário Joe Biden na corrida presidencial deste ano. A convenção que oficializou a chapa do Partido Democrata, realizada de forma virtual na segunda-feira, contou até com a presença do ex-governador de Ohio, John Kasich, derrotado por Trump nas primárias republicanas, em 2016.

Larry Diamond disse que ficaria com medo do futuro da democracia brasileira, e de seu desaparecimento, se “as instituições democráticas fossem tão fracas no Brasil como se tornaram na Venezuela ou na Turquia ou conforme são, com certeza, na Rússia”. O que não é o caso, ponderou. Mas argumentou que a sociedade precisa estar sempre vigilante. “Enquanto você tem líderes no poder, especialmente nos sistemas presidencialistas, que não têm compromissos com valores democráticos e não têm um compasso moral, você tem um problema, um perigo constante”, disse, no webinário, que contou com a participação dos diretores da Fundação FHC, Sérgio Fausto, e da Raps, Mônica Sodré.

Diamond apresentou gráficos que mostram a queda da presença de regimes democráticos, com inflexão sobretudo a partir de 2006, de acordo com dados da Freedom House. O cientista político destacou ainda uma lista de causas para a crise; uma relação das características comuns do populismo iliberal em diferentes países; as principais táticas utilizadas para minar a democracia (o que denomina de “O programa de 12 passos do autocrata”); e sete maneiras de se combater o autoritarismo, como o de “transcender”, e não reforçar, o instinto populista de polarizar o debate.

Valor Econômico